Com tecnologia brasileira, SC cria ônibus 100% movido a energia solar
Você já ouviu falar em um ônibus que opera sem um pingo de combustível fóssil? Pois a novidade já está na praça, graças a pesquisadores de Santa Catarina. Abastecido por energia solar, o veículo, que tem um protótipo batizado de eBus, é o primeiro dos elétricos com bateria totalmente carregada com energia solar. Com o apoio de três empresas e tecnologia 100% brasileira, o ônibus já rodou mais de 100 mil quilômetros até agora.
A iniciativa é fruto do laboratório de energia solar fotovoltaica da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), inaugurado em 2015 com recursos públicos do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações), e que fica localizado no extremo norte da ilha de Florianópolis.
A Ecoa, o professor Ricardo Rüther, que integra a equipe de criação do ônibus, relembrou o começo da pesquisa. Devido à longa distância (26 km) entre o campus central da UFSC e o Sapiens Parque, onde fica o laboratório, surgiu a ideia de construir um ônibus sustentável para fazer o transporte da equipe de pesquisadores.
"Foi assim que surgiu a proposta de construir um ônibus elétrico 100% alimentado por energia solar, para fazer o transporte de nossa equipe entre o campus central da UFSC e o laboratório. O projeto foi denominado 'Deslocamento Produtivo', com o eBus projetado para transportar apenas passageiros sentados, com ar-condicionado e wi-fi, duas mesas de reunião e tomadas em todas as poltronas", destaca.
Segundo Rüther, como o recurso do projeto foi financiado pelo mesmo MCTI que também custeou a construção do laboratório, foi necessária uma licitação para a produção do eBus, dentro das condições estabelecidas pela equipe da UFSC.
"A empresa vencedora foi o consórcio WEG/Marcopolo/Eletra. O eBus foi construído ao longo de 2016 e entregue em dezembro daquele ano. Começou a operação regular em 2017, realizando cinco viagens por dia, rodando 40 mil km por ano entre os anos de 2017, 2018 e 2019. No início de 2020, no entanto, com a pandemia da covid-19, o eBus foi estacionado na garagem do Sapiens Parque (um parque de inovação em Florianópolis) e ficou parado até o início deste ano, quando retomamos o projeto, completando os 120 mil km rodados — o equivalente a três voltas na terra", explica o professor.
O projeto, ressalta o educador, ilustra bem a robustez de um ônibus elétrico, com os 120 mil km já rodados, bem como a pujança da indústria brasileira, que construiu em menos de 12 meses um veículo totalmente nacional, em que os únicos componentes importados são as baterias de lítio, vindas do Japão. "Como toda a energia utilizada para carregar o eBus vem dos telhados solares do laboratório, podemos afirmar que ele é 100% solar."
Quem alimenta os veículos elétricos?
A concepção inicial estava relacionada a um problema importante da mobilidade elétrica, segundo o professor: veículos elétricos demandam quantidades expressivas de energia elétrica, que precisa ser produzida por novas usinas geradoras de energia e estas devem ser de fontes renováveis.
"Então, queríamos demonstrar que se pode produzir toda a energia para um veículo de grande porte com 100% de energia solar. Daqui para frente, passamos ao desenvolvimento de carregadores rápidos por indução, para poder fazer cargas curtas e rápidas no eBus, para viabilizar o seu uso em transporte público de massa", diz.
O veículo também possui um sistema de frenagem regenerativa, tecnologia que é capaz de produzir energia cinética. Assim, o que a frenagem produz de eletricidade extra é depositado nas baterias do eBus.
Atualmente, o veículo precisa ficar parado por uma hora para receber uma recarga completa. Apesar disso não ser uma limitação para o serviço, uma vez que o eBus faz cinco viagens de uma hora cada por dia, passando várias horas parado entre viagens, em uma aplicação mais comum de serviço urbano de transporte de massa de passageiros, ele deveria poder rodar ininterruptamente por todo o dia, fazendo apenas algumas poucas paradas nos pontos e nos terminais.
Nessas poucas paradas, é o momento de receber cargas rápidas por indução. Para que isso ocorra, explica o professor, uma placa indutora é instalada sob o asfalto e, então, o eBus para sobre ela em uma posição bem definida. Tudo isso para que a placa induzida, que é montada no ônibus, receba energia via conexão sem fio e, então, carregue a bateria.
Segundo a UFSC, o protótipo já é considerado um polo de pesquisa ambulante, fundamental para as discussões sobre mobilidade sustentável, que a cada ano se tornam mais necessárias.
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