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O que quer o Just Stop Oil, movimento que jogou sopa em pintura de Van Gogh

Ativistas do grupo "Just Stop Oil" questionaram por que os quadros recebem mais proteção do que a população - Reprodução/Twitter
Ativistas do grupo 'Just Stop Oil' questionaram por que os quadros recebem mais proteção do que a população Imagem: Reprodução/Twitter

De Ecoa, em São Paulo (SP)

15/10/2022 06h00

Eram pouco mais de 11 da manhã quando duas jovens inglesas pararam em frente à pintura "Girassóis", de Vincent van Gogh, na sala 43 da National Gallery em Londres.

Elas tiraram os casacos, revelando camisetas estampadas com o logo da organização de ativismo ambiental Just Stop Oil ("Parem Com o Petróleo", em tradução livre para o português). Em seguida, abriram duas latas de sopa e atiraram o líquido contra a pintura de 1888, que tem o valor estimado em £72,5 milhões (mais de R$430 milhões).

A dupla então colou as mãos na parede sob o quadro, e Phoebe Plummer, uma das manifestantes, falou: "O que vale mais, a arte ou a vida? [A arte] vale mais que comida, mais que justiça? Vocês estão mais preocupados com a proteção de uma pintura ou do planeta e das pessoas?".

A ativista afirmou que a crise do custo de vida está associada ao preço do petróleo, que se tornou inacessível, e mencionou as milhões de mortes decorrentes dos eventos climáticos extremos, que têm se tornado mais frequentes com as mudanças climáticas.

A sala da National Gallery foi esvaziada e as manifestantes foram presas. Segundo a galeria, a ação não causou danos à pintura. O protesto tem relação com o aumento das licenças para a extração de petróleo e gás concedidas pelo governo britânico.

Parem com o petróleo

O quadro "Os girassóis" não foi o primeiro a ser alvo do Just Stop Oil. Outras obras vêm sendo usadas em intervenções do tipo, incluindo mais uma pintura de van Gogh, "Pessegueiros em flor", em cuja moldura manifestantes colaram as mãos em junho. Em julho, ativistas fizeram o mesmo em uma réplica de "A Última Ceia" de Leonardo da Vinci, exposta na Royal Academy de Londres e picharam a frase "No new oil" (sem petróleo novo) na parede sob o quadro.

Como observou a editora do jornal britânico The Guardian Claire Armitstead, o objetivo não é exatamente atacar a arte, mas sua fetichização, da qual o pintor holandês teria se tornado um símbolo.

No perfil da organização no Instagram, o post que divulga sua ação mais recente reconhece a criatividade e brilhantismo humanos expostos na National Gallery, mas afirma que essa herança cultural "está sendo destruída pelo fracasso do nosso governo em intervir na crise climática".

A reivindicação principal do Just Stop Oil é que o governo britânico interrompa imediatamente futuros licenciamentos e concessões para a exploração, desenvolvimento e produção de combustíveis fósseis no Reino Unido. O movimento, que foi fundado em dezembro de 2021, é formado por uma coalizão de grupos de ativismo ambiental, encabeçada por membros do Insulate Britain e Extinction Rebellion.

A queima de combustíveis fósseis libera gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento do planeta e pelas mudanças climáticas.

Um relatório divulgado em 2021 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente já apontava que os planos de produção de combustíveis fósseis dos governos estavam "perigosamente fora de sincronia" com os objetivos do Acordo de Paris. Segundo a ONU, países do mundo planejavam produzir cerca de 110% mais combustíveis fósseis em 2030 do que seria compatível com o limite de aquecimento de 1,5°C.

As táticas do Just Stop Oil

Em 2022, centenas de ativistas ambientais do Just Stop Oil vêm sendo detidos no Reino Unido por ações de resistência civil contrárias à exploração de combustíveis fósseis.

Os protestos não se restringem a museus e galerias de arte: em março, manifestantes tentaram interromper partidas em estádios de futebol em mais de uma ocasião. No mês seguinte, o grupo conseguiu interromper o fornecimento de petróleo, bloqueando o acesso a instalações petrolíferas em diferentes lugares do país.

Em julho, os ativistas climáticos protestaram na pista do Grande Prêmio da Grã-Bretanha de Fórmula 1. A série de intervenções em espaços de arte foi o passo seguinte.

Há oito dias, desde o início de outubro, dezenas de manifestantes vêm bloqueando as ruas do centro de Londres em protestos para pressionar o governo a suspender novos projetos de exploração de petróleo e gás. A organização afirmou que deve continuar a ocupar Westminster, área do palácio do governo, nas próximas semanas.

"Estou fazendo isso pelo meu filho", disse a ativista Lora Johnson enquanto era carregada pela polícia de Londres por participar de um desses protestos. O vídeo da prisão de Johnson viralizou nas redes sociais no começo de outubro. "A inação do governo em relação às mudanças climáticas é uma sentença de morte para todos nós", reforçou.