3 provas de que preservar a Amazônia é essencial para o equilíbrio do clima
Quando o assunto é Floresta Amazônica, o que não faltam são superlativos: é a maior floresta tropical do planeta e o bioma de maior biodiversidade do mundo. Responsável por ocupar quase 45% do território brasileiro, ela também abriga a maior bacia hidrográfica do globo. É justamente por essa magnitude que é Amazônia é um bem de extrema relevância para o Brasil e essencial para o equilíbrio de todo o mundo.
Nas últimas décadas, várias pesquisas têm procurado entender a importância da floresta para além dos produtos retirados de sua flora — como madeira, remédios, celulose e frutos. Dentro desses serviços ambientais, ou seja, os benefícios prestados pela floresta ao homem, está a proteção ao solo que evita processos erosivos. A Floresta Amazônica ajuda ainda a manter o ciclo das chuvas de outras regiões do Brasil, contribui para a manutenção das espécies de plantas e animais e auxilia no sustento de milhares de pessoas que vivem no interior do bioma e dele sobrevivem.
Outro importante papel é a regulação do clima local, regional e mundial.
Desde que a comunidade científica passou a alertar sobre os riscos das mudanças climáticas, o clima se tornou uma das maiores preocupações mundiais. Especialistas acreditam que para frear esse problema é preciso levar em conta a proteção das florestas tropicais do mundo e, por consequência, claro, a maior delas, a Amazônica.
Para a professora do departamento de ecologia da Universidade de Brasília (UnB) Mercedes Bustamante, os benefícios da Amazônia para o clima mundial fazem parte de processos interligados e podem ser classificados pelo trinômio ABC: água, biodiversidade e carbono.
Para entender mais sobre a importância da Floresta Amazônica, Ecoa listou 3 provas de que a preservação desse bioma é crucial para o equilíbrio climático em todo o planeta. Confira:
Ajuda a regular o clima por meio da reciclagem da umidade
Essa floresta tem um papel fundamental — comprovado por diversos experimentos de campo e estudos — na redistribuição da umidade na América do Sul. A floresta faz com que uma parcela importante do fluxo de umidade vindo do oceano propicie condições úmidas no sudeste da América do Sul por uma "conspiração do bem" entre a Amazônia e a Cordilheira dos Andes.
Como isso acontece? A explicação é do professor da Universidade do Estado do Ceará (UEC) e cientista do clima Alexandre Costa: "A maior parte da umidade vem dos oceanos, especialmente do Atlântico, e é transportada para dentro do continente onde ocorre a precipitação em cima da floresta. Mas o interessante é que a floresta é muito diferente do solo nu. No solo nu, você basicamente tem infiltração, escoamento e, em geral, você não devolve a umidade para a atmosfera".
Na floresta, as raízes das árvores funcionam como bombas de sucção que puxam a umidade dos níveis mais profundos da terra e devolvem para a atmosfera por meio da "transpiração" das plantas, processo conhecido por evapotranspiração.
"Uma árvore como a sumaúma libera uma caixa d'água de mil litros por dia", destaca a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar. "É uma coisa impressionante", diz a pesquisadora sobre a espécie, conhecida pela grandiosidade e beleza e considerada sagrada para os povos indígenas. De copa frondosa, a sumaúma pode chegar a 70 metros de altura e 3 metros de diâmetro.
Com o vapor de água no ar, entra no jogo a ação dos ventos que vêm do Oceano Atlântico, que entram na floresta, esbarram na Cordilheira do Andes e são desviados de volta para as regiões centrais do Brasil e da América do Sul, levando consigo a umidade gerada na floresta.
"A corrente de ar que passa na região tem um padrão, ela entra pela Amazônia, vai até a borda dos Andes e entra novamente no Centro Oeste da América do Sul, e faz com que essa umidade seja reciclada e levada da Amazônia para outros lugares do Brasil. Se não existisse a floresta, provavelmente, essa água não reciclaria. Evaporaria. E a gente teria muito menos água vindo para as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil. Esse é um serviço ecossistêmico fundamental que as árvores da Amazônia prestam, principalmente para o nosso país", afirma Ane Alencar.
