Projeto leva conversa e escuta as necessidades de população de rua de SP

Quando Lucas Brant, em 2013, juntou um grupo de amigos e foi para debaixo do Minhocão (elevado no centro de São Paulo) para levar cobertores em uma noite fria e percebeu que, mais o que frio, a população de vulneráveis que procurava abrigo ali precisava de escuta.

Naquele dia, as pessoas agradeceram os voluntários pela coberta, mas muito mais pela conversa e pela atenção que receberam do grupo ao ouvir suas demandas, segundo conta a jornalista Débora Spitzcovsky, de 33 anos, que fazia parte do grupo.

Ali surgia o projeto 'Entrega por São Paulo', que além de ajudar as pessoas em situação de vulnerabilidade, leva até elas boas conversas e escuta as necessidades de cada um. "Naquele dia, quando a gente estava indo embora, ouvimos: 'Voltem! Não precisa voltar com coberta, não precisa voltar com nada material, mas voltem para a gente poder conversar'", conta Débora.

É com esse intuito que o 'Entrega por SP' está nas ruas uma vez por mês, sempre na última segunda-feira. O projeto faz também ações emergenciais quando está muito frio, quando está muito calor ou quando chove demais. Os voluntários se reúnem na praça Charles Miller, próximo ao Estádio do Pacaembu, às 20h, e todo mundo é bem-vindo. Não é preciso fazer inscrição prévia, qualquer pessoa pode se voluntariar para ajudar.

Entrega feita por rotas

Na praça, os voluntários reúnem todas as doações que arrecadam ao longo do mês, montam os kits de necessidade básica e dividem tudo isso por rotas, com nove rotas mapeadas por toda São Paulo: Brigadeiro, Nove de Julho, Centro, Minhocão, Barra Funda, Lapa, Zona Leste, Zona Sul e Zona Norte.

As rotas são divididas segundo o número de voluntários que comparecem para ajudar e também segundo a quantidade de doações que conseguiram arrecadar. Cada uma dessas rotas já tem pontos mapeados, que são lugares com uma concentração razoável de pessoas em situação de rua, onde é possível não só entregar os kits de necessidades básicas, mas principalmente passar um tempo ali, conversando com essas pessoas.

"A gente não arrecada só alimentos, levamos no nosso kit diversos itens de necessidade básica e todos são itens que nos foram pedidos pelas ruas, então seguindo aquele princípio de escuta ativa, ouvimos o que para eles é importante receber naquele momento, para que a situação se amenize um pouco", explica Débora.

Os voluntários do 'Entrega por SP' montam primeiro os kits com itens de higiene pessoal, que contém: pasta e escova de dentes, sabonete, rolo de papel higiênico. Além disso, eles levam sanduíche, bolacha, garrafas de águas e até meias. Em algumas ocasiões, levam ainda roupas, cobertor, agasalho, mochila, absorvente para as mulheres e ração para os animais.

Outro item que também é oferecido nos kits são camisinhas. "Esse foi o único que a rua não pediu para a gente, na verdade a Secretaria de Saúde nos procurou, dizendo que o índice de Doenças Sexualmente Transmissíveis na população em situação de rua estava crescendo e que eles queriam chegar a essa população, então a gente ajuda nesse trabalho também", explica Débora.

Para quem se interessou e deseja ajudar, pode doar esses itens citados até um dos pontos de coleta listados no site ou também podem doar de forma online também pelo site do projeto. O grupo também aceita doação em dinheiro, via transferência por PIX. A chave é entregaporsp@gmail.com. É também possível acompanhar as ações do projeto pelo perfil do Entrega por São Paulo no Instagram ou da Débora.