Inspirado em Luke Skywalker, peruano cria próteses futurísticas e baratas
Foi Luke Skywalker quem inspirou os rumos da vida de Enzo Romero. Aos sete anos, o peruano se chocou ao ver o personagem de "Star Wars" perder a mão e ficou ainda mais embasbacado ao vê-lo ganhar uma nova que podia mexer e sentir, a mesma mão direita que Romero havia nascido sem.
"Daquele momento em diante, só tinha um propósito em mente: ter uma prótese como a de Luke Skywalker. Esse sonho me levou a estudar engenharia mecatrônica", disse Romero numa apresentação do TED, exibindo sua mão biônica azul, "hecha en Peru", desenhada e produzida em sua terra natal.
Romero criou a empresa LAT Bionics em 2019 para fabricar próteses de última geração a baixo custo para a população local. Enquanto uma importada da Suíça custa US$ 25 mil (R$ 123 mil), Romero e sua equipe conseguem produzir uma similar, com menos motores de movimentos, por apenas US$ 2 mil (R$ 10 mil).
"Esse preço ainda é muito caro para o nosso povo, estamos num país em desenvolvimento e lidando com pessoas em extrema pobreza", disse Romero a Ecoa. "Fazemos pagamento em prestações sem juros e assim que temos a prótese em mãos, o usuário já pode usá-la. É a única forma de ele poder voltar a trabalhar."
A LAT Bionics tem dois tipos de próteses. A manual custa cerca de R$ 5 mil e se mexe com movimentos do pulso, cotovelo e ombros, dependendo do tipo de amputação. Já a prótese mioelétrica, de R$ 10 mil, se move com pensamentos, faz três movimentos e tem um dedo sensível ao toque.
A mão futurística usa sensores localizados no antebraço do usuário, na parte mais próxima possível da amputação, para identificar sinais que o cérebro envia aos músculos.
"Com um arranjo de muitos desses tipos de sensores, você pode capturar diferentes tipos de gestos e até mesmo identificar qual dedo quer mover", explicou à reportagem. "Há um sensor de força em uma das pontas dos dedos, então a pressão em qualquer tipo de superfície cria uma vibração que varia conforme a intensidade."
As próteses são fabricadas com ajuda de impressoras 3D, cujos filamentos podem vir de garrafas recicladas de refrigerante. Para fazer a prótese de Romero, foram necessárias 80 garrafas. "Adoraríamos fazer uma parceria com a Inca Kola, por exemplo", disse, sobre a famosa marca de refrigerante peruana. "Hoje, nós mesmos reciclamos."
Alianças pela América Latina
Segundo a Organização das Nações Unidas, quatro em cada cinco pessoas com amputação de membros superiores vivem em países em desenvolvimento, cerca de 2,4 milhões.
No momento, há 20 usuários no Peru com as próteses da LAT Bionics e mais de 100 na fila de espera. Cada vez que a empresa de Romero, que conta com apenas sete funcionários, posta imagens no Instagram ou TikTok, recebe uma onda de gente interessada.
"Primeiro, as pessoas acham que é fraude, não acreditam que esse tipo de tecnologia está sendo desenvolvida no Peru. Então a gente explica, eles ficam felizes e já começam a fazer planos para nos visitar", disse Romero, explicando que tem clientes na Argentina e Chile.
"Sei que há diferentes empresas na América Latina fazendo isso, com certeza tem no Brasil, mas são esforços individuais. Agora que passei por essa experiência no TED, que vi o poder da conexão, quero estabelecer uma rede de alianças na região."
"Se aparecer alguém interessado que está mais próximo do Equador ou Colômbia, vou sugerir que procurem essas outras empresas em vez de fazer uma viagem cara ao Peru", disse. "Também podemos desenvolver parcerias com universidades que tenham impressoras e scanners 3D."
Sensação transformadora
No Instagram, é possível acompanhar a história de alguns usuários, como Sandra, que voltou a costurar com a sua prótese personalizada, e Alex, que reaprendeu a fazer nós com a nova mão mecânica, além de conseguir escovar os dentes e preparar saladas de frutas.
"Manejo melhor minha prótese porque cada vez sinto como se fosse minha própria mão", diz o usuário Steven na rede social da empresa, na sua última sessão de treinamento, jogando uma partida de damas com um engenheiro do laboratório.
Para Romero, que nasceu em Cusco e perdeu a conta de quantas vezes visitou Machu Picchu, a sensação de ver alguém testando uma prótese pela primeira vez é sempre transformadora.
"Toda vez reconheço o mesmo sentimento em seus olhares. 'Está mexendo!'. É como um brinquedo novo que você não quer desgrudar", disse.
"É aquele espanto, o mesmo que eu tive quando vi a prótese de Luke Skywalker. Começou com um sonho pessoal, mas agora é de toda a minha região."
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