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'Não é sobre canudo': atriz engaja 1,6 milhão de pessoas por lixo zero

"Não é sobre canudo": Rayssa Bratillieri engaja 1,6 milhão de pessoas por lixo zero - Reprodução/Redes Sociais
'Não é sobre canudo': Rayssa Bratillieri engaja 1,6 milhão de pessoas por lixo zero Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Lílian Beraldo

Colaboração para Ecoa, de Brasília

21/08/2022 06h00

Protagonismo e ação. Com essas duas palavras em mente, a atriz Rayssa Bratillieri, 24, deu início a um projeto para testar hábitos mais saudáveis no dia a dia. Ao lado da irmã, Lohana Bratillieri, que na época cursava engenharia ambiental, a atriz passou a implementar uma rotina mais sustentável e a dividir com o público suas descobertas. Surgiu assim, no Instagram, em 2018, o perfil "Comecei por Mim".

"É muito mais fácil a gente jogar a culpa no outro, a gente apontar pro governo, para as pessoas, para as empresas, em vez de olhar o que a gente pode fazer e como é que a gente pode aprender. O Comecei Por mim é um lugar de protagonismo e ação, entendendo que o que eu faço impacta não só o planeta como a vida das outras pessoas", disse Rayssa para Ecoa.

O que começou de forma ingênua, como ela mesma classifica, acabou ganhando um engajamento que a dupla não esperava. Além do número de seguidores — que já chegou a mais de 20 mil pessoas, em 2021, e hoje está na casa de 14 mil seguidores — o diálogo com o público e a descoberta de que as pessoas, em especial os jovens, tinham interesse no tema, fez com que o escopo do projeto aumentasse.

"A ideia basicamente era começar mudando pequenos hábitos e fazer uma troca com as pessoas. Mas foi maior do que a gente imaginava", afirma a atriz que ficou conhecida por interpretar a personagem Pérola Mantovani, da série Malhação.

De grão em grão

Para Rayssa, a consciência é o primeiro passo para mudança de atitudes. No caso dela, a discussão sobre o fim dos canudos plásticos foi o estopim para um maior engajamento. "Estavam discutindo essa questão no Rio e em São Paulo. E eu pensei: tanta coisa importante para melhorar e estão falando de canudo?", relembra a atriz que resolveu estudar e pesquisar a fundo a questão do plástico no mundo.

Com uma nova perspectiva sobre o tema, Rayssa passou a entender a falta de consciência ambiental de grande parte da população e a urgência do assunto. "Tudo gera impacto. A gente está aqui, a gente está vivendo, a gente está respirando e a gente está gerando impacto. Mas que impacto a gente quer gerar?", questiona.

"Hoje, eu tenho uma consciência tão grande sobre o impacto que eu sei quantas sacolinhas plásticas eu peguei no mês, porque eu não pego aleatoriamente. Mas eu comecei nas pequenas coisas".

Entre as mudanças de hábitos, ela destaca a substituição da bucha sintética amarelinha pela bucha vegetal, o algodão (para limpar maquiagem) pelo disco de crochê, o uso do coletor menstrual no lugar do absorvente comum e a substituição da escova de dentes de plástico pela de bambu. A atriz diz ainda que recusa o plástico de uso único - copo, garfinhos, faca, colher, canudo -, aderiu à correspondência digital e faz a separação do lixo (orgânico e reciclável).

Todas as opções sustentáveis que ela e a irmã iam adotando eram compartilhadas com o público por meio do Instagram.

À época, Rayssa explica que já não comia carne vermelha e que, depois de estudar sobre o impacto da produção de animais para consumo humano, retirou da alimentação tanto a carne de frango quanto o peixe. Derivados de leite também têm pouco espaço na dieta da atriz que prefere uma alimentação baseada em plantas, embora ainda coma ovo e queijo de vez em quando.

"A gente tem que entender que pequenas mudanças fazem diferença e impactam positivamente. Porque eu acho que a gente criou uma ideia de que 'ah, tudo bem, eu não vou fazer isso, porque ninguém faz'. Mas a ideia é totalmente oposta: o que você faz, faz a diferença. É muito melhor que muitas pessoas façam um pouquinho do que poucas pessoas façam um montão", acredita.

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Rayssa - Pri Nicheli  - Pri Nicheli
Rayssa Bratillieri deu início a um projeto para testar hábitos mais saudáveis no dia a dia
Imagem: Pri Nicheli

As mudanças de rotina e a troca de experiências com outras pessoas por meio das redes sociais acabaram levando Rayssa a ser convidada a dar palestras sobre sustentabilidade.

Em uma delas, ao lado de personalidades como o neto de Nelson Mandela, Ndaba Mandela, e do ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, Rayssa falou sobre empreendedorismo sustentável e feminino, para mais de 30 mil jovens de todo o mundo. Ela abordou a criação da Quero Ser Frö, uma marca de roupas assinada por ela e pela irmã e que tem a sustentabilidade em toda a cadeia de produção — desde a escolha dos tecidos à opção pela não existência de estoque.

"A gente criou uma coleção cápsula, com peças atemporais que tem tudo a ver com o slow fashion, peças de qualidade, que fossem totalmente conscientes. Eram doze peças que eu desenhei e eram feitas sob medida, respeitando o desenho de cada corpo e a importância do não estoque. A venda durou quinze dias."

Mais do que "vender roupas sustentáveis", o objetivo da dupla era conversar sobre o tema e dar um novo significado para a moda.

"O maior aprendizado foi fazer uma sequência de vídeos de conscientização para quem fosse adquirir da marca. Pra gente conversar e entender como é que a gente pode ressignificar a moda.E falando num lugar de uma pessoa que gosta de moda. Eu entendo a importância de você se vestir e você contar sua história através da sua roupa."

Furar a bolha

Para levar a temática da sustentabilidade cada vez mais longe, Rayssa quer apresentar um programa de entrevistas para "furar a bolha" e atingir pessoas que entendem pouco ou nada do assunto. Além de bater um papo com especialistas que expliquem conceitos e mostrem a necessidade da preservação do planeta, a atriz revela que quer destacar a importância de pequenos atos no dia a dia.

"Às vezes, a pessoa não percebe, mas ela já faz coisas, às vezes mínimas, mas isso já está no dia a dia dela e faz a diferença", diz a atriz citando como exemplo a recusa à impressão dos recibos de cartões de crédito e débito — cujo papel não é reciclável.

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