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Projeto leva alimentação para 16 mil animais de rua em São Paulo

Projeto social distribuiu 3,1 toneladas de ração para cães e gatos só em 2021 - Divulgação
Projeto social distribuiu 3,1 toneladas de ração para cães e gatos só em 2021 Imagem: Divulgação

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, do Recife

17/06/2022 06h00

Um projeto social tem dado apoio a animais de moradores de rua de São Paulo. O grupo leva ração e cobertores para os pets. Somente em 2021, foram distribuídas 3,1 toneladas de ração para cães e gatos. Desde que foi lançada, a iniciativa beneficiou cerca de 16 mil animais da população em situação de rua.

Durante uma das entregas na rua, em 2017, o grupo abordou um senhor e ofereceu café a ele. Ao lado desse senhor, havia um outro que estava dormindo. Para a surpresa da equipe, o "senhor" que dormia era na verdade um cão, que estava sob as cobertas por causa do frio.

"Ele disse assim: 'Esse aqui é meu amigo, os outros são conhecidos'. Nessa hora, nós tivemos a real dimensão da importância do animal de estimação para quem está em situação de rua. Esses bichos, além de companhia constante, são muitas vezes o último vínculo de afeto que essa pessoa tem", diz Christian Francis Braga, idealizador e presidente do Instituto GAS (Grupo de Atitude Social), ONG que atua desde 2016 levando alimentos e cuidados a moradores de rua.

A partir daquele dia, o grupo passou a provisionar os lanches que levavam sempre pensando em deixar uns a mais para os pets, pois no começo a arrecadação de ração era bem mais difícil. Depois de um tempo, foi estruturada uma divisão dentro do GAS, o GAS Pets, que se ocupa de pensar estratégias e garantir que não falte ração, petiscos e outros itens necessários para esses animais, tanto nas ruas quanto nas comunidades.

"Estruturamos o GAS Pets e, logo no primeiro ano, nos dispusemos a fazer o resgate e o tratamento veterinário dos animais também. No entanto, o custo de cada resgate, levando em consideração medicamentos, despesas veterinárias, alimentação e transporte, acabava onerando demais o nosso caixa e colocando em risco toda a nossa operação. Isso sem contar os gastos recorrentes para lares temporários nos processos de adoção responsável", diz.

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Iniciativa beneficiou cerca de 16 mil animais da população em situação de rua
Imagem: Divulgação

Os responsáveis pela iniciativa, então, decidiram que ainda não era hora de realizar o resgate por não ter a estrutura necessária. Era preciso começar de outra maneira e focar na alimentação e no bem-estar dos animais, assim como já faziam com as pessoas em situação de vulnerabilidade.

Hoje a divisão de Pets dentro do GAS conta com 17 voluntários apaixonados pela causa animal, que entendem a dinâmica da rua e a situação dos bichos. Mais do que isso, transformam esse amor em força para conseguir mudar a realidade dos animais nas ruas.

"Nós saímos todas as semanas para atendimentos, intercalando ruas e comunidades. Hoje atendemos todas as regiões da cidade de São Paulo, além de outras cidades da região metropolitana, como Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Jandira e Osasco e a capital do Rio de Janeiro", diz Braga.

Nas comunidades, a organização atende animais em 14 núcleos espalhados nos extremos das zonas sul, leste e norte. "Todas as ações do GAS contam com o GAS Pets, que se ocupa da entrega das rações, potes para comida e água, coleira e outros itens, além do mapeamento da dinâmica desses animais na rua: quantidade, se há cadelas prenhas, filhotes, cães e gatos doentes", detalha.

Proteção mútua

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A divisão de Pets dentro do GAS conta com 17 voluntários apaixonados pela causa animal
Imagem: Divulgação

Durante a abordagem, enquanto um voluntário entrega os itens para a pessoa, sempre questiona se pode deixar ração, se o animal é bravo, e assim por diante. O grupo tenta levantar informações sobre o histórico do bicho —não sem antes, claro, sentar no chão para acariciar e ganhar uns "lambeijos" dos animais.

"Temos um procedimento de abordagem e sempre instruímos nossos voluntários. É importante lembrar que não são nossos bichos, que por mais que estejamos habituados à convivência com cães e gatos, a cautela é necessária, pois esses animais estão ali muitas vezes protegendo seus tutores. É uma relação de proteção mútua na verdade", acrescenta.

Cuidados veterinários

O projeto, além do cuidado com a alimentação dos animais, aplica vermífugo, que é ministrado sob a orientação de uma especialista —Nathalia Pepe Carneiro é a médica Veterinária e voluntária do GAS PETS.

A Ecoa, a profissional explica que a vermifugação dos animais em situação de rua cumpre dois papéis fundamentais. O primeiro é a proteção da saúde do animal, para garantir seu bem-estar e pleno funcionamento de todas as funções vitais. O segundo é a interrupção de ciclos de contaminação entre homem e animal.

"Muitos parasitas que causam infecções nos animais podem ser transmitidos para os seres humanos e vice-versa. Além disso, o animal vermifugado fica menos exposto às infecções causadas por vermes presentes na água, no solo ou até mesmo trazidos por outros bichos frequentes nas ruas, como ratos e pombas", destaca a veterinária.

O idealizador do projeto adianta que pretende criar o Centro de Reabilitação com o Canil do GAS Pets, mas ainda faltam recursos financeiros. "Precisamos de dinheiro para erguer e manter esse centro. Qualquer demanda animal envolve bastante investimento e, se pensarmos que o nosso objetivo é resgatar, cuidar e encontrar um lar para esses animais, já conseguimos ter a dimensão do quanto de aporte financeiro precisamos para que esse sonho se concretize", diz Braga.

Como ajudar

A manutenção das atividades do GAS Pets depende de doações, que podem ser realizadas via PIX (CNPJ 34.347.549/0001-79) ou pela plataforma apoia.se/gaspets