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Monitoramento de desmatamento e economia de energia: 5G vai salvar a Terra?

Homem utilizando o celular, na rua; 5G - FG Trade/iStock
Homem utilizando o celular, na rua; 5G Imagem: FG Trade/iStock

Rafael Burgos

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

24/08/2022 06h00

Monitoramento de desmatamento por drones, economia de energia e fazendas inteligentes: parece ficção científica, mas é só 5G. Com implementação prevista em todas as capitais brasileiras até dezembro deste ano, a tecnologia 5G chega ao país com a promessa de levar a conectividade a um novo patamar, beneficiando cidadãos e empresas de múltiplos setores — desde o agronegócio até a saúde.

Segundo a MIT Technology Review Insights, a tecnologia 5G seria 90% mais eficiente em termos energéticos por unidade de tráfego do que suas antecessoras. Em conversa com Ecoa, especialistas foram unânimes ao afirmar que a tecnologia abre uma janela de oportunidades para o Brasil dar um salto em sua agenda verde, de olho no cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os impactos, no entanto, devem ser de médio e longo prazo e demandam políticas públicas que aproveitem devidamente os benefícios do 5G.

Mas, afinal, o que é o 5G?

Quinta geração das redes móveis, o 5G tem como objetivo oferecer melhorias na cobertura, disponibilidade e velocidade de conexão à internet, tornando as conexões mais estáveis e com menor tempo de resposta entre diferentes dispositivos.

Na prática, a tecnologia pode chegar a uma velocidade cem vezes superior à do 4G, reduzindo significativamente o tempo para download e uploads de arquivos, como filmes, e criando oportunidades em diversos setores econômicos, que poderão se tornar mais sustentáveis, a partir do menor consumo de energia e do ganho de inteligência proporcionado por inovações tecnológicas, como a Internet das Coisas. Pra quem não sabe, Internet das Coisas se refere aos diferentes objetos capazes de estabelecer conexão com a internet, como as Smart TVs e os smartwatches.

A implementação dessa tecnologia no país traz, no entanto, alguns desafios ao meio ambiente, já que, por suas ondas percorrerem distâncias mais curtas, há a demanda por uma maior quantidade de antenas transmissoras em relação às tecnologias anteriores, o que gera poluição visual e eletromagnética. O maior uso de dispositivos propiciado pelo 5G também exige incentivos para uma produção ecológica, de modo a evitar um consumo irracional desses equipamentos.

Uma janela de oportunidades sustentáveis

Na opinião de Christian Perrone, líder das áreas de Direito e Tecnologia e GovTech do ITS Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio), o aumento de conectividade propiciado pelo 5G tem o potencial de aprimorar as políticas públicas de diversos segmentos, desde o setor de transportes, passando pelo energético até o monitoramento de questões ambientais.

"A grande questão do 5G é que ele abre as portas para uma série de tecnologias que, essas sim, podem gerar um impacto muito positivo no uso eficiente dos nossos recursos, isso sem falar nos benefícios diretos e indiretos que vêm da própria conectividade, como o maior acesso à informação e a serviços digitais", destaca.

Christian Perrone - Divulgação - Divulgação
O pesquisador Christian Perrone
Imagem: Divulgação

Uma das principais expectativas para essa nova tecnologia, segundo o especialista, reside no seu potencial de fomento à chamada economia do conhecimento, em que a geração de valor por meio de dados ganha protagonismo. Além de ser mais limpa, segundo ele, essa economia pode propiciar inovações importantes rumo a modelos de negócio mais sustentáveis.

"A maior oportunidade que o 5G oferece ao Brasil, tanto no sentido econômico como no da sustentabilidade, é a de direcionar a economia brasileira para elementos mais eficientes e, acima de tudo, para uma economia do conhecimento, que tende a ser mais limpa", finaliza.

Agenda 2030

Signatário da Agenda 2030, da ONU, o Brasil terá nesta década o desafio de endereçar os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecidos pela Organização, que envolvem a erradicação da pobreza, a promoção da agricultura sustentável, além de compromissos com o saneamento, energia limpa, consumo, dentre outros.

Para Marcio Kanamaru, sócio-líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da consultoria KPMG no Brasil, o 5G terá um papel fundamental a cumprir em tópicos centrais da agenda, como no caso da sustentabilidade do agronegócio.

"Há casos de uso muito interessantes na agricultura que já estão sendo utilizados como, por exemplo, o uso de drones para identificar pragas em tempo real. No caso da pecuária, tem ainda o controle do consumo de água para hidratar os animais, tudo isso integrado a uma fazenda inteligente, com sensores em tempo real. Isso aumenta muito a eficiência ambiental, reduzindo desperdícios", ressalta.

Marcio Kanamaru - Divulgação - Divulgação
O sócio-líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da KPMG Marcio Kanamaru
Imagem: Divulgação

A mesma conectividade também será importante, segundo ele, para reduzir as pegadas de carbono, além de exercer um controle mais eficiente das queimadas e do desmatamento, prática que sofreu aumento de 21% no país em 2021, segundo relatório anual do projeto Mapbiomas.

"A vigilância ativa das florestas tem sido cada vez mais feita por meio de drones que ficam vigiando pequenas áreas a partir de câmeras inteligentes, de olho em focos de incêndio, por exemplo. O 5G vai gerar uma melhoria muito grande nesse monitoramento", afirma.

Há, no entanto, um desafio ligado ao fator tempo, que pode contribuir para que alguns desses avanços demorem para surtir efeito.

"Sendo bem razoável, no curto prazo, esse impacto positivo do 5G deve ser pequeno, porque serão poucos dispositivos conectados e poucos locais com cobertura. A previsão é que o território brasileiro esteja plenamente conectado a essa tecnologia somente em 2029", pontua Christian, chamando atenção para o déficit tecnológico do Brasil em relação a países desenvolvidos.