Ser cremado polui o planeta? 6 coisas que você não imagina sobre cremação
A mortalidade causada pela pandemia da covid-19 trouxe dificuldades para o setor funerário. A Pesquisa ACEMBRA/SINCEP do Panorama do Setor Funeral mostra que, em abril de 2021, período mais letal da pandemia no Brasil, o serviço funerário deixou de atender, em média, 12% da demanda. Nos crematórios, 25% estavam com pouco espaço nas câmaras frias para preservar os corpos.
O aumento no número de cremações acompanha a superlotação de cemitérios. São Paulo, a maior cidade do país, segundo a prefeitura, teve uma média de mil cremações por mês no ano de 2021. Felipe Gabardo, gerente de marketing em uma empresa que presta serviços funerários nos estados do Paraná e Santa Catarina, diz que as pessoas têm optado pela cremação porque é um serviço mais barato e, segundo ele, menos danoso ao meio ambiente.
Mas, afinal, cremar é mais sustentável do que enterrar?
A resposta não é simples nem direta.
Segundo estudo comparativo do impacto ambiental entre cremação e sepultamento, divulgado no 30º Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente, não se pode garantir que a cremação gera um menor impacto ambiental do que o sepultamento porque os processos são completamente diferentes e, portanto, difíceis de comparar.
No entanto, os resultados obtidos no trabalho evidenciaram que, aparentemente, o sepultamento gera um maior impacto ambiental do que a cremação, principalmente quanto às alterações da qualidade do solo e das águas subterrâneas.
Ecoa ouviu especialistas para explicar melhor a questão:
A engenheira ambiental Gabriela Cavion é autora do trabalho citado acima e afirma que a cremação, a princípio, mostra-se mais sustentável, uma vez que os gases gerados durante esse processo são emitidos em baixas concentrações.
"Um corpo em processo de decomposição, quando sepultado, começa a gerar gases já nos primeiros dias de sepultamento, podendo levar anos", explica. "Geralmente os fornos crematórios possuem sistemas eficientes para controle da poluição atmosférica, evitando altas concentrações de poluentes. Além disso, a legislação ambiental relacionada a esta técnica é mais rigorosa em comparação ao controle das emissões geradas no sepultamento", ressalta.
Abaixo listamos 6 curiosidades sobre o processo.
1) Filtros minimizam gases
A utilização de filtros no processo crematório dispersa concentrações de gases e reduz a emissão de dióxido de carbono, principal gás responsável por poluir o planeta.
2) Sem necrochorume
O processo de cremação não gera nenhum tipo de resíduo que possa contaminar o solo por um longo período, nem penetrar nos lençóis freáticos e poluir poços artesianos e rios.
3) Lei mais rigorosa
A legislação ambiental relacionada à prática da cremação é mais rigorosa em comparação com o controle das emissões geradas no sepultamento.
A cremação parece ideal? O ecologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Vinicius Farjalla pontua que a diferença entre sepultamento e cremação, em termos ecológicos, é apenas o tempo.
"Quando um ser humano morre, o corpo vai se decompor e a biomassa vai se dissipar na natureza. No sepultamento, esse processo é devagar, enquanto na cremação, o processo é rápido, acontecendo de uma só vez. Então, em termos ecológicos, o impacto no meio ambiente é indiferente."
Fajarlla destaca que é mais importante pensar no impacto que a pessoa causa ao meio ambiente ao longo de sua vida, do que no momento em que a biomassa se decompõe. "O ser humano impacta muito mais o ambiente pelas suas ações no dia a dia do que quando o corpo entra em decomposição."
4) Comparação irrelevante
Em termos ecológicos, o impacto ambiental de optar pela cremação de um corpo é o mesmo que enterrá-lo em um cemitério. Não é relevante a diferença entre um e outro processo.
5) Única diferença é a velocidade
A cremação nada mais é do que um processo de decomposição acelerado pela combustão da biomassa pelo fogo. Processo este que, segundo o ecologista Vinicius Farjalla, tem impacto equivalente ao gerado pelo sepultamento, sendo apenas mais rápido.
6) Compensação em vida
Tudo que uma pessoa consumiu e produziu de resíduos durante a vida gera mais impacto ao meio ambiente do que a forma como ela será decomposta no final dela. Seja por sepultamento ou cremação. Segundo o ecologista, os esforços têm que estar direcionados para repensar o estilo de vida e o consumo e não deixar isso para a hora da morte.
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