Brasileiro chefia maior jardim botânico do mundo, que foi de Elizabeth 2º
O Royal Botanical Gardens, Kew, na Inglaterra, é um dos mais antigos jardins do mundo, com mais de 260 anos, tem como patrona direta a recentemente falecida Rainha Elizabeth 2ª e é considerado pela Unesco como patrimônio da humanidade, reunindo um extenso catálogo de plantas e fungos em escala mundial, que ultrapassa a marca de milhões de espécies.
À frente desse verdadeiro 'reino vegetal' está um brasileiro: Alexandre Antonelli é diretor de ciência do Royal Botanical Gardens, assumiu o cargo em 2019 e coordena pesquisas e estudos com as mais variadas espécies de vegetais presentes no local.
Natural de Campinas (SP), antes de assumir o cargo de direção do Kew, Antonelli passou anos como professor na Universidade de Gotemburgo (Suécia), onde lecionava sobre biodiversidade. "Trabalhei com plantas e biodiversidade ao longo de toda a minha profissão, Kew é um lugar onde temos a maior coleção delas", conta para Ecoa.
As sementes, fungos e vegetais presentes no local servem como uma espécie de termômetro que aponta para que lado vai o planeta em termos de mudanças climáticas e preservação do meio ambiente, além de integrar uma biblioteca de conhecimento mundial sobre o jardim e a vida nele.
Plantas ajudam na busca de soluções para aquecimento global e fome
Para muito além da beleza das folhagens e flores, o Jardim Botânico Real investe no estudo de suas espécies a fim de compreender problemas que assolam o planeta. Isso é feito ao comparar e observar o desenvolvimento de plantas e fungos ao longo do tempo.
"O Royal Botanical Gardens, Kew é uma organização científica global que pesquisa soluções para alguns dos maiores desafios que as sociedades enfrentam. Nosso trabalho contribui para encontrar soluções baseadas na ciência para a perda de biodiversidade, mudanças climáticas e segurança alimentar", explica Antonelli.
De acordo com Antonelli, compreender as origens evolutivas de diferentes espécies e como elas se adaptaram a períodos anteriores às mudanças climáticas ajuda a prever a resposta e tolerância [das espécies] à crise climática em andamento no planeta.
Mas além de observar a reação dessas espécies ao aquecimento global ao longo dos anos, o pesquisador explica que é essencial a esse estudo analisar as interações entre humanos e plantas no decorrer da história.
"A história entre humanos e plantas também é importante e abre a oportunidade para testar hipóteses específicas, como por exemplo, sobre propriedades médicas desses vegetais", esclarece Antonelli.
"Estamos fazendo o máximo para contar essa história de interação das pessoas com as plantas de várias perspectivas, incluindo seus primeiros usos, cultivo e valores econômicos. Esse estudo é feito por meio de nossos sinais de interpretação diretamente no jardim e online em nosso extenso banco de dados", completa.
Uma enciclopédia de plantas aberta a todos
O Kew Gardens tem como origem uma coleção particular de jardins botânicos financiados pela família real. Foi a princesa Augusta que fundou o jardim botânico em 1759. No entanto, em 1772, o filho dela, rei George 3º, herdou a propriedade de Kew e juntou-a à propriedade real em Richmond - dois jardins se tornaram um. Por isso o uso no plural: gardens (jardins, em inglês).
Atualmente, é um local público parcialmente financiado por contribuintes e por meio de modelos comerciais autogeridos. O conhecimento gerado pela catalogação das mais de milhares de espécies de plantas e fungos é livre a todos do mundo de forma online e reúne as coleções passadas e presentes no jardim, que conta hoje com mais de 50 mil espécies vivas.
Antonelli intitula essa grande catalogação de espécies como uma verdadeira 'revolução digital', que ajudará a compartilhar a riqueza do conhecimento centenário do Kew Gardens.
"Fornecemos aos cientistas de todo o mundo acesso sem precedentes às coleções com mais de 8 milhões de espécimes de plantas e fungos", diz Antonelli.
Os dados estão formato aberto e passam por um sistema de digitalização massivo, que faz parte de um programa de ciência da instituição, o Kew Science Strategy2021-2025, que tem como objetivo expandir o acesso a nível global.
"Continuamos a examinar e avaliar nossas coleções científicas e históricas, trabalhando com nossos parceiros internacionais para diversificar as estruturas nas quais comunicamos nossas histórias. Parte disso envolve tornar nossas coleções de plantas, fungos, literatura botânica e outros espécimes acessíveis ao público e pesquisadores", comenta Antonelli.
Proteção de plantas, ecossistemas e povos originários
As atividades do Kew ajudam a preservar uma grande variedade de fungos e vegetais, mas estende esse cuidado levando seus pesquisadores a trabalharem frequentemente com comunidades locais e povos indígenas, e assim garantir que seus conhecimentos e meios de subsistência sejam protegidos ao lado dos ecossistemas que estudam.
"Estamos protegendo dezenas de milhares de espécies de plantas em seus locais naturais e trabalhando com parceiros em todo o mundo para identificar áreas prioritárias para conservação 'in situ' [onde as espécies ocorrem e vivem naturalmente]", explica Antonelli.
"Minhas experiências pessoais nos ecossistemas brasileiros me ajudam a entender os desafios existentes para proteger a biodiversidade, mas também me dão esperança para as grandes descobertas científicas que aguardam os cientistas", completa.
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