ONG quer ajudar brasileiro a ser mais politizado e já formou 73 mil pessoas
Levar educação política para a população brasileira é o objetivo do Politize!, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que teve início, em 2015, como um portal de conteúdos sobre democracia e participação cidadã.
O embrião da iniciativa surgiu antes, em 2013, "como uma ideia", afirma a gestora de comunicação da entidade, Luiza Wosgrau, logo após as manifestações daquele ano. "Muitas das pessoas que estavam lá não sabiam muito bem o que elas estavam reivindicando. Por que essas manifestações estavam acontecendo? A gente percebeu que realmente o que tem de mais democrático no Brasil é o despreparo para a democracia", reforça Luiza.
Atualmente, o portal reúne 2,7 mil conteúdos nos mais diversos formatos -texto, webinário, vídeo, infográfico- e os interessados podem fazer cursos online e ter acesso a informações que garantam uma participação efetiva na vida pública e cidadã. Mais de 60 milhões de usuários únicos acessaram esses conteúdos pela internet. Em formações presenciais, foram mais de 73 mil pessoas alcançadas até hoje.
"De acordo com o Democracy Index (pesquisa feita pela revista The Economist), o Brasil tem uma democracia falha. Há falta de participação política pela população e de cultura política no país. Pensando nisso, a gente surgiu com uma ideia de levar educação política para a população brasileira para fortalecer a democracia, ou seja, entregar para as pessoas as ferramentas necessárias para que elas consigam participar da democracia."
Protagonismo comunitário
Para ampliar o escopo da entidade e entendendo que a democracia precisa de líderes engajados e protagonistas em seus próprios territórios, o Politize! lançou, em 2018, um programa de Embaixadores com o intuito de ajudar a formar lideranças cidadãs capazes de propor soluções e assumir papéis de destaque em suas cidades ou organizações. São três etapas: multiplicador, embaixador e líder.
Na primeira delas, o jovem ou interessado passa por uma formação de cinco meses em que, além dos princípios da democracia, aprende sobre a importância de políticas públicas, as atribuições do presidente, governador e prefeito, diálogo e empatia cidadã. Também nessa fase, eles são desafiados a compartilhar com suas comunidades tudo o que aprenderam por meio de ações e oficinas, democratizando o acesso ao conhecimento político.
As pessoas que passam por essa formação podem ir para uma segunda etapa do programa como embaixadores —quando servem de mentoras para os multiplicadores do próximo ano e aprendem também vertentes empreendedoras. Nessa fase, as pessoas são convidadas a ingressar em uma embaixada Politize ou criar uma embaixada em municípios que ainda não tenham esses núcleos.
O objetivo é que esses polos -que não têm sede, são formados apenas pela rede de voluntários- fomentem a participação de cidadão naquela localidade para que compreendam os projetos de lei, participem de audiências públicas e exerçam a democracia de forma plena naquele espaço.
"Querendo ou não você tem que manter uma embaixada de pé, você tem que fazer uma gestão daquelas pessoas. Então, o embaixador começa também a ter esse senso de comunidade e de gestão", explica Luiza. "Se a pessoa não quiser fundar uma embaixada, a gente fica contente também porque ela passou por uma formação sobre democracia, então, o nosso trabalho já foi feito de certa forma."
Atualmente, o Politize! tem 85 embaixadas administradas por voluntários.
A terceira e última etapa do programa é a de líderes. O Politize! entende esse núcleo como o de pessoas mais maduras que conseguem propor possíveis políticas públicas a serem desenvolvidas e transformadas em projetos de lei, ou ainda aquelas que conseguem ajudar interessados a criar outra organização ou a fundar um cursinho popular em sua comunidade, por exemplo.
Estímulo ao diálogo
Além de compreender conceitos da política institucional, como criação de leis, orçamento público e correntes de pensamento, a formação leva os cidadãos a aprenderem a dialogar com pessoas de diferentes visões políticas por meio da comunicação não violenta, conhecerem os principais desafios da sua cidade, aprenderem ferramentas de participação política e implementarem soluções aos desafios do seu município.
