O segredo da ONG que empregou quase todos os refugiados que abrigou
Edwin Marquez chegou no Brasil, da Venezuela, em 2017. Um ano depois trouxe a esposa, os filhos e a sogra. E, mais recentemente, em 2022, conseguiu ajudar na mudança da mãe e dos dois irmãos com as esposas e filhos.
Hoje todos moram em Belo Horizonte graças à oportunidade de trabalho com carteira assinada que Edwin conseguiu, fruto do trabalho da ONG Refúgio 343, que ajudou a família desde que chegaram em Boa Vista (RR).
"No início foi tudo muito difícil, primeiro eu vim com minha esposa e filhos, tivemos ajuda da ONG e depois de um ano consegui um emprego e mudar de cidade. Com minha família, que veio depois de mim, foi a mesma coisa. Batalhamos muito e graças ao pessoal da Refúgio estamos todos juntos agora", comenta Edwin.
Apesar do curto período de atuação, a ONG Refúgio 343 tem resultados bastante expressivos: Já são 2.473 pessoas acolhidas em 195 cidades do Brasil. Dessas, 1.037 são independentes, como Edwin, e 1.288 alunos formados. A taxa de empregabilidade das pessoas que passam pela instituição também é alta: 78% dos refugiados arrumaram um emprego. Com atuação em 20 estados, a organização tem sedes regionais em São Paulo e Belo Horizonte e a base operacional em Boa Vista.
O mais recente relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) aponta que em 2022 cerca de 100 milhões de pessoas foram forçosamente deslocadas dentro do seu próprio país ou para uma região de outra nacionalidade decorrente de conflitos de guerra e econômicos.
"Na Venezuela a gente estava passando fome, não tinha comida no mercado, era escassa, emprego já não tinha mais, muito difícil a vida lá, então decidi vir para o Brasil", relata Edwin.
No Brasil, o maior número de solicitações de reconhecimento da condição de refugiado vem da Venezuela (22.856), seguido da Angola (1.952) e Haiti (794). A lista do relatório Refúgio em Números, do Observatório das Migrações Internacionais, contém mais de 20 nacionalidades que solicitaram condição de refugiado no Brasil. Com o objetivo de auxiliar as famílias que chegam ao país sem emprego, e muitas vezes sem moradia e renda, Fernando Rangel criou a ONG Refúgio 343.
Fernando já idealizava o projeto há algum tempo. Para isso, começou a pesquisar organizações locais, tipos de metodologias de trabalho e convidou alguns amigos de diferentes áreas para colocar a ideia no papel. "Quando a gente viu tínhamos dois grupos, um de captação de recursos e outro para acolhimento", comenta Laura Fatio, cofundadora da ONG.
No dia 20 de junho de 2019, data que marca o Dia Mundial do Refugiado, a Refúgio 343 ajudou a primeira família, que foi acolhida em uma casa na Rua Vicente Pereira de Assunção, 343. Daí o nome da ONG. Em dois meses o grupo já tinha R$ 200 mil em caixa. Isso deu a confiança necessária para criar oficialmente o projeto. "E aí a gente começou a dedicar a vida para isso", relata Laura.
Com mais de 2.500 vidas resgatadas, esses três anos de história da ONG foram marcados por uma série de outras conquistas. Em 2020 e 2021, foi considerada uma das 100 melhores ONGs do Brasil, ficando entre as dez melhores de pequeno porte, pelo Prêmio Melhores ONGs. Em 2021, recebeu o Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.
Famílias recebem acolhimento e subsídio para encontrar trabalho
Os campos de atuação da ONG são o desenvolvimento social e a ajuda humanitária, que envolvem interiorização e educação. Com base nisso, a Refúgio 343 tem o programa de doações de pessoas físicas e jurídicas, o voluntariado para atuar na organização, o programa de acolhedores, em que famílias se tornam parceiras da ONG para acolher refugiados até que alcancem a independência, e o parceiro corporativo, onde empresas privadas oferecem vagas de emprego a refugiados.
Segundo Laura, a Refúgio 343 aceita apenas propostas de emprego na modalidade CLT, com carteira de trabalho assinada e todos os direitos trabalhistas garantidos.
Para a garantia dos direitos humanos dos refugiados são monitoradas as ações tanto no processo de acolhimento por outras famílias, quanto na contratação de trabalhadores no setor privado. Atualmente, a ONG tem 13 acolhedores ativos e 84% das famílias independentes. "Uma vez que a família está com emprego, saúde e educação contemplados, ela se torna independente", relata Laura.
Além desses eixos de atuação, a Escola Refúgio, presente em Boa Vista e em São Paulo, oferece aulas de português, educação intercultural e direito do trabalho, assim como cursos profissionalizantes. Laura conta que, em Boa Vista, as turmas são mensais e cada uma atende 40 pessoas. Em São Paulo são duas turmas por mês com 20 pessoas em cada uma.
Em Roraima, a Escola atende somente venezuelanos. O estado faz fronteira com a Venezuela e é hoje a região que mais recebe refugiados desta nacionalidade. Em São Paulo, o perfil de atendidos na Escola é maior: congolês, boliviano, venezuelano, sírio, iemita, entre outros.
Somado a essas ações, no início da pandemia, a ONG doou R$ 100 mil para o Hospital de Campanha de Boa Vista e fizeram doações de kit de higiene, cesta básica e kit de limpeza, em Roraima, para mais de 3 mil pessoas.
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