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Revolucionou em 1859: quem é 1ª escritora negra homenageada pela Flip

Busto de Maria Firmina dos Reis instalado na Praça do Pantheon, em São Luís (MA) - Wikimedia Commons
Busto de Maria Firmina dos Reis instalado na Praça do Pantheon, em São Luís (MA) Imagem: Wikimedia Commons

Camilla Freitas

De Ecoa UOL, em São Paulo (SP)

14/09/2022 06h00

A escritora Maria Firmina dos Reis foi a escolhida para ser homenageada na tradicional Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, a primeira presencial depois de dois anos. A escritora é a quinta mulher a receber uma homenagem e a primeira negra. Até agora, já foram escolhidas Clarice Lispector, Ana Cristina César, Hilda Hilst e Elizabeth Bishop.

"As personagens e narrativas memoráveis de Maria Firmina têm inspirado coletivos de leitura, professoras e autoras contemporâneas com sua linguagem, imagens e abordagens de um Brasil real e ficcional que atravessa duzentos anos de uma independência controversa", diz o texto da curadoria da Flip enviado à imprensa.

Mas quem foi Maria Firmina dos Reis? Para você conhecer um pouco mais sobre a escritora homenageada, Ecoa separou cinco curiosidades sobre ela.

Primeira autora a publicar um romance no Brasil

Maria Firmina dos Reis não foi só a primeira negra a ser homenageada pela Flip. Ela foi pioneira em muitas outras coisas dentro da literatura. A maranhense é autora de "Úrsula", primeiro romance publicado por uma mulher e por uma mulher negra no Brasil.

Além disso, esse também foi o primeiro romance abolicionista, ou seja, que abordava o fim da escravidão - narrado do ponto de vista de escravizados - , escrito em língua portuguesa.

Folha de rosto da primeira edição do livro 'Úrsula', publicado em 1859 por Maria Firmina dos Reis - Domínio público - Domínio público
Folha de rosto da primeira edição do livro 'Úrsula', publicado em 1859 por Maria Firmina dos Reis
Imagem: Domínio público

Úrsula: um marco para o Brasil

Já imaginou a loucura que foi para a sociedade escravista brasileira ver uma mulher negra publicando um livro em 1859, 29 anos antes do fim da escravidão? Então, apesar do pioneirismo, Maria Firmina e sua obra mais conhecida foram deixadas ao esquecimento. Só recentemente a escritora e seu livro vêm sendo mais estudados e lidos.

"[Maria Firmina dos Reis] é uma intelectual que deveria estar presente desde sempre no rol de intérpretes e pensadores do Brasil e, no entanto, é ainda pouco conhecida. O silenciamento da autoria negra é sistêmico e organiza nosso sistema literário", comentou sobre a autora Fernanda Miranda, pesquisadora e autora de "Silêncios Escritos: Estudos de Romances de Autoras Negras Brasileiras (1859-2006)

Maria Firmina dos Reis recriada por João Gabriel dos Santos Araújo em concurso realizado pela Flup. - Reprodução - Reprodução
Maria Firmina dos Reis recriada por João Gabriel dos Santos Araújo em concurso realizado pela Flup.
Imagem: Reprodução

Mais livros escritos

Maria Firmina não parou por aí, não. A autora lançou mais um livro chamado "Gupeva" em 1861. Dessa vez, a temática foi indigenista. E, nos anos seguintes publicou, também, poemas, contos e outros textos em vários jornais maranhenses. Toda sua poesia foi compilada em um só livro publicado em 1871 chamado "Cantos à beira-mar".

Mais uma curiosidade: as mesas da Flip terão como nome versos das poesias de Maria Firmina como "Pátrios Lares", "A Festa das Irmãs Perigosas" e "O Que Deixaram Para Adiante".

O legado de Maria Firmina dos Reis é o de uma insistente vigilância sobre os valores humanos, capaz de situar, no centro do debate contemporâneo, a educação e a imaginação, mas também a educação para a imaginação.

Texto dos curadores da Flip

Pioneira mais uma vez

Se antes falamos como Maria Firmina dos Reis foi pioneira na literatura, agora vamos ter que falar sobre como ela foi pioneira, também, em outras áreas de sua vida. No Maranhão, ela não só foi a primeira mulher a ser aprovada em um concurso público, como também passou em primeiro lugar.

Educação para negros e negras

Em 1880, Maria Firmina fundou uma escola mista no Maranhão, ou seja, na escola da escritora, meninos e meninas poderiam estudar juntos na mesma classe, o que era extremamente raro na época.

No período, grande parte dos analfabetos no Brasil eram negros, até porque os escravizados não tinham o direito de estudar. Mas para Maria Firmina essa era uma realidade que deveria ser mudada e, em sua escola, negros também podiam assistir às aulas.

Lima Barreto - Reprodução - Reprodução
Em 2017, escritor Lima Barreto se tornou o primeiro negro homenageado pela Festa Literária Internacional de Paraty depois de 15 edições
Imagem: Reprodução

Sobre a Flip

Essa é a segunda edição com curadoria coletiva. Fernanda Bastos, que fundou a editora negra e independente Figura de Linguagem, Milena Britto, professora na UFBA, e Pedro Meira Monteiro Brazil, professor em Princeton, assinam a curadoria.

Com o tema da edição será "ver o invisível" a festa que tradicionalmente acontece em julho, dessa vez, por conta da pandemia de covid-19, acontecerá entre os dias 23 e 27 de novembro de 2022.