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Nunca vi, só ouço falar: o que é ESG? Por que empresas investem na sigla?

Flora Bitancourt, CEO da consultoria Impact Beyond - Fernando Moraes/UOL
Flora Bitancourt, CEO da consultoria Impact Beyond Imagem: Fernando Moraes/UOL

Lígia Nogueira

Colaboração para Ecoa, de São Paulo (SP)

25/08/2022 06h00

A sigla ESG está mudando a maneira de se fazer negócios e movimentando investimentos globalmente. Do inglês Environmental, Social and Governance, o termo, na tradução para o português, envolve melhores práticas ambientais, sociais e de governança dentro de organizações.

Para se ter uma ideia da força desse conceito, hoje, segundo a consultoria norte-americana McKinsey, ações voltadas a ESG já alcançam US$ 30 trilhões em investimentos no mundo todo. O valor é 10 vezes maior do que o investido em 2004, o que demonstra a importância que ele ganhou.

Mas quem precisa de ESG? Como são as ações adotadas em seus diferentes eixos? O que muda em uma organização com uma proposta de ESG sólida? Ecoa ouviu especialistas e preparou um guia para responder essas e outras questões sobre o assunto. Veja a seguir.

De onde vem o termo ESG?

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Conceito de ESG surgiu de um questionamento sobre como empresas poderiam ter uma atuação positiva na sociedade por meio da integração de fatores ambientais, sociais e de governança
Imagem: iStock

O termo surgiu em 2004, a partir de uma provocação do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, a 50 CEOs de instituições financeiras. Ele queria entender como empresas poderiam ter uma atuação positiva na sociedade por meio da integração de fatores ambientais, sociais e de governança.

"O ESG é uma sigla pautada no mercado financeiro, para determinar esses parâmetros dentro das metas que as empresas têm para regular o seu valor na Bolsa. Com o boom do ESG, isso passou a ser quase um jargão quando falamos em estratégia de responsabilidade social e de governança", comenta Flora Bitancourt, CEO da consultoria Impact Beyond e ex-curadora de Ecoa.

Segundo a especialista, diferentemente do que ocorria nos anos 2000, quando ações de sustentabilidade não eram estratégias centrais das empresas, hoje as ações de ESG são lideradas pelos tomadores de decisão dentro das organizações.

O que compreende cada eixo da sigla?

Engana-se quem pensa que, por estar ligado à sustentabilidade, o conceito de ESG envolve somente a mitigação de danos ambientais. Uma empresa que incorpora práticas de ESG se preocupa, também, com relações envolvendo fornecedores, funcionários, transparência e prevenções de fraudes, por exemplo. Por representarem desafios da sociedade em geral, os critérios de ESG estão fortemente ligados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

No campo do E, de ambiental, as ações enfatizam a redução do impacto das operações da empresa no planeta, como a geração de resíduos e a emissão de gases de efeito estufa. Um exemplo de proposta nesse eixo é a adoção de veículos elétricos em frotas empresariais.

O critério S, de social, inclui as relações da empresa com seus públicos de interesse, como colaboradores e a comunidade de seu entorno. É o caso das relações trabalhistas, oportunidades que geram diversidade e inclusão, apoio a resolução de conflitos e criação de programas de voluntariado.

Já o eixo G, de governança, envolve práticas internas para a tomada de decisões de acordo com a lei. Isso pode incluir estratégias anticorrupção, de gestão de riscos e ações de transparência fiscal. "Esse 'G' precisa estar forte porque ele vai olhar para o 'E' e o 'S'. A governança precisa ser a guardiã de toda a sigla. Se a empresa não tem um código de conduta atualizado, um canal para manifestações, apuração de ocorrências, como vai cuidar do meio ambiente e da parte social?", questiona Deives Rezende Filho, CEO e fundador da Condurú Consultoria.

Para quem serve?

As práticas de ESG podem ser aplicadas em todo tipo de organização, defende Bernardo Vianna, professor convidado da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio). "Pode ser uma grande corporação ou uma empresa pequena. O desafio é fazer algo proporcional às suas necessidades e riscos. Não adianta uma empresa pequena ou média tentar fazer o que a Vale ou a Petrobras fazem. Para encontrar o ponto certo, é importante buscar orientação", recomenda ele.

O que muda em organizações que adotam esse conceito?

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Flora Bitancourt, da Impact Beyond
Imagem: Acervo Pessoal

Mais do que contar com estruturas voltadas à ESG, como comitês e diretorias específicas, obter certificados e investir em formação ou na contratação de profissionais nessa área, organizações que adotam esse conceito passam por um processo contínuo de avaliação. Primeiro, o cenário institucional é mapeado. Em seguida, tem-se o desenvolvimento de um plano de ação. O passo seguinte são as implementações, que costumam seguir uma ordem de prioridade. "Após a implementação, vem a etapa de monitorar o que está funcionando", explica Vianna.

No dia a dia, observa Flora Bitancourt, quando o conceito passa a ser aplicado nas organizações, a área de sustentabilidade deixa de ter verbas muito restritas e ganha um novo status. Os investimentos são ampliados e seu impacto também. "Ampliando a visibilidade que a mídia tem para acompanhar essas ações, a responsabilidade de fazer direito também se amplia", assinala.

Outra mudança apontada por Flora é o fato de que não só consumidores, mas também investidores, passam a exigir dessas empresas comprovações sobre o cumprimento das metas de ESG. "Por isso, hoje não se veem mais lideranças falando que projeto social não é importante, que sustentabilidade é abraçar árvore. Estamos vendo lideranças preocupadas com suas desconexões com a temática. Entenderam a emergência desse futuro e do agora", frisa.

Como mensurar os resultados do investimento em ESG?

Flora assinala que, ao desenhar a ação de ESG de cada empresa, seus gestores devem construir indicadores para medir esses resultados a curto, médio e longo prazo. É preciso estar ciente, contudo, de que algumas mudanças estruturais, como de problemas sociais, demandam um prazo maior para ter o impacto esperado. "Esse investimento precisa ser com visão de longo prazo, não é algo que vai sair na gestão atual", comenta.

Qual o custo-benefício do investimento em ESG?

Investir em melhores práticas ambientais, sociais e de governança tem um custo para empresas que nem sempre é baixo. Envolve criação de setores, investimento em contratações e formação profissional, além de consultorias e mudanças em processos.

Ainda assim, argumenta Deives Rezende Filho, levar a ESG para dentro das organizações é uma necessidade urgente e que pode impactar na sobrevivência da organização mais adiante. Isso acontece porque essas práticas vão refletir na reputação empresarial, captação de investimentos, redução de custos e retenção de colaboradores, entre outros fatores. "Adotar ESG não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona, mas que precisa ser iniciada", resume.