Fãs de Harry Potter geram crise ambiental no Reino Unido, mas há solução
No meio do caminho da praia de Freshwater West, em Pembrokeshire, no País de Gales, havia uma pedra. Depois, outra, e outra, e outra até que a coisa toda saiu do controle. Hoje, uma enquete da Fundação Nacional para Locais de Interesse Histórico ou Beleza Natural do Reino Unido quer a opinião dos moradores sobre o que fazer com a situação.
As pedras não foram parar lá ao acaso. No local foi filmada a cena da morte do elfo doméstico Dobby, personagem da saga Harry Potter. Como homenagem a ele, fãs cobriram a praia de pedras e meias. Nos filmes baseados nos livros de J.K. Rowling, o elfo é libertado de sua situação de escravidão quando presenteado com uma roupa. Em Harry Potter e a Câmara Secreta, o personagem principal lhe dá uma meia e o liberta.
Para homenagear Dobby, fãs estão deixando meias e pedras pintadas no local. Luciano Frontelle, diretor executivo da Plant-for-the-Planet Brasil e fã de Harry Potter, explica que o acúmulo desses objetos na praia configura um problema ambiental.
"Quando você fala especificamente das meias, a maior parte é feita de fibra de algodão — que, em ambientes totalmente expostos, como é o caso da praia, leva pelo menos entre 6 e 12 meses para se decompor. Mas no caso de meia de fibra sintética, a decomposição pode demorar um século, isso quando se desfaz totalmente. Já as pedras podem contribuir para uma alteração de paisagem e interferir na vida marinha", diz.
Todo mundo quer fazer parte daquela história, mas se todo mundo fizer esquecerá a história dos outros seres que vivem naquele local.
Luciano Frontelle, diretor executivo da Plant-for-the-Planet Brasil e fã de Harry Potter
Não é só culpa de Dobby
Trazendo a história para a realidade brasileira, não há ocupação de praias com homenagens a algum personagem, mas o turismo e a ocupação de áreas costeiras tem afetado a paisagem de diversas áreas do litoral do país.
Um relatório divulgado pelo programa MapBiomas afirmou que o Brasil perdeu 15% de sua superfície de areia de dunas e praias entre 1985 e 2020. O estudo aponta que uma área de 70 mil hectares — o que equivale a 96 mil campos de futebol de padrão Fifa — foi perdida.
"Quando se ocupa e se expande sob a borda das dunas, ou se retira a vegetação original, estamos fragilizando esse ecossistema costeiro e eventualmente acelerando suas modificações", explicou para o UOL César Diniz, do MapBiomas, na época da divulgação da pesquis.
"A ocupação das praias costuma ser listada, junto a outros fatores, como uma das causas que também contribuem para alteração de paisagens a nível local. Some a isso construções e adaptações de vias devido ao aumento de fluxo de visitantes. Para os oceanos de forma geral, me preocupa outros resíduos que os visitantes possam deixar por ali e como tudo isso vai acabar afetando a vida marinha", disse Frontelle com exclusividade para Ecoa.
A forma de agir economicamente deve ser protegendo o ambiente e as comunidades tradicionais. É possível fazer um bom uso da natureza de forma sustentável para que comunidades retirem seu sustento das áreas sem destruí-las.
César Diniz, do MapBiomas para UOL Notícias
Cuidar de outras espécies assim como Dobby fez
Quando criança, Luciano Frontelle gostava de pegar as conchinhas à beira-mar. "Ficava muito feliz quando achava uma mais diferentona. Mas hoje sei que elas têm um propósito, que são importantíssimas para a vida marinha", conta.
As conchas, que já foram as "casas" de outros seres vivos marítimos, auxiliam na nutrição de plantas marinhas após sua decomposição, ajudando, mesmo que indiretamente, a reduzir a quantidade de gás carbônico do planeta. Além disso, servem de abrigo para animais e algas.
Outras medidas podem ser tomadas para que você também possa ajudar a preservar as praias, como usar protetores de origem mineral para não agredir as algas com químicos ou evitar o uso e descarte de plástico quando estiver ali. Ecoa fez um guia de sustentabilidade na praia que você pode conferir clicando aqui.
Já no caso da praia de Freshwater West, a pesquisa realizada pela Fundação Nacional para Locais de Interesse Histórico ou Beleza Natural do Reino Unido coloca como opção retirar não só as pedras e meias do local, mas também o próprio túmulo de Dobby para que os fãs não continuem deixando esses objetos por lá. A enquete fica aberta até o dia 31 de maio.
Acredito que é importante a gente lembrar que o personagem Dobby era de uma espécie diferente do Harry. E ainda assim fez de tudo, mesmo que de um jeito misterioso no começo, para ajudar o Harry e seus amigos. Sinto que é por isso que ele significa tanto para nós, fãs. Nesse sentido, meu conselho é o de também nos preocuparmos com outras espécies na hora de fazer uma homenagem. Faça sua homenagem da forma mais criativa que puder, mas tente lembrar que nessa e em qualquer outra praia, nós somos visitas na casa de muitos outros seres.
Luciano Frontelle, diretor executivo da Plant-for-the-Planet Brasil e fã de Harry Potter.
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