Como mudar jeito de fazer turismo gerou R$ 4 milhões a comunidade no AM
Jovania Queiroz é dona de um empreendimento no meio da floresta amazônica, mas sempre tinha problemas de logística para receber seus hóspedes e vivia uma luta constante para conscientizar as pessoas sobre a pesca predatória na região.
O acesso à sua pousada só ocorre pelo rio Uatumã, e ela usava botes para buscar os clientes, equipamento com pouco espaço e sem velocidade, o que prejudicava o fluxo de hóspedes.
Sempre em busca de mecanismos que pudessem ajudar o seu negócio, localizado na região centro amazonense, sem provocar danos ao meio ambiente, ela resolveu procurar a FAS (Fundação Amazônia Sustentável), uma entidade sem fins lucrativos que dissemina e implementa conhecimentos sobre desenvolvimento sustentável na região.
E deu certo. Jovania integra hoje um grupo de pousadas e restaurantes que, sob o olhar de preservação da FAS, conseguiu não apenas resolver problemas logísticos, mas faturar R$ 4 milhões com o turismo consciente no último ano.
O trabalho da FAS junto à base comunitária da região virou alternativa importante para a recuperação econômica verde da Amazônia, não deixando de lado a qualidade de vida, o bem-estar das comunidades e principalmente da preservação da floresta.
"A FAS já fazia um trabalho artesanal e incentivava as pessoas a fazerem cursos profissionalizantes. Eles viraram nossos parceiros oferecendo capacitação, palestras, tudo para desenvolver a comunidade. Esse trabalho mostrou a importância da preservação ambiental. Mostrou que não é desmatando que vamos atrair o turismo, que um peixe ameaçado vale mais para o turismo ecológico vivo no rio do que morto na panela", conta Jovania a Ecoa.
Mais turistas, mais empregos
Atualmente com barcos a motor para buscar seus hóspedes, a pousada da Jovania consegue receber mais gente e, consequentemente, contratou mais pessoas da região. Com trabalho garantido, essas pessoas não precisam ir atrás do peixe ameaçado, por exemplo. Ela explica que essa cadeia é influência da FAS e de suas orientações.
"A gente não tinha Internet e fomos convencidos da necessidade de ter. Agora sabemos como divulgar a pousada nas redes, fomos treinados em gestão para fazer nosso negócio prosperar e, sempre que a demanda aumenta, vamos buscar mais trabalhadores no nosso entorno", disse.
Superintendente da FAS, o professor Virgílio Viana explica a Ecoa que o turismo se transformou em uma atividade de grande impacto positivo para a proteção da floresta e ainda gera renda para as comunidades. Segundo ele, o sucesso se dá por causa de uma série de atividades.
"A FAS é parceira de várias organizações, tanto de moradores locais quanto de instituições de ensino, instituições públicas. Isso mobiliza um ecossistema de parceiros que nos possibilitou dar esse salto, que é permitir aos ribeirinhos e aos povos indígenas do interior da Amazônia profunda se apropriarem de todo um conhecimento que é necessário para financiar e viabilizar o turismo de base comunitária", afirma.
Viana diz que enfatiza o conceito do turismo de base comunitária porque ele é liderado pelas próprias comunidades e, com isso, tem um impacto grande do ponto de vista da redução das desigualdades de geração de renda para os 'guardiões da floresta'.
"O faturamento bruto de mais de R$ 4 milhões dessas pequenas pousadas no ano passado foi gerado basicamente com dois tipos de atividade de turismo de base comunitária: a vivência cultural, principal temática do baixo rio Negro; e o turismo de pesca esportiva, que é a principal atividade na região do rio Uatumã", ressalta.
Veja vídeo sobre o projeto de empreendedorismo consciente da FAS:
De predadores a prestadores de serviço
Viana diz que esses empreendimentos são pequenas pousadas e pequenos restaurantes que receberam formação, tanto na área de gastronomia, quanto na de gestão. "Eles receberam diferentes habilidades para que as pessoas fizessem uma transição de produtores de madeira, pescadores e agricultores para provedores de serviços. É uma metamorfose", acrescentou.
Ainda segundo o superintendente, o turismo está criando uma sinergia com a melhoria da qualidade de vida. As comunidades passaram a cuidar mais da limpeza e a cultivar mais flores. Segundo ele, as pessoas passaram a se preocupar mais com seus resíduos, buscando o destino certo para o lixo, as comunidades estão limpas e floridas.
"É impressionante como a renda nessas comunidades tem aumentado e isso causou impacto sobre a qualidade das moradias. Até pouco tempo atrás não tinha água encanada e banheiro. Hoje, quase todas têm água encanada e banheiro onde o turismo de base comunitária está acontecendo", disse.
Quanto à expertise nos negócios, a FAS leva os empreendedores para visitarem negócios que tiveram êxito para que vejam como deve ser feito o serviço de qualidade. A intenção é que eles vivenciem a cultura de uma atividade de serviços relacionada ao turismo e virem transformadores em suas comunidades.
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