SP: Historiadora chilena tira do próprio bolso para levar balé à periferia
A jovem Luana Melinka Cárcamo Aranda, 22, se mudou de Santiago do Chile para São Paulo quando tinha 6 anos. Na nova cidade, passou a ter aulas de jazz e balé em uma associação em que a avó era voluntária. De lá pra cá, o amor pela dança também nutriu um desejo de transformação no bairro onde mora: há cerca de um ano, ela criou a Cia de Dança Livre de Cultura no Jardim São Luís, distrito da periferia da zona sul de São Paulo (SP).
A iniciativa surgiu em plena pandemia de covid-19, enquanto Luana concluía a graduação em História na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). "Estava na maior correria, terminando a faculdade. Tinha sido desligada do meu emprego e achei que era o momento de montar algo meu, mas não queria uma escola convencional. Eu sou cantora, faço grafite, sou skatista, danço, e queria algo que refletisse isso tudo", explica.
Há um ano na ativa, a iniciativa atende cerca de 70 crianças de 3 a 13 anos em um galpão na região. O ambiente foi se estruturando aos poucos e com a ajuda de voluntários. O aluguel é pago pela própria Luana, que leciona em uma escola particular, e por meio da arrecadação de uma contribuição feita com os alunos. As aulas têm um valor simbólico, mas cada um contribui com o que pode. "Todos ajudam para suprir as necessidades materiais, seja com um papel higiênico, um suco ou um lanche", conta Luana.
"O balé exige uma estrutura, um espelho, uma barra. A compreensão dos responsáveis é primordial, porque tem vezes que não tem água, tem vezes que tem goteiras. Penso: 'poxa, onde elas vão fazer balé? Em qual escola elas vão? Como elas vão?'. Às vezes, uma aula aqui impede que elas estejam na rua".
Luana Melinka, 22, professora de balé
Como muitos pais e responsáveis pelas crianças trabalham o dia inteiro e não têm condições de levá-las até o local das aulas, Luana também organiza um ponto de encontro comum à maioria delas para que possam ir juntas. De lá, vão caminhando por cerca de 25 minutos até chegarem ao galpão.
"Esse momento que passamos juntos no trajeto é muito rico também, pois vamos conversando. As crianças menores gostam de ver as vitrines, falar sobre as roupas que gostam, as que não gostam. Já as maiores me contam o que aconteceu na escola, pedem conselhos, buscam um conforto", diz.
Para Thais Cassiano, mãe da aluna Gabriele, de 10 anos, o trabalho tem feito a diferença na vida da filha, e vai muito além da dança. "Se não fosse ela, não sei o que nossos filhos estariam fazendo agora, por exemplo", diz.
Com uma população de 293 mil habitantes, o distrito do Jardim São Luiz tem um aparelho público cultural como museu, cinema ou teatro para cada 100 mil habitantes, segundo dados do Mapa da Desigualdade 2021 da Rede Nossa São Paulo. As opções culturais são restritas, por isso, os poucos espaços independentes, como o de Luana, exercem um papel importante para crianças e adolescentes.
"Já na primeira aula o local ficou cheio. E, na sequência, comecei a dar aulas também nas Associações Monte Azul e Santa Cecília. Assim, o trabalho está alcançando cada vez mais crianças", conta Luana.
Quem quiser apoiar o projeto pode entrar em contato com a Luana pelo Instagram: https://www.instagram.com/_melinkamc/.
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