Quem é a mineira de apenas 10 anos citada pela ONU por defender o planeta

A natureza para Júlia Bonitese é um lugar de bem-estar, onde a liberdade dos bichos inspira ares de boas novas no horizonte. Com a curiosidade de uma criança de 10 anos, ela brinca de conhecer os animais e os deixa pousar em sua mão sem medo. Com eles, se sente em melhor companhia. "Eu fico mais calma quando eu estou com os animais", conta.

Rodeada de prédios em Belo Horizonte, onde mora com os pais, Júlia busca na memória encantada os seus lugares preferidos de contato com a natureza: "cachoeira, parques naturais, trilhas". Desde o dia em que tem consciência de si, também sabe do amor pelo meio ambiente.

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Com a pandemia, o isolamento impôs novas maneiras de convivência com o mundo externo. Mas, para aliviar a tensão causada pela ausência do contato, a família de Júlia alugou um sítio, e lá ela acompanhou as aulas de maneira remota, subiu em árvore, correu de pés descalços na grama e, curiosa, buscou os bichinhos soltos no mato.

Foi durante as aulas que uma luz acendeu na cabeça da menina.

"Eu estava almoçando com a minha mãe, aí eu lembrei das aulas de ciências que eu tive, dos livros que eu li, e aí eu falei pra minha mãe que eu queria fazer alguma coisa para ajudar o planeta".

Surge o 'Pequenos Protetores do Planeta'

A mãe de Júlia, Karina Bonitese, comenta que tudo aconteceu de repente. Ela sempre percebeu e soube da conexão da pequena com a natureza e não mediu esforços para ajudá-la a pensar em algum projeto.

Conversando durante o almoço, decidiram criar um perfil no Instagram para divulgar ações sustentáveis para, quem sabe, despertar em outras crianças o mesmo desejo pela proteção da natureza.

Assim surgiu a ideia do Pequenos Protetores do Planeta. Era abril de 2021, quando ela ainda tinha só 8 anos.

"A primeira postagem foi falando da Júlia, depois ela postou sobre borboleta, outro dia postou sobre descarte de óleo e aí começou", conta Karina.

Apesar do projeto ser voltado para o público infantil, já que ele é pensado e produzido pela pequena Júlia, no Instagram o público adulto é mais presente.

As primeiras mudanças vieram de dentro da família. Observando as postagens da menina, as tias pararam de jogar óleo de cozinha na pia, aprenderam com ela a guardar os materiais recicláveis para a reutilização e fecham a torneira enquanto escovam os dentes. Neste último aspecto Júlia é contundente: "jamais escovo os dentes com a torneira aberta".

No dia a dia, ela põe em prática o que aprende nos livros. Desliga as luzes dos cômodos quando não está neles, utiliza composteira para adubar as plantas de casa, fabrica brinquedos com material reciclável e conta, aos risos, que insiste para a mãe comprar um carro elétrico, assim não será mais preciso usar gasolina.

Com o tempo, Júlia sentiu necessidade de interagir com outras crianças para conversar livremente sobre a natureza.

Daí, em outubro de 2021, surgiu a ideia do 'Papo Natural'. Os primeiros encontros foram online, em formato de live, e as crianças podiam ligar a câmera e o microfone e conversar sobre o assunto.

"O 'Papo Natural' é uma roda de conversa entre crianças, entrevistamos uma pessoa da área ambiental na maioria das vezes com algumas perguntas feitas pelas crianças", conta Júlia.

Em 2022, a convite de um estúdio, o programa passou a ser gravado. Conduzindo a entrevista, Júlia também convida outras crianças para estar com ela, conversando sobre o tema do programa. O objetivo do 'Papo Natural' é criar um espaço para as crianças expressarem sua voz quando o assunto é cuidado com o meio ambiente.

Enquanto a mãe faz a assessoria, Júlia sugere atividades, escreve os textos para o Instagram, pensa nas perguntas para o programa e tem a liberdade para decidir sobre as participações dos convites que recebe.

Recentemente, foi convidada para dar uma palestra em uma escola de Belo Horizonte e, para aproximar crianças do debate sobre o meio ambiente, realizou, com professoras de sua escola, oficinas com bombinhas de sementes para reflorestamento.

"Na oficina que eu faço para as crianças do segundo ano eu ensino elas a fazerem uma bolinha de sementes com fita de papel reciclado e nela a gente coloca sementinhas. Vai molhando elas para o papel ficar sempre úmido e germinando. É a coisa mais fofa", conta Júlia.

Com o apoio da agora deputada federal eleita por Minas Gerais Duda Salabert (PDT), realiza atividades de plantio e tem as portas abertas da Prefeitura e da Secretaria do Meio Ambiente para colocar em prática ideias ainda embrionárias.

A Ecoa, a parlamentar conta que, para ela, crianças como Júlia são fundamentais, especialmente para o momento atual de crise climática.

"Somos a última geração que pode salvar o planeta, nesse contexto em que tantos adultos não se preocupam com esse tema tão importante, é lindo e é um sopro de esperança no nosso presente e futuro ver um criança como a Júlia que defende o meio ambiente. Ela inclusive tem sido uma grande parceira nos plantios de árvores que tenho feito na cidade. Júlia e todos os outros pequenos protetores do planeta podem contar comigo sempre", diz.

Amor pela natureza de maneira espontânea

A conexão da Júlia com o meio ambiente sempre foi espontânea e nunca partiu dos pais o interesse pelo assunto e as iniciativas criadas por ela.

No que diz respeito ao projeto e a convites, os pais deixam ela muito livre para decidir o que fazer.

"Então, assim, tem que estudar? Beleza. Ela vai estudar. Na hora que der ela faz uma postagem, faz alguma atividade, vai do jeitinho dela, sem pressão".

Karina acredita ser importante essa liberdade para não perder o propósito e "essa coisa de ser uma criança fazendo isso, de não se tornar uma obrigação".

Por esse motivo as atividades do projeto acontecem também de maneira espontânea e Júlia sabe com quem contar na hora de colocar as ideias em prática.

Para ela, o mais importante é se divertir enquanto inspira outras crianças a terem consciência e engajamento para restaurar o planeta.

Geração Z, que nada! Geração restauração

Juju, como é chamada pela mãe, tem plena consciência de que faz parte da 'geração restauração' e conhece muito bem os objetivos de desenvolvimento sustentável, da Agenda 2030 da ONU para atingir um mundo melhor para os povos e nações.

Inspirada em ativistas como Greta Thunberg e Malala, no exterior, Luciano Frontelle, do Plant For The Planet Brasil, e Brenda Izidio, da Rede Global de Biodiversidade Jovem, adora assistir a documentários e é apaixonada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

"Olha, eu gosto muito da ONU. Demais. A ONU, tipo... Eu fico encantada!", conta Júlia.

Em live realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em junho de 2021, Júlia foi mencionada com uma das ativistas ambientais mais novas no país.

Rodeada por livros, tem suas ideias guiadas por histórias sobre o meio ambiente escritas para o público infantil.

"A Juju é uma criança muito curiosa, então ela corre atrás. Ela pede um livro, ela corre atrás de informação, assiste televisão, documentário", conta Karina.

Para as crianças, ela fala que "se o cuidado com a natureza é algo que realmente elas gostam, que estão abertas a participar, com ações dentro de casa mesmo já está perfeito".

E, por fim, ela ainda manda um recado não só para a criançada, como para os adultos também: "Você, como todas as outras crianças, é capaz de proteger o planeta e fazer a diferença", finaliza Juju.