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Adote um coral: Turistas podem ajudar a salvar florestas submersas em PE

Conhecidos como "florestas tropicais submersas" corais servem de casa para 25% das espécies que vivem no oceano - iStock
Conhecidos como 'florestas tropicais submersas' corais servem de casa para 25% das espécies que vivem no oceano Imagem: iStock

Rafael Monteiro

Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP)

01/09/2022 06h00

Em 2021, Ecoa repercutiu o trabalho da Biofábrica de Corais, uma startup criada para restaurar corais com berços criados em impressoras 3D em Pernambuco. Um ano depois, após 1,2 mil mudas serem colocadas em cultivo em Porto de Galinhas e Tamandaré, o projeto planeja uma expansão. Estão nos planos um novo trabalho em Alagoas e, ainda, lançar um programa próprio de turismo. Com mergulhos guiados por cientistas, a ideia é que turistas vejam em breve - e de muito perto - o impacto da iniciativa no fundo do mar.

A ideia da criação de um projeto de "turismo regenerativo", com proposta científica, é vista com ansiedade dentro da startup. Lançado oficialmente em 29 de junho deste ano, o programa precisou ser adiado devido às fortes chuvas que atingiram Pernambuco, principalmente naquele mês. "A gente imagina que vai começar as atividades na primeira semana de setembro", adianta Rudã Fernandes, coordenador científico da Biofábrica de Corais.

Criado para promover três tipos de experiência, o programa é visto como uma possível nova fonte de renda para o projeto. Além do chamamento para turistas, a startup está lançando o programa "Adote um Coral", que possibilita que amantes da natureza se tornem tutores de corais avaliados entre R$ 60 e R$ 3 mil. "Eu espero que as atividades sejam responsáveis por dar escala para as nossas ações. Serão mais pessoas colocando a mão na massa", afirma Rudã.

Mas o que é um coral?

Por mais que sejam conhecidos como "florestas tropicais submersas", os corais são plantas. Trata-se de um animal cnidário, como as anêmonas-do-mar e as águas-vivas, com a diferença de ser imóvel e conectado por um esqueleto de carbonato de cálcio.

Corais crescem em berçário de impressora 3D instalado em Porto de Galinhas (PE) pelo BioBiofábrica de Corais - Reprodução/Biofábrica de Corais - Reprodução/Biofábrica de Corais
Corais crescem em berçário de impressora 3D instalado em Porto de Galinhas (PE) pelo BioBiofábrica de Corais
Imagem: Reprodução/Biofábrica de Corais

Os corais vivem em simbiose com os pólipos, que fornecem nutrientes e oxigênio por meio da fotossíntese. Os organismos se unem para formar os recifes de corais, que servem de lar para 25% de organismos que habitam os oceanos. Entre outras vantagens, eles são capazes de transformar o CO2 em oxigênio e fornecem matéria-prima para o setor farmacêutico.

Os motivos para salvar os corais, portanto, são muitos - e inclusive econômicos. Como cerca de 80% de todo o turismo do mundo ocorre em áreas costeiras, a Biofábrica estima que os recifes de corais rendam US$ 36 bilhões em receita de turismo, mobilizando 350 milhões de pessoas por ano.

O programa de turismo

Tendo em vista a oportunidade financeira, a Biofábrica de Corais quer mostrar para os turistas in loco o trabalho de restauração de corais. No dia a dia, os cientistas da startup coletam os corais enfermos tombados no fundo do mar e os colocam em mesas de cultivo, os chamados berços, posicionados em piscinas naturais. Após o crescimento dos organismos, eles são transplantados de volta na natureza.

A Biofábrica de Corais pretende promover três tipos de experiências turísticas:

1. Propósito Recifal (R$ 300): turistas poderão flutuar pelos berçários de corais com a ajuda de snorkel - um tubo acoplado à máscara de mergulho e colocado na boca do mergulhador. Não é preciso saber nadar. Duração: três horas.
2. Imersão Oceânica (R$ 800): turistas poderão mergulhar com a ajuda de cilindros e participar de pequenas ações de manejo de corais embaixo d'água. Duração: quatro horas.
3. Liberdade Azul (R$ 1,1 mil): nesta experiência, criada para atender o público jovem das redes sociais, o turista mergulha apenas com uma máscara de mergulho, um respirador e nadadeiras e vê de perto os corais restaurados. De quebra, ganha um ensaio fotográfico subaquático exclusivo. Duração: quatro horas.

Nova parada: Maragogi

A princípio, o projeto de turismo estará disponível somente em Porto de Galinhas, em Pernambuco. Buscando novas fontes de renda, a startup, no entanto, se prepara para atracar com o projeto de restauração em outra cidade, Maragogi, em Alagoas. Trata-se de um ponto-chave da região da Costa dos Corais, uma área de proteção ambiental que abrange o litoral norte de Alagoas até sul de pernambuco.

"A licença de instalação ainda não saiu. A gente tem acompanhado o processo e já está em fase de concretização. O analista já deu um parecer. Com alguns ajustes, a gente deve começar a trabalhar com a restauração dos corais dentro de poucos dias", conta Diego Vasconcelos, secretário de turismo de Maragogi. Além dos corais, a região protege os manguezais e o peixe-boi, animal que está ameaçado de extinção.

Próximos passos: preparação contra uma nova onda de branqueamento

A temperatura global do oceano aumentou 1,3º C desde o final do século 19. As mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento do planeta são extremamente danosas para os corais, provocando a expulsão das zooxantelas das algas e a destruição de seus pigmentos fotossintetizantes. Os corais, assim, se embranquecem, gerando o fenômeno chamado de "branqueamento".

Ainda que corais consigam sobreviver à condição, a situação aumenta as chances de morte dos organismos. Em 2020, na última onda de branqueamento em Porto de Galinhas, 100% dos corais da espécie Mussismilia harttii foram atingidos pela condição, de acordo com números dos cientistas da Biofábrica. Principalmente por causa das mudanças climáticas, mais de 90% dos corais do planeta têm a sua existência ameaçada até 2030.

"Nosso próximo passo é consolidar o nosso modelo de integração entre estudos científicos e atividades tradicionais, como o turismo. A Biofábrica de Corais tem o desafio de crescer e aumentar a área de atuação de forma muito rápida até o início da próxima onda de branqueamento. Nós queremos fazer um manejo efetivo de salvamento, não relatar apenas a mortalidade dos corais", finaliza Rudã.