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5 coisas que podemos aprender com a novela 'Pantanal'

Maria Bruaca (Isabel Teixeira) na novela Pantanal - Reprodução/TV Globo
Maria Bruaca (Isabel Teixeira) na novela Pantanal Imagem: Reprodução/TV Globo

Rafael Monteiro

Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP)

27/08/2022 06h00

"Pantanal" é um fenômeno cultural que não se limita à ficção. Para além de uma fonte diária de entretenimento dos brasileiros, a novela tem se tornado uma valiosa e inesperada fonte de conhecimento sobre meio ambiente no horário nobre da TV. Entre uma bela paisagem e outra, o público tem sido incentivado a refletir sobre as maravilhas e problemas do próprio país enquanto se entretém no final do dia.

Abaixo, Ecoa relembra lições ensinadas - de maneira pedagógica ou não - pela novela até agora. Os temas vão desde o embate entre agroecologia e agronegócio no Centro-Oeste até as queimadas na região.

O que é agroecologia?

Apesar da novela abordar o agronegócio com a fazenda de José Leôncio (Marcos Palmeira), "Pantanal" também tem dado espaço para formas mais sustentáveis de ver e tratar a agricultura na emissora do famoso comercial "agro é pop". A principal alternativa é a agroecologia, ciência apresentada com a chegada da personagem Miriam, vivida por Liza Del Dala, na trama.

De forma resumida, a agroecologia pode ser definida como um estudo da agricultura a partir de uma perspectiva ecológica. Ao mesmo tempo em que ela prioriza a produção de alimentos saudáveis e de qualidade, a ciência prega o combate à fome e o respeito ao agricultor ou agricultora responsável pelo plantio. Sendo assim, os adeptos das técnicas agroecólogas não usam veneno, respeitam o ciclo da natureza e têm preocupação primariamente social.

A agroecologia, portanto, bate de frente com os interesses do agronegócio, modelo que visa o lucro com a produção de alimentos.

"Quanto mais o agronegócio avança, menos agroecologia. Os dois são antagônicos e não podem conviver no mesmo espaço. As dimensões dos impactos do agronegócio, um modelo que é quimicamente dependente e geralmente latifundiário, vão contra os princípios da agroecologia", analisa Fran Paula, engenheira agrônoma, mestre em Saúde Pública e representante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) na "Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida".

Jove (Jesuita Barbosa) conheceu a agroecóloga Miriam (Lisa Del Dala) em Pantanal  - Globo/ João Miguel Júnior - Globo/ João Miguel Júnior
Jove (Jesuita Barbosa) conheceu a agroecóloga Miriam (Lisa Del Dala) em Pantanal
Imagem: Globo/ João Miguel Júnior

Como ocorrem as mortes dos rios?

Por causa do Velho do Rio (Osmar Prado), muita gente passou a se preocupar com a "morte dos rios". O assoreamento, outro nome dado ao fenômeno, é um problema real para a população do Pantanal, cuja paisagem já tem sido afetada, com o apodrecimento de árvores e fuga de peixes e aves.

O problema acontece quando o rio perde força para transportar os sedimentos que recebe, como terra, troncos e árvores. O material acaba se acumulando no fundo - o que faz com as águas percam força. Neste caso, os rios viram poças e passam a correr o risco de desaparecer na vegetação.

Segundo a Embrapa, o problema é causado na região principalmente pela ocupação desordenada de grandes fazendas na região do Alto Taquari, por onde passa o rio Taquari. "Até os incêndios de 2020, o assoreamento do Taquari era chamado como o 'maior desastre ambiental da história do Pantanal'", explicou o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Carlos Mierzwa, do departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Politécnica, ao Ecoa.

Velho do Rio em 'Pantanal' - Globoplay/Reprodução                             - Globoplay/Reprodução
Velho do Rio em 'Pantanal'
Imagem: Globoplay/Reprodução

Como as queimadas afetam o pantanal?

Em junho, imagens reais de queimadas na região foram vistas em alguns capítulos de "Pantanal". Os registros foram feitos entre 2019 e 2020, quando a região perdeu aproximadamente 4 milhões de hectares - 2,2 milhões no Mato Grosso e 1,7 milhão no Mato Grosso do Sul.

Segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), coletados entre 1º de janeiro e 30 de junho deste ano, as queimadas ameaçam cada vez mais a região. Foram detectados no período um total de 517 focos de incêndio no pantanal - um aumento de 39% na comparação com o primeiro semestre de 2021.

O Pantanal mudou muito desde a versão original

Quem acompanhou a primeira versão de "Pantanal", exibida na TV Manchete em 1990, talvez tenha percebido mudanças nas paisagens da trama 32 anos depois. Os efeitos vistos na natureza, infelizmente, representam um alerta para o Brasil: conhecida como a maior planície alagada do mundo, a região perdeu um quarto de água viu a sua área desmatada da região dobrar nos últimos 30 anos.

José Leôncio (Marcos Palmeira) em Pantanal - Reprodução - TV Globo  - Reprodução - TV Globo
José Leôncio (Marcos Palmeira) em Pantanal
Imagem: Reprodução - TV Globo

E os atores? O que aprenderam com a novela até aqui?

Ativista ambiental de longa data, Marcos Palmeira tem em comum com Jose Leôncio o apreço pela natureza. A Ecoa, ele revelou que vai reflorestar uma área de sua fazenda de 100 hectares, localizada na Estrada Teresópolis-Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, com 200 mil mudas de espécies nativas da Mata Atlântica.

Já Juliana Paes, uma das estrelas da primeira fase de Pantanal, por sua vez, se sensibilizou com a causa ambiental durante as gravações e se tornou embaixadora do Instituto Arara Azul, que promove há décadas a conservação das araras azuis em seu ambiente natural. "[A novela] Abriu um mundo na minha cabeça. [Trouxe] a certeza de que por menor que seja nosso alcance para agir, sempre dá para fazer um pouco pela causa ambiental. Cada um de nós pode fazer um pouquinho, pode divulgar, ajudar na conscientização. Mas tem que ser logo", contou ela a Ecoa.