Essa corrente úmida também favorece o processo de formação das bacias hidrográficas do Sul e Sudeste do país.
"Se a gente observar o globo terrestre, na mesma latitude de São Paulo, o continente africano e a Austrália, por exemplo, são regiões secas. Se não fosse a floresta, a gente teria um outro clima na América do Sul. Perder a Amazônia, ou pelo menos parte importante dela, significa sacrificar diretamente essa reciclagem de umidade. A gente alteraria muito o ciclo hidrológico da América do Sul", diz Alexandre Costa.
Manter a floresta em pé significa também zelar pela biodiversidade
A floresta é composta não apenas por sua flora, mas também por sua fauna e microbiota. A Floresta Amazônica possui a maior biodiversidade do planeta, cujo potencial econômico ainda é pouco explorado. "A floresta tem um número grande de espécies que ainda são desconhecidas e que podem representar curas importantes para doenças, podem representar um potencial econômico muito grande ligado a nutrição, alimentação, cosméticos", explica Ane, do Ipam.
Esses ecossistemas, entretanto, são frágeis, delicados e sua sobrevivência depende da interconexão.
"O funcionamento desses ecossistemas depende de um entrelaçamento, de um conjunto de interações entre inúmeras espécies diferentes em que a reprodução de um determinado tipo de árvore vai depender da existência de um tipo específico de polinizador. Qualquer ação, como a presença de agrotóxicos e os desequilíbrios que produzem como o envenenamento da fauna, pode, sem que a gente perceba, terminar produzindo processos em cadeia de perda florestas", explica o professor Alexandre Costa.
Para além dos efeitos no clima, o desequilíbrio dos ecossistemas que compõem a floresta podem levar a cenários de novas crises sanitárias globais. "Hoje a gente tem conhecimento suficiente para estabelecer uma forte relação entre o risco do surgimento de novas pandemias à destruição de habitats e da degradação ambiental", explica a professora Mercedes Bustamante.
Segundo os especialistas, há fortes evidências de que ações diretas do homem sobre os biomas e a mudança climática forçam migrações de populações de animais.
Com a saída de seu habitat natural, animais silvestres ficam expostas a vírus com os quais eles não tinham contato. E isso multiplica tanto o risco de doenças nesses animais quanto as possibilidades de que esses vírus silvestres passem para animais de criação ou diretamente para o ser humano.
"É importante a gente entender que o ecossistema, por depender dessa teia de inter-relações que envolve não apenas a flora, mas a fauna e a microbiota, é crucial para manter a floresta de pé. É um conhecimento que não vem só da ciência, é um tipo de percepção de mundo que, milenarmente, os povos originários aprenderam e vem transmitindo", afirma Alexandre.
Grande estoque de carbono
A Floresta Amazônica tem papel central no combate às mudanças climáticas já que detém o maior estoque continental de carbono em suas árvores e no solo.
Por meio da fotossíntese, as florestas absorvem o carbono da atmosfera e liberam o oxigênio. Esse carbono absorvido na forma de gás carbônico é transferido para todas as partes da planta.
"A gente tem tanto carbono na Amazônia que, se esse carbono do solo e da vegetação fosse para a atmosfera, é como se a gente pegasse dez anos de emissões globais e jogasse na atmosfera, ou seja, o equivalente a cerca de 400 bilhões de toneladas de CO2", afirma Alexandre Costa.
Em 2015, o Acordo de Paris estabeleceu a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC até 2030. Para isso, uma das principais medidas é reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Dentro do conceito de "saldo de carbono", ou seja, o quanto de CO2 a população mundial pode emitir para evitar o aquecimento global, o valor hoje é inferior ao montante que a Amazônia retém.
"Então, mesmo que a gente promova uma transição energética acelerada, mesmo que a gente fosse capaz de reduzir mais rapidamente ainda as emissões - dentro daquilo que tem se apontado que é cortar pela metade as emissões até 2030 -, sem manter a Amazônia de pé, sem preservar esse estoque de carbono no chão é virtualmente impossível falar de estabilização climática. A Amazônia é fundamental nesse sentido", destaca o cientista do clima.
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