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Jovem cria delivery para garantir entregas a quem mora na periferia

Iago Santos e Ana Luiza Sena criaram o Traz Favela em 2018 em Salvador (BA) - Milena Palladino/ Divulgação
Iago Santos e Ana Luiza Sena criaram o Traz Favela em 2018 em Salvador (BA) Imagem: Milena Palladino/ Divulgação

Carmen Lúcia

Colaboração para Ecoa, do Rio de Janeiro

03/06/2022 06h00

Segundo uma pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de cinco milhões de casas estão localizadas em favelas espalhadas por todo o país. A cidade de Salvador (BA), por exemplo, tem 41,8% das moradias em comunidades. E uma das grandes dificuldades dos moradores desses locais é receber suas entregas e encomendas.

A jornalista Luciana Amâncio, 33 anos, viveu isso na pele. "Já aconteceu comigo de a entrega ser feita de forma muito atrasada e de ser enviada sem eu saber. Me prejudicou porque o produto foi devolvido e prejudicou o entregador também. É uma falta de respeito com o trabalho dele. Na época, eu tinha me mudado e comprei um sofá. Foi o primeiro item que eu comprei para a minha casa nova e foi o último produto a chegar. Demorou 90 dias. E ainda houve essa situação de vir entregar e voltar simplesmente por falta de comunicação", lembra a moradora do bairro de Brotas.

Iago Santos, 29 anos, sabe exatamente como é viver esse tipo de situação. "Sou morador do bairro de São Caetano, na cidade de Salvador, e existe ali a falta do atendimento de empresas de entregas de absolutamente tudo, em áreas periféricas."

Existe a dor da população periférica de querer algo e não poder receber na porta de sua casa, pois a comunidade sempre é vista como área de risco.

Iago Santos, cofundador do Traz Favela

Foi a partir desse olhar que o designer gráfico, em parceria com Ana Luiza Sena, 29 anos, formada em marketing, decidiu criar, em 2018, o Traz Favela. O projeto se intitula um "delivery sem preconceito" e busca realizar entregas da (e para a) comunidade sem distinção de local e sem anular toda a riqueza cultural e econômica já existente nas periferias de todo o Brasil.

Traz - Milena Palladino/ Divulgação - Milena Palladino/ Divulgação
Já são quase 4.000 entregas realizadas desde o surgimento da iniciativa, 136 entregadores cadastrados e 156 empresas atendidas
Imagem: Milena Palladino/ Divulgação

"Nosso objetivo é ser um facilitador para os clientes e os comerciantes que querem levar ou trazer seus produtos para onde desejarem sem medo de não serem atendidos", explica Iago.

Renda dentro da favela

Além de tirar as populações periféricas da invisibilidade enquanto consumidoras, o Traz Favela também optou por utilizar os próprios moradores das comunidades como entregadores, gerando renda dentro da favela. "Chamamos de Favela Money. É uma oportunidade de movimentar a economia local. Fazemos o dinheiro circular dentro daquele território e trazemos grana de fora também."

A ideia deu certo e o projeto caiu no gosto de consumidores e de fornecedores. Já são quase 4.000 entregas realizadas desde o surgimento da iniciativa, 136 entregadores cadastrados e 156 empresas atendidas nas cidades de Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho, Dias d'Ávila, Litoral Norte e Salvador.

Temos uma relação de parceria e responsabilidade com a entrega de um serviço organizado, eficiente e comprometido com o desenvolvimento econômico e social em todas as esferas envolvidas no processo. Com este trabalho, impactamos financeiramente de maneira direta e indireta em torno de 300 famílias.

Iago Santos, cofundador do Traz Favela

Luciana Amâncio, que teve dificuldades de receber seu sofá em casa, já sabe onde procurar um serviço de qualidade quando a questão é entrega. "Hoje, além de consumidora, uso o Traz Favela para fazer as minhas entregas de kits para a imprensa. O trabalho deles é inovador. E a proposta do Traz, além de fazer essa diferença diretamente, contribui, sobretudo, para o crescimento dos pequenos empreendimentos da favela, dando possibilidade de vida digna a essas pessoas", avalia a jornalista.

Cheios de planos, Iago e Ana estão com várias novidades para o futuro do projeto. "Em breve, lançaremos uma versão de aplicativo em que os comerciantes conseguirão chamar o entregador diretamente. E, no próximo semestre, planejamos alcançar estabelecimentos de outras cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo", finalizam os jovens empreendedores.