Por que a Copa do Mundo de 2022 acontecerá no fim do ano?
A Copa do Mundo no Qatar, a primeira realizada no Oriente Médio, também será inédita em questão de calendário. Pela primeira vez na história da competição, o Mundial acontecerá entre novembro e dezembro -- e não entre junho e julho, como mandava a tradição do torneio mais importante do futebol de seleções. Mas qual o motivo da mudança?
A resposta está no clima. De junho a agosto, o Qatar costuma sofrer com temperaturas altíssimas. Para se ter uma ideia, no dia 21 de junho deste ano, que inaugurou o verão na região, os termômetros do país marcaram 44 graus no aeroporto da capital Doha. Nessa época do ano, a população local também sofre com outras adversidades climáticas, como tempestades de areia e baixa umidade do ar.
"O clima do Qatar no verão é o que se espera de um deserto. Durante o dia, o calor é muito intenso e à noite faz muito frio", afirma Demerval Soares Moreira, pesquisador na área de meteorologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Ele explica que as temperaturas do país em dezembro, por outro lado, costumam ser agradáveis.
"O clima em novembro e dezembro no Qatar vai estar bem tranquilo, algo parecido com o do Brasil, na verdade, já que a temperatura deve ficar entre 15 e 30 graus. Até mesmo a umidade relativa do ar deve ficar entre 50% e 60%, índices bem apropriados para o torneio", complementa.
Para preservar a saúde dos atletas, a Fifa decidiu, portanto, postergar a data do Mundial. "A preocupação na Copa é com o espetáculo. A gente quer ver jogos bem disputados e, por isso, a Fifa decidiu adiar. Mas isso não quer dizer que não existem jogos no calor no verão de lá. Existe futebol no meio do ano por lá e aqui. No Brasil, há jogos com 40 graus no Rio de Janeiro na época dos estaduais", contrapõe Paulo Roberto Santiago, professor de educação física da USP de Ribeirão Preto.
O desempenho dos atletas no calor
Jogadores de futebol já sofreram com altas temperaturas em edições passadas da Copa do Mundo. Os exemplos mais marcantes são os das Copas de 1970 e 1986, realizadas no México, e sobretudo na de 1994, realizada nos Estados Unidos. A competição que selou o tetracampeonato do Brasil é lembrada como a "mais quente da história". Naquele ano, ainda na fase de grupos, Irlanda e México chegaram a jogar com 44 graus de temperatura no Camping World Stadium, em Orlando, na Flórida.
Para Santiago, o Qatar estaria preparado para sediar a Copa do Mundo, mesmo se ela ocorresse em junho. Apesar das temperaturas amenas do final do ano, sete dos oito estádios que sediarão jogos no país árabe são climatizados — ou seja, possuem um sistema de refrigeração que garante temperaturas amenas para público e atletas. De acordo com Saud Abdulaziz Abdul Ghani, professor sudanês responsável por refrigerar as arenas, a ventilação ocorre de forma sustentável, sendo alimentada majoritariamente por painéis solares.
"Hoje em dia, a gente consegue controlar bastante os possíveis problemas climáticos. No Qatar vão climatizar gramado e refrigerar os estádios. O calor traz prejuízos? Sim, mas todos estão em condição de igualdade e há tecnologia e estrutura disponíveis para lidar com a situação", analisa Santiago.
No entanto, durante a prática do esporte no calor, os riscos à saúde dos atletas não podem ser ignorados. Como explica o relatório "Mais Longe do Pódio - Como as Mudanças Climáticas Afetarão o Esporte no Brasil", lançado pelo Observatório do Clima, normalmente, a temperatura central de um corpo em repouso é de 37 graus e aumenta para em torno de 38,5% durante o exercício físico. Ao enfrentar calor excessivo, o esportista pode se desidratar, o que o expõe a efeitos que vão desde a tontura até o risco de morte.
"No calor, o gasto enérgico é muito maior. O músculo se contrai, o corpo manda mais sangue para as áreas periféricas. Em casos mais extremos de desidratação, você tem problemas cognitivos momentâneos e pode ver a sua pressão cair, causando desmaios", complementa Santiago.
Aquecimento global: como ficam as competições no futuro?
Os dois especialistas ouvidos pela reportagem são unânimes em relação ao futuro: mesmo com os efeitos nocivos ao meio ambiente, o aquecimento global não deve afetar a prática do futebol. Demerval vai além e lembra que, com a tecnologia disponível atualmente, é possível realizar uma Copa em qualquer lugar do mundo.
"O ser humano consegue superar os problemas climáticos. Até no frio da Groenlândia é possível construir um galpão climatizado para possibilitar os jogos. Você só precisa ter os recursos financeiros para contornar os problemas gerados pelo clima", diz ele, salientando que o aquecimento global intensifica não só o calor, mas também o frio no planeta.
Imaginando como seria o mundo com maiores temperaturas, Santiago vai pela mesma linha. "Tanto temperaturas altas quanto baixas são hostis para a prática do esporte, mas não exatamente impeditivos, já que muitas modalidades são praticadas em condições extremas, como alpinismo, esqui e escaladas. O estresse térmico do calor faz com que o atleta transpire mais, sofra mais com a fadiga e fique mais suscetível a cãibras. Eles vão precisar se hidratar mais", finaliza.
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