Grupo faz ronda à noite para ajudar pessoas em situação de rua no inverno
Sempre que os termômetros marcam 10 graus ou menos em São Paulo, na zona norte, o grupo UMA (um momento de amor) sai às ruas munido de cobertores, blusas de frio e outros agasalhos para atender emergencialmente pessoas em situação de rua no entorno dos bairros do Jaçanã e do Canindé.
A ação começou logo no início da pandemia de covid-19 e foi idealizada pela advogada Marília Touças, 29 anos, que se sensibilizou com a falta de acesso e amparo das pessoas nessas condições durante esse período.
"Comecei saindo aos domingos com a ajuda de três amigos e atendia em média 100 pessoas, orientando sobre a covid-19, ajudando a lavar as mãos e dando um chocolate. Com o tempo, o movimento cresceu e passamos a levar água, escovas de dente, sabonetes, biscoitos e café", lembra Marília.
A entrada de novos voluntários ampliou rapidamente a capacidade de atendimento do grupo, que incluiu preservativos e itens para combater a pobreza menstrual, como absorventes, lenços umedecidos e roupas íntimas.
"Hoje, saímos às ruas com seis carros cheios de itens por ronda e atendemos cerca de 400 pessoas em situação de rua mensalmentel", diz Marília.
Atendimento emergencial no frio
O grupo faz atendimentos duas vezes por mês, além das saídas emergenciais quando os termômetros marcam baixas temperaturas e colocam a vida de quem vive nas ruas em perigo.
"Sempre que a temperatura chega a 10º ou menos nós saímos da forma como dá, e independentemente do espaço entre uma ronda e outra ou da quantidade de voluntários. É muito comum morrer pessoas em situação de rua nessas condições e é aí que resgatamos a essência do UMA, de que cada 'uma vida' é a mais importante", conta a advogada.
E essa essência se concretiza na prática das ações do grupo. "No primeiro ano do UMA (2020) encontramos um idoso dormindo no frio rigoroso, todo molhado. Nós o ajudamos a se trocar e a vestir roupas quentes. Nesse dia senti que aquela vida foi salva", lembra Marília.
No entanto, mesmo com os atendimentos emergenciais, Marília lamenta ter chegado tarde demais em alguns casos. "No ano passado encontramos duas pessoas mortas, a sensação é de ter chegado atrasado, é isso que queremos evitar com nossas rondas", desabafa.
O grupo, que hoje conta com 30 voluntários, realiza uma espécie de treinamento para todos que são recém-chegados. Dessa forma, cria metodologias que ajudam a atender e amparar as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade.
"Oriento sempre que não é um momento triste, mas que precisamos chegar de forma respeitosa, que precisamos abaixar para atender e praticar uma escuta ativa com as pessoas atendidas", explica a idealizadora da ação.
Ajuda para famílias e animais
Com a expansão do projeto, o grupo também passou a atender os animais das pessoas em situação de rua e famílias que residem em comunidades com vulnerabilidade financeira e social no entorno das localidades onde os atendimentos são feitos.
"Atendemos os animais com ração, comedouro e bebedouro. Assim, fornecemos água para os gatos e cachorros que acompanham as pessoas em situação de rua e também para os animais de famílias em situação de vulnerabilidade", explica Marília.
Atualmente, o projeto atende cerca de 100 famílias que residem na comunidade do Coruja e no bairro do Jaçanã, onde são entregues alimentos, kits de higiene, absorventes e ração para pets.
O projeto UMA aceita doações em dinheiro que podem ser feitas pela chave Pix: (umanasruas@gmail.com). Para colaborar com alimentos, agasalhos ou voluntariado é possível entrar em contato com grupo via redes sociais.
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