Favela e soluções são palavras rivais? 'Queremos todo espaço', diz Criolo
"Não espere nada do centro, se a periferia está morta, pois o que era velho no Norte se torna novo no Sul", já cantava um trovador pernambucano. Criatividade e empreendedorismo sempre estiveram presentes nas periferias do país. "A cultura gerada destes recantos é celeiro de arte e inovação. Nos trazem soluções para o Brasil de hoje. Aqui neste território temos jovens incríveis pavimentando o amanhã". Quem afirma é um dos principais nomes do rap nacional, Criolo, nascido e criado na Vila José, no extremo sul da cidade de São Paulo. Criolo se apresentou em Brasília nesta sexta-feira (29) durante o Baile do Favela Sounds.
O festival, realizado em paralelo ao Favela Talks, promove a arte como motor de participação social da juventude. Com o tema "Cuidado e participação social - Favela Sounds é Pertencimento", reuniu 22 artistas de diversos estilos e regiões do país na praça do Museu Nacional da República.
Para Criolo, eventos como esse são necessários pois abrem espaço para a investigação de novos formatos e os jovens das periferias do Brasil dão aula nesse quesito: "Um pouco de espaço de integração e dignidade, e eles nos apresentam coisas lindas. Isso é o futurismo e quem já vê tudo lá na frente assim são nossos jovens".
Antes dos shows, o festival já vinha promovendo diversas atividades desde junho, como encontros virtuais, palestras, oficinas técnicas, mentorias e rodadas de negócio voltadas para o mercado criativo.
Este ano, o evento voltou a ocorrer de forma presencial em Brasília reunindo artistas e empreendedores culturais para exaltar a cultura periférica e gerar oportunidade para os jovens dentro dos setores de criatividade e tecnologia. Criolo comenta que o empenho pela abertura de espaços é constante.
O que queremos agora não é só um pouco de espaço e, sim, todo o espaço. Inclusive para equilibrar a desigualdade histórica que cursou este abismo profundo que não apenas afasta nossos jovens do que é deles por direito, mas leva a uma criação de ambientes que destroem famílias e sonhos. Criolo
Para quem pensa que empreendedorismo e inovação são coisas de rico, vale lembrar que a busca por soluções é uma rotina no cotidiano das periferias brasileiras. "Já passei fome, já tive medo dos tiros na viela furarem ainda mais os tapumes do barraco na vila São José, Jardim das Imbuias. Desde pequenos aprendemos a buscar soluções", diz Criolo.
O rapper, que escreve desde os 11 anos, fala da música como ponto de celebração do encontro: "A arte é o coração esparramado em tudo que acredita, impulsiona e dá vida a tantas possibilidades. Isso é realmente incrível e inspirador", diz o cantor.
"O samba é minha identidade"
Jorge Aragão também celebra o papel primordial que a arte desempenha na vida das pessoas e na defesa de quem vive nas comunidades, representando a esperança de uma mudança de vida.
A arte, em especial o samba, para mim é como se eu tivesse só a carne e alguém viesse colando a minha pele de cima a baixo. Neste sentido, a arte é a maneira como eu me apresento hoje para o mundo. O samba é minha identidade, o samba é meu sorriso, o samba é minha letra. Jorge Aragão
Compositor de incontáveis sucessos desde a década de 1970, Jorge Aragão foi um dos destaques na programação do Favela Sounds do último sábado (30), que incluiu artistas do Distrito Federal, Bahia, Pará e Rio de Janeiro. O músico comemora a presença em um palco multicultural que impulsiona projetos e ações profissionalizantes para jovens líderes da favela. "É muito gratificante ver eventos como esse favorecendo o som da favela. Me sinto honrado em fazer parte disso e poder representar tantos homens e mulheres pretas."
Tenho certeza que vou desconstruir alguns mitos que rolam no meu segmento. Não vejo fronteiras. Se me chamarem de sambista direi que sou pagodeiro, se me chamarem de pagodeiro direi que sou sambista. Jorge Aragão.
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