Institutos de pesquisas não preveem o futuro: qual a sua importância?
Institutos de Pesquisa mentem? Só se falou disso nas redes sociais após a eleição: se a última pesquisa Ipec apontava o candidato Fernando Haddad (PT) liderando a disputa para o governo do estado de São Paulo com 41% e Tarcísio de Freitas (Republicanos), em segundo com 31% (-11,3%),os resultados das urnas mostraram Tarcísio em primeiro, à frente do petista, com 11,3 pontos percentuais a mais do que previa a pesquisa.
Sim, foram 42,3% dos votos para o candidato dos republicanos contra 35,7% dos votos para Haddad. Os números foram discrepantes em diversos outros pleitos. Na corrida presidencial, por exemplo, as pesquisas apontavam uma diferença maior entre os votos de Lula (PT) e de Bolsonaro (PL), por exemplo. A diferença aconteceu não só nas pesquisas do Ipec, mas do Datafolha em outros institutos de pesquisa respeitados.
Mas, muita calma nessa hora, os números distantes da apuração de votos nas urnas não representam necessariamente um erro. E, mais, os institutos de pesquisa não servem apenas para saber quem será nosso próximo presidente. Mais do que uma Mãe Dinah das estatísticas, esses institutos ajudam, também, a mapear e rastrear questões importantes do Brasil, como as políticas públicas que o país deve adotar, questões de saúde que assolam a população e níveis educacionais de cada região do país.
Para entender a importância desse trabalho, Ecoa responde perguntas básicas sobre a função de um instituto de pesquisas. Acompanhe a seguir:
Quando surgiram os institutos de pesquisa e qual a sua importância?
A criação do primeiro instituto de pesquisa foi em 1936 nos Estados Unidos e logo em seguida, na década de 1940, surgiram os primeiros institutos no Brasil. Para além de mapear a opinião de uma região ou país, eles auxiliam a mapear políticas públicas e jogar luz sobre problemas sociais.
"É uma atividade que vem se desenvolvendo continuamente há 86 anos aqui e no mundo todo. Esses estudos contribuíram para o entendimento de problemas sociais ou buscas de caminhos para a solução deles", diz Márcia Cavallari, CEO do Ipec.
Cavallari ressalta que o trabalho dos institutos pode responder, entender e rastrear questões que vão de educação e saúde até o impacto de pandemias em um país.
"Entre alguns desses estudos, estão: Levantamento do Alfabetismo Funcional no Brasil, Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, Relação do Brasileiro com o Meio Ambiente, Impacto da Zika e Covid-19 nas decisões reprodutivas das mulheres, Entendimento do Preconceito no Brasil, Mobilidade Urbana, entre outros", diz Cavallari, que teve experiências nos estudos citados.
As pesquisas de opinião contribuem de forma relevante para o conhecimento de qualquer sociedade e da opinião pública sobre determinado assunto, para assim definir prioridades de ações governamentais, para elaboração e avaliação de políticas públicas, permitindo que a sociedade se conheça e entenda as diferenças entre seus diversos setores. Márcia Cavallari, CEO do Ipec
"Um exemplo importante desse tipo de pesquisa foram os estudos realizados durante a pandemia para subsidiar os órgãos governamentais com as informações necessárias para organizar o relaxamento do isolamento social e a retomada da atividade econômica", completa a CEO do Ipec.
Qual a relação da pesquisa de opinião com a democracia?
Para Cavallari, as pesquisas de opinião também têm uma relação essencial com as democracias modernas, sobretudo pelo seu formato de livre acesso a todos e sem custo.
"Acesso à informação faz parte do processo democrático. As democracias podem não ser perfeitas, as pesquisas também não, mas ficar sem os serviços dos institutos deixará a sociedade no escuro, sem informações relevantes, mesmo que elas não sejam tão precisas. Apenas aqueles que puderem pagar pela informação terão acesso a ela e isso não é democrático", diz a CEO do Ipec.
O que explica os resultados diferentes entre urnas e pesquisas?
De acordo com o estatístico Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Survey Research Center da Universidade de Michigan (EUA), os resultados 'errados' dos levantamentos do Datafolha e Ipec, podem derivar da: mudança de opinião na última hora, o não comparecimento na votação e a recusa em responder por parte de eleitores pró-bolsonaro, que não creem nos institutos.
Os resultados de pesquisa apontaram uma diferença de 14 pontos percentuais (um dia antes da votação), frente à realidade de apuração de votos, que teve apenas cinco pontos percentuais de diferença nas urnas
Ao encontro das afirmações do estatístico, Cavallari ressalta que é importante esclarecer que as pesquisas de intenção de voto são diagnósticos do momento em que são realizadas, mas não são projeções diretas dos resultados apurados nas urnas.
"Se as recusas [em responder as perguntas] ocorrem de forma aleatória entre os vários segmentos da sociedade, como acontece normalmente, acabam não tendo impactos relevantes nos resultados. Entretanto, se concentradas em perfis específicos de eleitores, de forma recorrente e em grande volume, os resultados podem não refletir a realidade", diz a CEO.
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