No DF, cientistas descobrem que caroço de pequi pode gerar energia
Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) estão transformando bagaço de malte e caroços de pequi em energia. Com base num levantamento envolvendo diferentes resíduos de atividades agroextrativistas do Cerrado, a equipe descobriu que o caraço do pequi, que costuma ser descartado na hora do consumo, pode ser utilizado na produção de biocombustível.
Durante o trabalho, feito em parceria com o Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, bagaços de malte e caroços de pequi passaram por um processo de gaseificação e demonstraram ter alto poder calorífico, por isso a escolha deles para a pesquisa, que também está testando outros resíduos.
A Ecoa, a pesquisadora Grace Ferreira, que integra o Laboratório de Bioprocessos Cervejeiros e Catálise Aplicada a Energias Renováveis, explica que tanto o bagaço do malte quanto os caroços de pequi são resíduos agroindustriais e geram um passivo ambiental. Além disso, na área rural do Distrito Federal, há bastante instabilidade de fornecimento de energia. Por isso, diz ela, surgiu a ideia de pensar em unidades descentralizadas de geração de energia a partir de biomassa, uma fonte renovável de energia.
"Em nosso laboratório, já avaliamos mais de 15 biomassas residuais, e temos vários trabalhos já publicados com essa temática. Escolhemos os dois porque eles apresentam alto poder calorífico. Além disso, o caroço de pequi tem um alto teor de gordura, logo, a produção de biodiesel, que pode ser usado em geradores de diesel, também é bastante viável. O bagaço [também foi selecionado] porque tem a possibilidade de biodigestão e processos termoquímicos", conta.
Mais eficiência na produção de energia
"Fazemos um processo de coleta e tratamento térmico do material. Logo em seguida, são submetidos a reatores específicos para geração de energia com maior rendimento. Atualmente, são passivos ambientais, normalmente descartados em aterros sanitários. A proposta aqui é aproveitá-los na própria indústria, com uma pegada de bioeconomia circular", continua.
O processo de gaseificação, segundo ela, produz o gás de síntese, um recurso que possui poder calorífico mais alto. A pesquisadora explica que, em um sistema combinado de um motor ou de uma turbina, é possível a um gaseificador produzir energia com eficiência maior do que sistemas de biogás ou de geradores comuns.
Fomentando a economia circular
Além da geração de energia, o trabalho resulta em benefícios para os produtores, fomentando a bioeconomia circular. Em vez de jogar o bagaço e o caroço de pequi em aterros sanitários e pagar pelo fornecimento de energia, lembra a pesquisadora, a ideia é utiilzar esses resíduos para gerar energia, o que contribui para um gerenciamento de resíduos mais consciente, bem como uma conta de luz mais barata.
"A pesquisa é bastante voltada para a geração de energia a partir de biomassas residuais aplicando o conceito de economia circular e biorefinaria", resume a pesquisadora.
Um salto para a indústria?
Após a publicação em revistas científicas de prestígio internacional como a Waste Management e a Energy Conversion and Management, os pesquisadores veem potencial nas duas matérias-primas para produção em nível industrial.
"Quando estávamos em Portugal, testamos essas biomassas em gaseificadores em escala industrial. Lá essa tecnologia é bastante difundida, porém aqui no Brasil ainda é pouco. De uma forma geral, testamos vários resíduos agroindustriais. Já fizemos com borra de café, caroço de açaí, resíduos da indústria do buriti, baru e jatobá, da banana, casca de arroz, podas, dentre outras", diz Grace.
Essas descobertas, lembra ela, são fundamentais para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e, além disso, possibilitam a geração de energia descentralizada, levando a uma redução dos custos de envio a aterros sanitários, que representam um passivo ambiental significativo.
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