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Economia de luz e melhor para a saúde: conheça a 1ª telha solar do Brasil

Telha solar modelo "Eternit Solar", maiores e produzidas para galpões e pequenas empresas - Divulgação
Telha solar modelo "Eternit Solar", maiores e produzidas para galpões e pequenas empresas Imagem: Divulgação

De Ecoa, em São Paulo (SP)

13/09/2022 06h00

Preocupações com o consumo de energia e com os riscos à saúde provocados por uma substância química presente nas telhas levaram uma empresa brasileira do segmento de coberturas a apostar numa solução sustentável: telhas de concreto geradoras de energia solar.

Disponíveis no mercado desde o começo desse ano, as telhas solares substituem as conhecidas chapas escuras sobre as casas, com a instalação de pequenas placas ajustadas à ondulação dos telhados de concreto. Assim como uma placa convencional, as telhas solares captam energia do sol e eletrificam a residência ou empresa.

Após mais de três anos de testes, a fabricante afirma já ter 50 clientes com o telhado solar no estado de São Paulo. Apesar de limitações técnicas, os representantes dizem que a solução permite reduzir em até 90% a conta de luz. A Eternit, responsável pelo modelo, não revela o custo da instalação.

Como são e qual a capacidade das telhas?

São dois modelos: a tégula solar, menor e indicada para residências, e a Eternit Solar, maior e voltada para galpões e médias empresas. O modelo residencial possui cores diferenciadas, como vermelho e bege, e duas texturas diferentes. Cada tégula solar residencial produz 1,15 Kwh/mês. A versão maior produz 17,78 Kwh/mês.

E se estiver nublado?

A capacidade das telhas pode ser afetada por um dia nublado, à noite, durante uma estação menos ensolarada ou, ainda, pela sombra de prédios e árvores. Para prevenir a queda de energia nessas situações em que a captação solar é insuficiente, a empresa instala um aparelho conversor que tem a função de "puxar" a energia da rede convencional da companhia de energia elétrica.

Quanto dá pra economizar?

O engenheiro químico Roberto Kirschner, dono de uma casa de 360 m² em Bragança Paulista, interior de São Paulo, instalou as placas há mais de um ano. "No inverno, pago um pouco a mais, mas a minha redução na conta de luz foi de 90%", diz. "Primeiro, me interessei porque é mais bonito [o telhado solar]. Depois, pela pegada ecológica e sustentável", afirma.

Como surgiu a solução?

Segundo Luiz Lopes, gerente de Desenvolvimento de Novos Negócios da Eternit, o desenvolvimento da solução começou em 2017, após pesquisas na Ásia, Europa e Estados Unidos. As estações ensolaradas do Brasil, juntamente com a alta demanda por energia limpa e o acesso a equipamentos fotovoltaicos cada vez mais baratos, formaram o cenário ideal para a telha. "Para a gente foi uma solução integrar a construção tradicional com uma novidade, a energia fotovoltaica", explica.

Quem é a empresa responsável pela telha solar?

A Eternit existe há 80 anos e faz parte do grupo da mineradora Sama, exportadora de amianto, utilizado na fabricação de telhas, em Goiás. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o amianto é cancerígeno e mais de 70 países proíbem seu uso.

Em nota, a empresa acrescenta que a tégula solar é feita de concreto e a Eternit Solar — como é chamada a solução — é de concreto e polipropileno, um tipo de plástico usado na substituição do amianto.

Tégula solar: telha solar se adapta às curvas das telhas de concreto convencionais - Divulgação - Divulgação
Tégula solar: telha solar se adapta às curvas das telhas de concreto convencionais
Imagem: Divulgação

A empresa resistiu a abandonar o amianto até ficar para trás das concorrentes, que encontraram alternativas. Em 2018, anunciou uma recuperação judicial.

Só entre 2000 e 2010, 2400 pessoas morreram com doenças relacionadas ao amianto no Brasil, segundo estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Uma parcela das viúvas só venceu processos muitos anos após a morte dos maridos, devido a recursos judiciais da Eternit, como mostra reportagem do UOL em 2018.

Apesar de milhões investidos no financiamento de estudos visando demonstrar que o amianto era seguro, em 2017 o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu o uso da substância no Brasil.

Com o desenvolvimento de telhas geradoras de energia limpa, a empresa anunciou investimentos em novas fábricas no interior de São Paulo. No site da Sama há um anúncio de custeio de despesas médicas gratuitas aos empregados e ex-empregados da planta de Minaçu, em Goiás.

Por que a economia é tão alta?

Neste ano, a Lei nº 14.300 permitiu a microgeração e a geração compartilhada de energia limpa. Na prática, qualquer brasileiro pode gerar sua própria energia renovável, como a fotovoltaica (solar) ou eólica (vento), sem depender da companhia de energia elétrica.

Modelo de tégula solar: telha com placas fotovoltaicas adaptadas para residências - Divulgação - Divulgação
Modelo de tégula solar: telha com placas fotovoltaicas adaptadas para residências
Imagem: Divulgação

Ou seja, se telhas forem suficientes sem rede convencional, o cliente paga só o custo básico mensal da companhia elétrica. O valor fixo é cobrado, por exemplo, quando se sai durante um mês de férias. Caso se utilize a rede, a redução é menor do que os 90% anunciados pela empresa.

De quantas telhas eu preciso para minha casa?

Segundo a Eternit, uma casa com 45 a 60 m² e consumo de 100 kWh/mês precisaria de 84 telhas solares, que ocupariam 12 m². Já uma casa com mais de 150 m² e consumo médio de 600 kWH mensais precisaria de 504 telhas, que ocupariam 68 m². Para instalá-las, a fabricante informa que é preciso uma inclinação mínima de 17º. Segundo a descrição técnica, as telhas solares possuem 20 anos de vida útil.