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ONG quer ajudar brasileiro a ser mais politizado e já formou 73 mil pessoas

Luiza Wosgrau, gestora de comunicação do Politize!, em evento da entidade - Divulgação
Luiza Wosgrau, gestora de comunicação do Politize!, em evento da entidade Imagem: Divulgação

Lílian Beraldo

Colaboração para Ecoa, de Brasília (DF)

31/05/2022 06h00

Levar educação política para a população brasileira é o objetivo do Politize!, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que teve início, em 2015, como um portal de conteúdos sobre democracia e participação cidadã.

O embrião da iniciativa surgiu antes, em 2013, "como uma ideia", afirma a gestora de comunicação da entidade, Luiza Wosgrau, logo após as manifestações daquele ano. "Muitas das pessoas que estavam lá não sabiam muito bem o que elas estavam reivindicando. Por que essas manifestações estavam acontecendo? A gente percebeu que realmente o que tem de mais democrático no Brasil é o despreparo para a democracia", reforça Luiza.

Atualmente, o portal reúne 2,7 mil conteúdos nos mais diversos formatos -texto, webinário, vídeo, infográfico- e os interessados podem fazer cursos online e ter acesso a informações que garantam uma participação efetiva na vida pública e cidadã. Mais de 60 milhões de usuários únicos acessaram esses conteúdos pela internet. Em formações presenciais, foram mais de 73 mil pessoas alcançadas até hoje.

"De acordo com o Democracy Index (pesquisa feita pela revista The Economist), o Brasil tem uma democracia falha. Há falta de participação política pela população e de cultura política no país. Pensando nisso, a gente surgiu com uma ideia de levar educação política para a população brasileira para fortalecer a democracia, ou seja, entregar para as pessoas as ferramentas necessárias para que elas consigam participar da democracia."

Protagonismo comunitário

Para ampliar o escopo da entidade e entendendo que a democracia precisa de líderes engajados e protagonistas em seus próprios territórios, o Politize! lançou, em 2018, um programa de Embaixadores com o intuito de ajudar a formar lideranças cidadãs capazes de propor soluções e assumir papéis de destaque em suas cidades ou organizações. São três etapas: multiplicador, embaixador e líder.

Na primeira delas, o jovem ou interessado passa por uma formação de cinco meses em que, além dos princípios da democracia, aprende sobre a importância de políticas públicas, as atribuições do presidente, governador e prefeito, diálogo e empatia cidadã. Também nessa fase, eles são desafiados a compartilhar com suas comunidades tudo o que aprenderam por meio de ações e oficinas, democratizando o acesso ao conhecimento político.

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Encontro do Politize!, organização da sociedade civil sem fins lucrativos que teve início em 2015
Imagem: Divulgação

As pessoas que passam por essa formação podem ir para uma segunda etapa do programa como embaixadores —quando servem de mentoras para os multiplicadores do próximo ano e aprendem também vertentes empreendedoras. Nessa fase, as pessoas são convidadas a ingressar em uma embaixada Politize ou criar uma embaixada em municípios que ainda não tenham esses núcleos.

O objetivo é que esses polos -que não têm sede, são formados apenas pela rede de voluntários- fomentem a participação de cidadão naquela localidade para que compreendam os projetos de lei, participem de audiências públicas e exerçam a democracia de forma plena naquele espaço.

"Querendo ou não você tem que manter uma embaixada de pé, você tem que fazer uma gestão daquelas pessoas. Então, o embaixador começa também a ter esse senso de comunidade e de gestão", explica Luiza. "Se a pessoa não quiser fundar uma embaixada, a gente fica contente também porque ela passou por uma formação sobre democracia, então, o nosso trabalho já foi feito de certa forma."

Atualmente, o Politize! tem 85 embaixadas administradas por voluntários.

A terceira e última etapa do programa é a de líderes. O Politize! entende esse núcleo como o de pessoas mais maduras que conseguem propor possíveis políticas públicas a serem desenvolvidas e transformadas em projetos de lei, ou ainda aquelas que conseguem ajudar interessados a criar outra organização ou a fundar um cursinho popular em sua comunidade, por exemplo.

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Luiza Wosgrau: 'A gente percebeu que realmente o que tem de mais democrático no Brasil é o despreparo para a democracia'
Imagem: Divulgação

Estímulo ao diálogo

Além de compreender conceitos da política institucional, como criação de leis, orçamento público e correntes de pensamento, a formação leva os cidadãos a aprenderem a dialogar com pessoas de diferentes visões políticas por meio da comunicação não violenta, conhecerem os principais desafios da sua cidade, aprenderem ferramentas de participação política e implementarem soluções aos desafios do seu município.

