Acampamento musical estimula protagonismo entre meninas de SP, RS e PR
Foi em Portland, nos Estados Unidos, que a socióloga e guitarrista Flávia Biggs, de 42 anos, conheceu o Girls Rock Camp. O ano era 2003 e a proposta do evento — um acampamento voltado ao empoderamento de meninas, mulheres cis e pessoas trans e não binárias por meio da música, arte e pensamento crítico — conquistou Flávia de imediato. Anos depois, quando retornou ao Brasil, ela não pensou duas vezes em implementar a iniciativa no país.
Começou pela cidade onde vive, Sorocaba, no interior paulista. "Lembro que o evento me tocou muito porque eu me vi naquelas meninas. Comecei a tocar guitarra aos 13 anos e isso me formou enquanto cidadã, mulher. Consegui superar diversas questões minhas", conta.
Neste ano, o Girls Rock Camp completa dez anos de atividades no Brasil, já tendo envolvido mais de 600 meninas. As colônias de férias são anuais e acontecem em Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) e Sorocaba (SP) ao longo de uma semana. O evento recebe inscritas de diversas regiões do país. Todas as pessoas envolvidas na organização são voluntárias e os instrumentos usados são emprestados ou doados.
Para participar, as meninas devem ter entre 7 e 17 anos. Flávia explica que não é necessário conhecimento prévio em música. É durante o próprio acampamento que a maioria das participantes tem o primeiro contato com algum instrumento musical. Elas aprendem não só a tocar, mas também a compor, cantar, formar uma banda e a se apresentar em um show para as famílias, o evento que encerra as atividades.
As campistas participam ainda de oficinas de defesa pessoal, feminismo, confecção de fanzines, identidade e palco. "O objetivo da vivência não é necessariamente formar musicistas, mas interiorizar a ideia de poder acreditar em si mesma independentemente da atividade escolhida, e criar uma comunidade com outras mulheres", define a idealizadora do projeto no Brasil.
Retorno
Flávia comenta que, em dez anos, muitas meninas que participaram do acampamento se mantêm próximas do projeto. A estudante Luísa Barros, 14 anos, por exemplo, participou do primeiro evento há sete anos e não parou mais. Chegou a formar uma banda com amigas que fez durante o camp, e a se aventurar, desde então, pela guitarra, baixo e ukulele. "A cada ano, aprendemos coisas novas. Em um ano, por exemplo, aprendi a andar de skate. Neste ano, a gravar um clipe. É a mesma energia, mas sempre com novidades. Quando não puder mais ir como inscrita, vou ajudar na organização", conta.
A freelancer artística Amanda Butler, 33, também se apaixonou pelo acampamento depois da primeira imersão, em 2018. Ela é uma das 1,2 mil pessoas que já atuaram como voluntárias no projeto e relata que se surpreendeu com as possibilidades de apoio às participantes. Isso porque tinha receio em ser instrutora de baixo, uma função que nunca havia exercido, apesar de tocar o instrumento. "Mas depois vi que podia ensinar o que eu sabia e deu super certo", comenta. Além de também atuar como cerimonialista, ela chegou a participar da realização do Chicas Amplificadas, a versão do acampamento na Argentina. "É muito bom doar nosso tempo e talento para as crianças. Sempre que estou no projeto é como se fosse a primeira vez", diz.
Serviço
Hoje, o Girls Rock Camp conta com um instituto cultural em Sorocaba, onde são oferecidos cursos permanentes à comunidade. Também há um projeto voltado às mães, o Minha Mãe é Rock'n'Roll, e a mulheres com mais de 21 anos, o Ladies Rock Camp Brasil.
A taxa de participação no Girls Rock Camp custa entre R$ 250 e R$ 450. As meninas não pernoitam no local das atividades.
Participantes em situação de vulnerabilidade social podem ser contempladas com bolsas integrais. Mais informações em www.girlsrockcamp.org.
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