Parceria entre a UFRRJ e moradores criará 50 hortas nas lajes da Rocinha
Uma parceria entre pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e moradores da Comunidade da Rocinha implantará 50 hortas urbanas nas lajes da parte alta da comunidade. O trabalho visa produzir alimentos, mel e espécies medicinais, além de possibilitar um modelo sustentável de geração de renda e produção de orgânicos a partir de cogumelos nativos da Mata Atlântica.
Inicialmente, os 50 moradores utilizarão suas próprias lajes para a produção de espécies vegetais e a criação de abelhas sem ferrão, que além de produzir o mel auxiliam no processo de polinização das espécies nativas da floresta.
Quem explica o trabalho a Ecoa é o coordenador do projeto, professor José Lucena Barbosa Júnior, do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFRRJ, que morou com a família na Rocinha por quase 20 anos.
"Em conversas com amigos de infância a gente se perguntou se não haveria a possibilidade de contribuir com a comunidade a partir da minha atuação como coordenador de um programa que tem tudo a ver com grandes desafios da Rocinha: conter a pressão do crescimento da favela sobre a Floresta da Tijuca e a insegurança alimentar de uma parcela de sua população", disse o docente.
A partir dessas conversas, o professor procurou colegas da universidade e deu início ao esboço de uma proposta de reflorestamento e recuperação da borda da Floresta da Tijuca, utilizando o SAF (Sistema Agroflorestal) associado à ideia de processamento e comercialização de alimentos dentro da favela.
Parceria com lideranças comunitárias
Como ex-morador e conhecedor da dinâmica interna da Rocinha, José Lucena acionou lideranças comunitárias e apresentou a ideia a um morador que fazia um trabalho de conscientização ambiental com crianças da comunidade, utilizando hortas em escolas e em uma laje na parte alta da Rocinha.
"O projeto foi nascendo e foi apoiado no edital da Fundação Carlos Chagas de Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, chamado 'favela inteligente'. O projeto se propõe a articular o manejo, produção e processamento de alimentos e outros produtos oriundos da própria comunidade, como estratégia de geração de renda e combate a insegurança alimentar na Rocinha", explica o professor.
Segundo ele, uma área de um hectare, aproximadamente, será reflorestada utilizando a técnica do SAF, com a introdução de espécies vegetais nativas da Mata Atlântica, como ipês, juçara, cambuci, araçá, uvaia e outras sob ameaça de extinção naquele ecossistema.
A participação dos moradores será organizada em uma associação, com vistas à geração de negócios sociais dentro da Rocinha. Além disso e do combate à insegurança alimentar na comunidade, haverá o incentivo a jovens em situação de vulnerabilidade, que serão apresentados a uma alternativa de melhoria de vida dentro do tema da sustentabilidade.
Quanto ao potencial de geração de renda, o docente destaca que a comercialização do mel das abelhas sem ferrão pode possibilitar renda de até R$ 1.500 por mês a cada morador participante. Sem falar no consumo de produtos muito mais saudáveis e nutritivos em suas próprias casas.
"De forma participativa, as hortas serão montadas utilizando materiais de baixo custo. Preferencialmente materiais reciclados na própria favela, e com mão de obra dos próprios moradores em regime de mutirão. Há recursos dentro da proposta aprovada para a montagem de pelo menos 50 lajes produtivas", acrescentou.
Parte dos recursos vem de doações
Os recursos destinados ao projeto cobrem alguns gastos previstos na proposta, mas não cobrem outros que são fundamentais para a sua execução, como o aluguel de uma parte alta da favela que serve de apoio para as ações do projeto, que é pago por uma liderança.
Além disso, conta José Lucena, há gastos com alimentação e deslocamento dos moradores que não podem ser cobertos pelo recurso obtido. Para essas demandas, um dos moradores à frente da comunidade arrecada recursos por meio de doações.
Flávio Ismael Gomes consegue manter toda essa estrutura com doações de terceiros e "bicos" que realiza como eletricista e jardineiro em bairros de classe média próximos da Rocinha. A Ecoa, Flávio conta que os moradores ainda estão se acostumando com o projeto.
" Estou iniciando com um grupo de 26 pessoas. Com essa parceria com a UFRRJ, os outros vão aderir também. A aceitação é boa, mas eles ficam um pouco assustados porque é tudo muito novo. Nós tivemos uma experiência com três hortas e foi muito bacana. Agora é trazer essas 50 hortas e com pouco tempo a gente vai conseguir trabalhar a geração de renda e a qualidade de vida dessas pessoas", avaliou.
Para ajudar nos custos extras dos moradores participantes do projeto, você pode fazer uma doação pelo PIX: 021.507.347-96 (chave-cpf).
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