"O programa Embaixadores Politize é o nosso grande ativo. Já alcançamos, com as nossas ações, mais de 13 mil pessoas. São muitos impactados no meio do caminho", afirma Luiza. Atualmente, o Politize! conta com 3 mil multiplicadores ativos, 412 embaixadores e 48 líderes.

Fazer a diferença

Um desses líderes é o estudante de relações internacionais Bryan Leonardo Nery, 22 anos, também fundador da embaixada Rio-Niterói. A história de Bryan com o Politize! começou em 2016, quando ele se preparava para prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e encontrou, na internet, um conteúdo feito pela entidade. Ele passou a ter o Politize! como uma referência bibliográfica, além de seguir as redes sociais e conferir as novidades no portal de conteúdo.

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O estudante de relações internacionais Bryan Leonardo Nery, 22 anos, é um dos membros do Politize!
Imagem: Divulgação

Foi apenas em 2019 que, atraído pelas chamadas para participar do Embaixador Politize e depois de um ano de muito envolvimento com a política por causa das eleições de 2018, Bryan se filiou à entidade.

"Foi um ano incrível pra mim, em que aprendi muito, saí da minha zona de conforto, furei minha bolha social e conheci uma nova realidade", afirma Bryan.

Desenvolvendo atividades e workshops dentro das comunidades e favelas do Rio de Janeiro, ele conheceu a realidade do cidadão brasileiro que têm os seus direitos negados pelo Estado. "Pude perceber, nas vivências, como era difícil para algumas pessoas ter acesso ao básico, ao direito à informação, por exemplo. Isso me impactou muito e só provou para mim que eu precisava cada vez mais estar dentro de atividades que geram algum tipo de impacto positivo na sociedade."

No ano seguinte, ele e outros amigos da rede fundaram a Embaixada Rio-Niterói em que Bryan atuou como gerente de comunicação, fazendo o engajamento dos voluntários e cuidando da curadoria e da produção de conteúdo para redes sociais do polo. No local, Bryan também atuou como mobilizador.

O convite para que ele se tornasse um líder da entidade veio este ano e foi apenas a coroação de um trabalho que ele já vinha exercendo. "A rede de líderes é o espaço em que as pessoas estão juntas pensando e cocriando soluções para os problemas públicos. E é isso o que eu quero: colocar na prática tudo o que eu aprendi nos últimos anos com as vivências que eu tive no Rio de Janeiro. E eu estou muito ansioso para começar a implementar soluções para a nossa sociedade."

Política e cidadania nas escolas

O mais novo eixo de trabalho do Politize! foi criado em 2020 com o intuito de ser o de maior impacto em alta escala. O projeto Escola da Cidadania Ativa busca, por meio de acordos e de parcerias com as Secretarias de Educação dos estados, implementar a educação para cidadania na educação básica de escolas públicas —atualmente, há acordos firmados com São Paulo, Bahia, Amazonas, Acre, Roraima e Sergipe.

A entidade oferece planos de aulas para ajudar os professores a falar sobre temas como alfabetização midiática, imprensa e jornalismo, sustentabilidade, direito e justiça e diálogo. Os materiais têm como foco estudantes do 1º ao 3º ano do ensino médio.

Diferentemente de mim e dos meus colegas aqui do Politize!, que saímos da escola sem compreender como funciona o nosso sistema, como é uma democracia, o que faz o prefeito da minha cidade, a nova geração vai poder ser formada com esses conhecimentos para pode exigir seus direitos, exercer os seus deveres e contribuir, dentro do seu espaço, para um futuro melhor

Luiza Wosgrau, gestora de comunicação do Politize!

Para estimular o protagonismo dentro de sala de aula, a entidade tem ainda o Liderança Ativa, uma formação de 30 horas para representantes de turma. O curso traz os conceitos de gestão democrática, comunicação não violenta e conhecimentos sobre o sistema educacional, de forma que os estudantes possam melhor desempenhar o papel pelo qual foram escolhidos democraticamente dentro da escola.

Para 2022, já há 1,8 mil inscrições para o Liderança Ativa no estado do Amazonas. A expectativa é, no final de maio, abrir inscrições no estado do Acre.