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Ex-piloto criou ONG que levou Richarlison para conhecer onça no Pantanal

O jogador da seleção brasileira Richarlison em sáfari com o Onçafári - Gabriela Batista
O jogador da seleção brasileira Richarlison em sáfari com o Onçafári Imagem: Gabriela Batista

Camilla Freitas

De Ecoa UOL, em São Paulo (SP)

26/09/2022 06h00

Quando você lê a palavra safári, talvez a primeira imagem que venha à sua cabeça seja a de um leão numa savana africana. Mas que tal trocar a paisagem cheia de gramas, arbustos e árvores esparsas por uma floresta tropical e planícies cheias d'água? Ou seja, que tal trazer a ideia de safári da África para o Brasil, ou melhor, para o Pantanal?

Foi assim que em 2011 nasceu o Onçafari, Organização Não Governamental (ONG) fundada pelo ex-piloto Mario Haberfeld. Com o intuito inicial de conservar as onças-pintadas no Pantanal por meio do ecoturismo, a organização se instalou no Refúgio Ecológico Caiman, em Mato Grosso do Sul. A fazenda tem 53 mil hectares e pertence ao empresário Roberto Klabin, que também é fundador da SOS Mata Atlântica e da SOS Pantanal.

A fazenda já foi visitada por Juliana Paes, que descreveu a experiência como emocionante. "Tem coisa mais linda que isso?", disse a atriz durante um passeio no Onçafari.

O jogador da seleção brasileira Richarlison também foi outro a visitar as oncinhas do projeto em uma ação de divulgação da nova camiseta da seleção que faz referência aos animais. A ação foi promovida pela Nike, que tem uma parceria com a ONG.

A onça está no topo da cadeia alimentar, ou seja, para ela existir, todo o resto tem que estar preservado. Tem que existir peixe para o jacaré comer peixe para a onça conseguir comer o jacaré. A floresta precisa estar em pé para existir a onça. Então, a teoria é que preservar a onça é também preservar o bioma como um todo.

Mario Haberfeld, ex-piloto e fundador do Onçafari

Uma fazenda de leopardos como inspiração

"Sempre tive duas paixões na vida: o automobilismo e animais selvagens". O paulistano Mario Haberfeld nasceu em 25 de janeiro de 1976, numa família apaixonada por carros, o que fez com que desde criança ele se encantasse com o automobilismo. Na profissão, ele seguiu por cerca de 20 anos.

Richarlison observando onças no Pantanal - Gabriela Batista - Gabriela Batista
Richarlison observando onças no Pantanal
Imagem: Gabriela Batista

Depois de participar de corridas na Fórmula Ford, Fórmula Renault, Fórmula Indy e F-3000, decidiu abraçar de vez sua outra paixão: a natureza. Partiu, então, para uma das experiências mais marcantes de sua vida: uma viagem pelo mundo para conhecer grandes animais.

Foram três anos nessa aventura. Apesar do encantamento com gorilas, tigres e ursos polares, uma experiência chamou mais sua atenção. Foi no Kruger Park, na África do Sul, que Mario teve contato com um modelo de conservação de animais o mudaria de vez.

Mario Haberfeld, ex-piloto e fundador do Onçafari - Divulgação  - Divulgação
Mario Haberfeld, ex-piloto e fundador do Onçafari
Imagem: Divulgação

"Há uns 40 anos, um fazendeiro resolveu habituar uma leoparda em uma região muito parecida com o Pantanal, uma área de pecuária e com os animais de criação sendo atacados por grandes felinos", conta Mario. Habituar um animal nada mais é do que acostumá-lo à presença de humanos.

O segundo passo da Sabi Sands foi construir uma pousada, a Londolozi, para que as pessoas pudessem conhecer os animais na natureza. "O mais legal é que os vizinhos começaram a copiar o modelo e isso foi bom para que os animais parassem de ser caçados", conta o ex-piloto.

Depois de conhecer a fazenda de leopardos e sua história, Mário pensou: por que não fazer o mesmo no Brasil?

