'Com a mão e coração': Pescadores retiram 10 toneladas de lixo de rio em PE
Pneus, garrafas PET, móveis e até uma bicicleta seminova. Esses são exemplos do que pode ser encontrado nas águas do rio Capibaribe, principal flúmen pernambucano que corta a capital do estado, Recife. Na última semana, uma tradicional iniciativa promovida pela ONG Recapibaribe, em parceria com pescadores, retirou mais de dez toneladas de lixo do rio.
De acordo com a organização do evento, intitulado "Há Gosto Pelo Capibaribe", 75 pescadores participaram do encontro. Todos os participantes receberam R$ 100 para deixar o barco a disposição da ONG por um dia. Além da ajuda, o pescador que conseguiu recolher mais resíduos ganhou prêmio de R$ 300.
A Ecoa, Maria do Socorro Cantanhede, fundadora e coordenadora da ONG Recapibaribe, contou que possui uma relação afetiva com o rio desde a infância. Filha de pescador, viu o principal sustento da família ser molestado pela ação de descarte irregular de lixo, o que afetou a vida das espécies naturais do flúmen.
"Cresci vendo o respeito do meu pai pelo rio. E o cuidado que ele tinha. Ver aquelas águas poluídas me dói muito. Resolvi montar a ONG para realizar ações de ajuda ao rio. Não foi uma ideia e sim a responsabilidade de cidadã com o meio ambiente", contou.
Na edição deste ano do projeto, chamou a atenção a quantidade de descartes aleatórios retirados das águas. Entre eles, 800 capacetes, 700 pneus e 150 bacias sanitárias.
"Como eu sempre tive a minha fonte de renda vindo do Capibaribe, nada mais justo do que pensar nele e desejar que ele seja melhor para as futuras gerações. Mas com o crescimento da cidade e o desajuste político de hoje, ninguém respeita o meio ambiente, só pensa no consumo e tudo é descartado no Capibaribe. Principalmente, toda a rede de esgoto, matando a vida aquática dos mares e rios", argumentou.
'Limpando com as mãos e o coração'
Maria do Socorro explica que toda a retirada de lixo foi feita pelos voluntários, que, literalmente, colocaram as mãos nas águas. No fim, todo material recolhido foi disponibilizado à empresa de manutenção urbana do Recife, que se responsabilizou por separar os recicláveis e descartar corretamente o restante.
"Gostaríamos de colocar a mão dentro do rio, nas lamas, e trazer um monte de caranguejos [...]. Mas o que estamos encontrando é garrafa PET. É assim que a gente limpa o rio: com as próprias mãos e com o coração", disse.
O pescador José Teixeira, 51 anos, participa de todas as ações do Recapibaribe. Morador da cidade vizinha, Olinda, sempre atende o chamado da entidade quando o assunto é preservação.
"A gente participa do trabalho com muito amor. O Capibaribe é lar de todo mundo. Estão lá presentes a vida aquática e nós pescadores, que temos a obrigação de cuidar do lugar de onde vem nosso sustento", explicou.
'Aqui um olha pelo outro'
Numa comunidade pesqueira, ressalta José, prevalece uma orientação coletiva: ajudar uns aos outros e, juntos, a natureza. "Nossa vida de pescador é assim: um olha pelo outro. Nós precisamos das águas, mas precisamos também de nossos colegas de trabalho, nossos vizinhos. Porque, se todos estiverem afinados com a maneira sustentável de pescar, tem espaço e peixe para todos", disse.
O pescador lembra, ainda, que são encontradas muitas surpresas ao longo da limpeza do rio. Há sempre um novo objeto que desperta a curiosidade da comunidade, o que o leva a refletir: "Como uma pessoa consegue jogar isso no rio?".
"Já achei uma bicicleta novinha, parecia saída da loja. Mas, normalmente, o pessoal encontra pneus, muitos pneus, sofá, balde e inúmeras garrafas PET. Tenho um prazer muito grande em limpar o rio. Espero continuar tendo força e saúde para seguir ajudando todos os anos", finaliza.
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