Toy Story reciclável: bonecas retiradas de rio poluído alegram crianças
Ed Rodrigues
Colaboração para Ecoa, do Recife
15/07/2022 06h00
Diego Saldanha, 36 anos, é um vendedor de frutas que se divide entre o comércio, a atenção com a esposa e seus três filhos e um trabalho ambiental que retira lixo do rio Atuba, que fica entre as cidades de Colombo e Curitiba, no Paraná.
O criador de uma ecobarreira que ajuda na limpeza das águas percebeu que entres os resíduos estava uma quantidade imensa de brinquedos. A mãe dele, a artesã Marizete Saldanha, 58, viu naqueles brinquedos a oportunidade de levar alegria a crianças. Marizete passou a revitalizar, higienizar e doar a peças totalmente recuperadas à garotada. Até o momento, mais de 50 bonecas ganharam novas pequenas donas, e o trabalho continua.
A Ecoa, a artesã conta que ideia surgiu quando viu o filho comentar que havia muitos brinquedos entre os resíduos que ele costuma retirar do rio Atuba. "A gente viu que tantas coisas retiradas do rio poderiam ter um destino melhor. São bolas, bonecas, ursos de pelúcia. O Diego foi separando e me mandando, e eu me pus a recuperar tudo", disse.
Mãe e filho perceberam que dava para reutilizar os brinquedos desde que fosse tomado um cuidado especial, e pelas mãos de pessoas que já tem experiência e consciência ambiental.
"Nossa relação com o rio Atuba vem de muito tempo. Dos 6 aos 12, por exemplo, meu filho passava a tarde nesse rio, brincando, pescando... a gente comia os pescados. Esse carinho que ele tem com o rio é porque ele viu tudo que o rio pode oferecer e que vinha se perdendo com a poluição", explicou a artesã.
"O processo com os brinquedos é simples: primeiro são separados tudo que ainda tem conserto. Muitas coisas vêm muito destruídas e não dá para salvar. Em seguida, eu lavo todas as peças, faço a higienização... é tudo manual. Eu lavo peça por peça. Depois conserto. Troco as partes que não servem mais. Para as bonecas, pego roupas de crianças no meu brechó e visto nelas", continuou.
Diego Saldanha explica que os brinquedos sem possibilidade de recuperação seguem para reciclagem. O trabalho não tem apoio de instituições. Tanto a recuperação dos brinquedos quanto o trabalho de limpeza do rio Atuba são iniciativas pessoais.
"Recebo apoio das pessoas que acompanham nosso trabalho. Mas estamos abertos a patrocínios. Estou trabalhando nisso para que futuramente a gente consiga um apoio fixo, para que a gente possa fazer muito mais. Os materiais usados nos brinquedos são roupinhas de crianças, produtos de limpeza, sabão em pó... uma série de produtos para a higienização. Eles saem muitos sujos do rio", disse o vendedor.
"Ela pega bonecas em condições horríveis e transforma em alegria"
A distribuição dos brinquedos acontece conforme vão aparecendo e sendo recuperados. As doações vão para crianças que pedem para conhecer o trabalho de Diego e Marizete. "As crianças que passam pelo brechó escolhem as bonecas. A gente identifica as crianças que mais precisam e vamos fazendo a distribuição. Nos sentimos realizados com esse trabalho. Fico muito feliz de tirar todo esse lixo do rio e ainda alegrar as crianças", disse.
As filhas de Derenilda Rodrigues, 41, estão entre as crianças que ganharam os brinquedos. Nilda, como é conhecida por vizinhos, disse que acompanha há cerca de um ano. Quando soube da revitalização dos brinquedos, não pensou duas vezes.
Minhas filhas Allana,10, e Melissa, 5, ganharam bonecas. Elas ficaram muito felizes. Tenho a maior admiração pelo trabalho que Marizete faz as bonecas. Pegas elas em condições horríveis e consegue transformar em alegria para as crianças. Marizete também faz doações para as senhorinhas nos asilos. Ela tem minha admiração, meu respeito, porque ela faz com muito amor e dedicação.