Irmãos Coragem: Quem foram os idealizadores da 1ª reserva indígena do país?
Se hoje o Brasil tem a maior e uma das mais importante reservas indígenas das Américas, o Parque Nacional do Xingu, é graças a três irmãos que dedicaram suas vidas à defesa de povos indígenas: Orlando (1914-2002), Cláudio (1916-1988) e Leonardo Villas-Bôas (1918-1961).
Foi em 1943 que tudo começou, quando juntaram-se à Expedição Roncador-Xingu, parte da campanha nacional Marcha para o Oeste, lançada por Getúlio Vargas, que tinha como objetivo desbravar e explorar o interior brasileiro. De acordo com o discurso de lançamento da campanha do presidente à época, pronunciado do Palácio Guanabara para todo o país, em 31 de dezembro de 1937:
"O verdadeiro sentido de brasilidade é a Marcha para o Oeste. No século XVIII, de lá jorrou o caudal de ouro que transbordou na Europa e fez da América o Continente das cobiças e tentativas aventurosas. E lá teremos de ir buscar: — dos vales férteis e vastos, o produto das culturas variadas e fartas; das entranhas da terra, o metal, com que forjar os instrumentos da nossa defesa e do nosso progresso industrial."
Durante a expedição, a descoberta e contato com povos indígenas, se tornaria obstáculo para alguns exploradores, mas não para os irmãos Villas-Bôas, que não só conheceram e se encantaram pela cultura indígena, como também fizeram de sua proteção sua missão de vidas.
Os sertanistas Villas-Bôas foram cruciais para ajudar a desmistificar a imagem de um indígena selvagem, sem regras, sem estrutura social, criada na época do Descobrimento do Brasil, que a sociedade brasileira tinha - e, infelizmente, ainda têm.
"Nós trouxemos a notícia de que eles (os índios) constituem uma sociedade tranquila, alegre. Ali, ninguém manda em ninguém. O velho é dono da história; o índio, dono da aldeia e a criança, dona do mundo", disse Orlando Villas-Bôas.
Seguindo a máxima de sua filosofia, seguida até hoje por etnólogos e entidades científicas, de que "o índio só sobrevive em sua própria cultura", foram eles os principais idealizadores e pleiteadores da criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961, também primeira reserva indígena homologada no país.
A partir daí, os Villas-Bôas defenderam uma política indigenista radicalmente protecionista da natureza, dos povos indígenas e seus valores culturais, como responsabilidade do governo federal. Essa política era uma das duas existentes à época da criação da Fundação Nacional do Índio, a FUNAI, em 1967.
No entanto, a adotada pela instituição foi o modelo desenvolvimentista, oposto ao dos irmãos, desenvolvido pelo extinto Serviço de Proteção ao Índio Brasileiro, baseado na premissa de que povos indígenas devem ser integrados como força de trabalho como produtores de bens transacionáveis para o bem da economia.
Esta filosofia ajuda a entender a relação conturbada de desvalorização e exploração do povo indígena e sua cultura, especialmente nos dias atuais.
"Se achamos que nosso objetivo aqui, na nossa rápida passagem pela Terra, é acumular riquezas, então não temos nada a aprender com os índios. Mas se acreditamos que o ideal é o equilíbrio do homem dentro de sua família e dentro de sua comunidade, então os índios têm lições extraordinárias para nos dar", afirmou Cláudio Villas-Bôas.
Os irmãos viveram dedicados à proteção dos povos indígenas e ao Parque Nacional do Xingu durante mais de 40 anos. Orlando e Cláudio, após encerrarem suas atividades na reserva, seguiram como assessores da presidência da Funai.
Segundo Orlando Villas-Bôas, eles não eram contra o progresso, mas contra o progresso que destrói. O trabalho de defesa e preservação da cultura dos povos indígenas e sobrevivência encabeçado pelos irmãos Villas-Bôas rendeu a eles duas indicações ao Prêmio Nobel da Paz.
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