Richarlison no Pantanal com o Onçafari - Gabriela Batista - Gabriela Batista
Richarlison no Pantanal com o Onçafari
Imagem: Gabriela Batista

ONG garante que, na Caiman, você verá uma onça

"Era fim de tarde e estava no carro eu e o Roberto Klabin na Caiman e com apenas dois dias ali consegui ver uma onça ao lado da estrada, o Roberto que tem aquelas terras desde que era criança e só tinha visto onça três vezes na vida. Talvez tenha sido um sinal para fazer o projeto na Caiman", lembra Mario Haberfeld.

Para repetir a experiência do Sabi Sands no Brasil, era preciso entender, primeiro, se, como os leopardos, as onças seriam capazes de se acostumar com a presença de seres humanos. Só assim o safári seria possível. Depois, coube à equipe formada pelo ex-piloto entender a legislação brasileira e como os órgãos de conservação do país poderiam ajudar nesse processo.

A onça Esperança foi a primeira a ser habituada. Ela já teve sete filhotes, onze netos e três bisnetos, para Mario, isso é uma prova de que o sistema de ecoturismo e habituação funciona.

Onça esperança e sua filha Natureza - Reprodução/Onçafari - Reprodução/Onçafari
Natureza, primeira filhote da Esperança, onça monitorada pelo Onçafari
Imagem: Reprodução/Onçafari

Hoje, segundo o fundador da ONG, os hóspedes que vão à Caiman têm a garantia de que verão ao menos uma onça. Em 2021, cerca de 99% dos hóspedes que foram lá conseguiram ver pelo menos uma onça na natureza. "Acho que o propósito de habituar as onças e fazer com que elas valessem, na opinião dos pantaneiros, mais vivas do que mortas, foi atingido", comenta Mario.

Apesar de ter sede e vitrine no Pantanal, o Onçafari opera em mais oito lugares e em quatro biomas brasileiros com intuito de preservar, também, o lobo-guará.

Não acho que no Pantanal a solução seria tudo virar ecoturismo e retirar as áreas de pecuária. Mas a Caiman é um grande modelo de fazenda no Pantanal. Lá, eles têm a pecuária, projetos científicos, de conservação, ecoturismo e tudo isso funcionando junto.

Mario Haberfeld, ex-piloto e fundador do Onçafari

A história de superação de Isa e Fera

Imagine acordar e se deparar com três onças em seu quintal. Foi o que aconteceu com um morador de Corumbá, Mato Grosso do Sul. Assustado, ele ligou para os bombeiros que vieram resgatar os animais que, também assustados, subiram em uma árvore. Tratava-se de uma mãe e seus dois filhotes.

Após uma cheia no Rio Paraguai, ela fez duas viagens nadando para levar suas crias para um lugar mais seguro. Cansada, parou para descansar no quintal. Quando os bombeiros, junto a veterinários, chegaram para resgatá-la, um erro de manejo na anestesia matou a mãe onça deixando órfãos seus dois filhotes que foram levados para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS).

Richarlison em safári com o Onçafári - Gabriela Batista - Gabriela Batista
Richarlison em safári com o Onçafári
Imagem: Gabriela Batista

Foi nesse momento que Mario Haberfeld entrou na vida dessas oncinhas. Ao saber do ocorrido ele decidiu dar um futuro diferente para os animais que, até aquele momento, não poderiam mais voltar para a natureza.

Com a ajuda do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), ele levou as onças para seu projeto, o Onçafari, no refúgio ecológico Caiman. "O grande problema é que os felinos precisam aprender a caçar com a mãe e como eles não tinham mais a mãe", explica Mario.

Assim, coube à organização ensinar as oncinhas a caçar, processo que durou cerca de dois anos. Há seis anos o Onçafari soltou os animais na Caiman. "Elas já tiveram filhotes e tiveram netos o que prova cientificamente que o processo funcionou", diz Mario.

Assim nasceu mais um braço do Onçafari, que, além de fazer habituação e ecoturismo com as onças, também as conversa por meio da reintrodução do animal na natureza.