"O programa Embaixadores Politize é o nosso grande ativo. Já alcançamos, com as nossas ações, mais de 13 mil pessoas. São muitos impactados no meio do caminho", afirma Luiza. Atualmente, o Politize! conta com 3 mil multiplicadores ativos, 412 embaixadores e 48 líderes.
Fazer a diferença
Um desses líderes é o estudante de relações internacionais Bryan Leonardo Nery, 22 anos, também fundador da embaixada Rio-Niterói. A história de Bryan com o Politize! começou em 2016, quando ele se preparava para prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e encontrou, na internet, um conteúdo feito pela entidade. Ele passou a ter o Politize! como uma referência bibliográfica, além de seguir as redes sociais e conferir as novidades no portal de conteúdo.
Foi apenas em 2019 que, atraído pelas chamadas para participar do Embaixador Politize e depois de um ano de muito envolvimento com a política por causa das eleições de 2018, Bryan se filiou à entidade.
"Foi um ano incrível pra mim, em que aprendi muito, saí da minha zona de conforto, furei minha bolha social e conheci uma nova realidade", afirma Bryan.
Desenvolvendo atividades e workshops dentro das comunidades e favelas do Rio de Janeiro, ele conheceu a realidade do cidadão brasileiro que têm os seus direitos negados pelo Estado. "Pude perceber, nas vivências, como era difícil para algumas pessoas ter acesso ao básico, ao direito à informação, por exemplo. Isso me impactou muito e só provou para mim que eu precisava cada vez mais estar dentro de atividades que geram algum tipo de impacto positivo na sociedade."
No ano seguinte, ele e outros amigos da rede fundaram a Embaixada Rio-Niterói em que Bryan atuou como gerente de comunicação, fazendo o engajamento dos voluntários e cuidando da curadoria e da produção de conteúdo para redes sociais do polo. No local, Bryan também atuou como mobilizador.
O convite para que ele se tornasse um líder da entidade veio este ano e foi apenas a coroação de um trabalho que ele já vinha exercendo. "A rede de líderes é o espaço em que as pessoas estão juntas pensando e cocriando soluções para os problemas públicos. E é isso o que eu quero: colocar na prática tudo o que eu aprendi nos últimos anos com as vivências que eu tive no Rio de Janeiro. E eu estou muito ansioso para começar a implementar soluções para a nossa sociedade."
Política e cidadania nas escolas
O mais novo eixo de trabalho do Politize! foi criado em 2020 com o intuito de ser o de maior impacto em alta escala. O projeto Escola da Cidadania Ativa busca, por meio de acordos e de parcerias com as Secretarias de Educação dos estados, implementar a educação para cidadania na educação básica de escolas públicas —atualmente, há acordos firmados com São Paulo, Bahia, Amazonas, Acre, Roraima e Sergipe.
A entidade oferece planos de aulas para ajudar os professores a falar sobre temas como alfabetização midiática, imprensa e jornalismo, sustentabilidade, direito e justiça e diálogo. Os materiais têm como foco estudantes do 1º ao 3º ano do ensino médio.
Diferentemente de mim e dos meus colegas aqui do Politize!, que saímos da escola sem compreender como funciona o nosso sistema, como é uma democracia, o que faz o prefeito da minha cidade, a nova geração vai poder ser formada com esses conhecimentos para pode exigir seus direitos, exercer os seus deveres e contribuir, dentro do seu espaço, para um futuro melhor
Luiza Wosgrau, gestora de comunicação do Politize!
Para estimular o protagonismo dentro de sala de aula, a entidade tem ainda o Liderança Ativa, uma formação de 30 horas para representantes de turma. O curso traz os conceitos de gestão democrática, comunicação não violenta e conhecimentos sobre o sistema educacional, de forma que os estudantes possam melhor desempenhar o papel pelo qual foram escolhidos democraticamente dentro da escola.
Para 2022, já há 1,8 mil inscrições para o Liderança Ativa no estado do Amazonas. A expectativa é, no final de maio, abrir inscrições no estado do Acre.
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