Explosão mata 18 mil vacas: Por que pum bovino pode ter causado incêndio?
A explosão que matou 18 mil vacas leiteiras e deixou um trabalhador rural ferido no Texas, Estados Unidos, na segunda-feira (10), pode ter sido causada pelo metano gerado pelos puns e arrotos bovinos.
O gás é inflamável — o que justifica a polícia norte-americana investigar o metano como uma das fontes da explosão, ainda que não a principal - e é frequentemente ligado à preocupação com o aquecimento global.
Afinal, como descobrimos que o metano polui?
Tudo começou em 1856, quando a estadunidense Eunice Newton Foote realizou experimentos isolando gases atmosféricos em cilindros de vidro. Seus estudos são a origem para pesquisas posteriores a respeito do efeito estufa, um fenômeno que explica o aquecimento da Terra.
Pioneira na ciência, Eunice também era ativista pelo direito das mulheres e, apesar do feito, nunca recebeu créditos por sua pesquisa, como mostra uma coluna escrita no The New York Times. Mas, afortunadamente, sua pesquisa foi o primeiro passo para outros que vieram, e avançaram nas descobertas e explicações sobre os gases atmosféricos e o aquecimento global.
Foi mais ou menos nesta época que o gás metano foi identificado como uma das substâncias relevantes no efeito estufa.
Desde então, cientistas das áreas de biologia e agropecuária passaram a integrar o grupo de pessoas atrás de respostas e soluções para a crise climática. Isso porque bovinos soltam metano nos puns e arrotos. Isso mesmo.
Atualmente, no Brasil, segundo relatório do Observatório do Clima, publicado em 2021, a agropecuária é o principal setor responsável pela emissão de gases de efeito estufa - e o metano é o segundo principal gás emitido -, seguido pelo setor de energia, indústria e outros.
Nesse sentido, será que podemos afirmar que pum e arroto de boi e vaca são a principal causa do efeito estufa? A especialista Luana S. Basso, Doutora em Ciências e pós-doutoranda no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), explica a Ecoa.
Na agropecuária, a digestão dos bovinos é a principal fonte de emissão de gás CH4, o metano, segundo principal gás de efeito estufa.
Essa emissão ocorre como resultado de um processo natural da digestão desses animais, chamado de fermentação entérica, que também ocorre, por exemplo, em caprinos e búfalos, que corresponde a um terço das emissões totais global e dois terços das emissões no Brasil. É uma quantidade bastante expressiva e lidera o ranking dos relatórios climáticos.
Alta produção de bovinos no Brasil impacta no efeito estufa
O manejo de bovinos, por sua vez, contribui para o aumento das emissões de metano. No caso do Brasil, que possui o segundo maior rebanho bovino do mundo, contribui com aproximadamente 65% das emissões totais deste gás no país. "Luana explica que o manuseio dos dejetos destes animais também contribui para a emissão de metano, porém em quantidade muito menor.
A emissão de metano dos bovinos é produzido de maneira natural
A produção de metano é parte do processo digestivo normal dos bovinos. A dieta ingerida é fermentada no estômago do animal por um processo sem a presença de oxigênio, formando metano, que é então liberado para a atmosfera. O metano é liberado tanto por arroto dos ruminantes, cerca de 87% das emissões, e em pum, correspondendo a apenas 13% do total liberado. Portanto, a emissão do metano pela boca dos animais é a principal fonte de liberação de metano para atmosfera.
CO2 ou metano?
Metano não é o principal gás do efeito estufa, apesar de significativo
O metano é o segundo principal gás de efeito estufa, devido principalmente ao seu potencial de aquecimento global, que é em torno de 28 vezes maior do que o do CO2, dióxido de carbono. O CO2, por sua vez, é o principal gás do efeito estufa, pois ele perdura na atmosfera por um período de até mil anos, enquanto o metano tem uma vida útil de uma década. Por essa razão, a emissão pelos bovinos não é a principal causa do efeito estufa, apesar dela contribuir de forma significativa e de ser uma das poucas fontes desse gás possível de ser ter sua emissão reduzida pelo homem, ressalta Luana.
Técnicas na agropecuária podem reduzir os números
Apesar da emissão de metano ser um processo natural presente na digestão desses animais, a produção desse gás varia com a quantidade e qualidade da energia do alimento digerido.
Por isso, a existência de várias modalidades e condições de sistemas de produção destes animais implica em diferentes taxas de emissão de metano, que pode estar relacionada com a qualidade da dieta do animal. Isso demonstra que há a possibilidade de manejo humano dos níveis de emissão de gás metano na atmosfera, diminuindo o impacto ambiental sem o uso de tecnologias avançadas.
Alterar a forma de produção bovina pode desacelerar o metano no efeito estufa
Luana aponta que a superpopulação de bovinos é definitivamente uma das causas para índices tão altos de efeito estufa no Brasil, gerada pelo alto consumo de carne pela população. Por isso, diminuir o consumo de carne e o modo de produção bovina no país reduziria os índices de emissão de gás metano, além de contribuir para a diminuição do desmatamento e queimadas na Amazônia, causados principalmente pelo avanço da agropecuária.
*Com informações de Maiara Marinho em matéria de agosto de 2022.
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