1º cinema movido a energia solar do Brasil roda o país com sessões de graça

Um cinema itinerante e totalmente movido a energia limpa. Inaugurado na cidade de Londrina, no Paraná, o 'CineSolar', primeiro cinema movido a energia solar do Brasil, conta com sessões e pipoca gratuitas e pretende democratizar o acesso de comunidades a produções nacionais.

Em conversa com Ecoa, Cynthia Alario, coordenadora da iniciativa, explicou que a ideia de trazer a inovação para o país surgiu após participar de um evento sobre cinemas itinerantes que ocorreu no México. Por lá, conheceu a tecnologia e se encantou. Ela destacou ainda que, em breve, o cinema estará visitando comunidades de outros estados brasileiros.

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"Há 20 anos fundei a Brazucah, uma produtora que atua no desenvolvimento de circuitos exibidores alternativos para o cinema brasileiro e, em 2010, fui convidada para participar de um encontro de cinemas itinerantes latino-americanos, onde conheci um projeto de cinema solar holandês, o Solar Cinema. Me inspirei na ação deles e, em 2013, desenvolvi o CineSolar, que no Brasil não é só um cinema itinerante, mas uma estação móvel de ciências, arte, tecnologia, sustentabilidade e cultura de paz", contou.

"Por onde passamos realizamos oficinas e atividades, que vão além do audiovisual do cinema. Hoje integramos a Solar World Cinema, uma rede internacional de cinemas itinerantes movidos a energia solar, com a participação de vários países como Holanda, África do Sul, Nepal, Chile, Croácia e Austrália, entre outros", acrescentou.

Uma iniciativa tecnológica e sustentável

Além da arte, o projeto realiza compensação de carbono em parceria com a Ecooar, com cerca de 300 árvores já plantadas em área de manancial. Também promove ações em conjunto com a Representação da Unesco no Brasil e a Unipaz (Universidade Internacional da Paz).

Com o objetivo de agregar tecnologias, como explica Cynthia, o cinema itinerante tem um sistema fotovoltaico off-grid, de conversão e inversão de energia, e armazenamento através de um banco de baterias que garante 20 horas de autonomia. As placas foram instaladas no teto de um furgão, que também foi adaptado para abrigar a equipe e todos os equipamentos necessários para a sessão de cinema e as oficinas.

"Hoje, rodamos o país com duas vans, batizadas de Tupã e Mahura, que também foram grafitadas para levar arte para todos. Cada uma delas carrega 110 cadeiras e banquetas para o público e todo o sistema de som e projeção para o cinema. E, quando a gente tira tudo lá de dentro, o espaço se transforma em uma sala de aula, onde o público é convidado a entender, de maneira descontraída e divertida, como a luz do sol se transforma em energia elétrica", completou.

Os infográficos, a iluminação e a decoração especial — feita com materiais reciclados e objetos com princípios de magnetismo e eletricidade como laser e bola de plasma — são uma atração à parte, que encanta pessoas de todas as idades.

"A nossa fonte é uma energia limpa e renovável, a energia do sol. Esse é o nosso diferencial. O sistema fotovoltaico do CineSolar é composto por seis placas solares, controladores de carga e baterias estacionárias da Heliar. São seis baterias, que geram 20 horas de autonomia para o sistema (projetor e amplificador), que gasta em média mil watts/hora", disse a idealizadora.

Com sessões gratuitas para toda a população, com distribuição de pipoca, a atração sempre começa com curtas-metragens brasileiros e, depois, são exibidos filmes como "Rio 2", "Turma da Mônica", "Mogli - O Menino Lobo", "Dumbo", "Cine Holliúdy", e "O Auto da Compadecida".

Democratizando a cultura

Cynthia conta ainda que, por onde o projeto passa, a recepção da população é sempre muito boa. Segundo ela, as pessoas se encantam com a iniciativa e ficam curiosas para entender um pouco sobre a energia solar.

"Então, acaba sendo uma interação importante. Costumo dizer que o CineSolar é para crianças de 0 a 80 anos. Atualmente, menos de 10% dos municípios brasileiros têm salas de cinema. Vale ressaltar que não se trata somente de uma sessão de cinema, mas de uma opção cultural para muitas cidades, para as famílias. Em todos os lugares que chegamos, seja nas comunidades quilombolas ou indígenas e até em grandes capitais, sempre encontramos crianças, idosos e até adultos que nunca foram ao cinema ou que nunca sentaram para assistir a um filme", explicou.

A dona de casa Valdenice Nascimento, 34 anos, levou as quatro filhas para assistir a uma sessão. A família mora em um assentamento rural e não tem acesso a eventos de cultura. A noite foi de emoção e, segundo ela, com gosto de 'quero mais'.

"Para a gente que mora aqui em área de assentamento foi muito interessante. A gente imagina que vai ter isso só lá fora. Foi uma noite diferente até demais, viu? A gente riu muito com o desenho animado, minhas filhas gostaram demais. Até disse para uma delas, que vai estudar agronomia, que ela é feito o pássaro do filme, que vai levantar voo e vai para o mundo", finalizou.