Velho do Rio? Lobisomem? Repórter aponta verdadeiro vilão de Pantanal
A repórter Cláudia Gaigher é conhecida em todo o Pantanal — e conecta suas histórias a todo o país. Em quase 25 anos de trabalho no bioma, ela viu um pouco de tudo: os incontáveis jacarés, as onças, os tuiuiús, até a Via Láctea no céu limpo do centro-oeste brasileiro. Em 2020, também vivenciou os incêndios que varreram milhares de árvores e animais.
As experiências boas e desafiadoras estão no livro "Diário de uma repórter no Pantanal", lançado por Gaigher em outubro. As 30 histórias de bastidores narram personagens de aparência fantástica, como o vaqueiro Ruivaldo, e lendas como o Velho do Rio e o lobisomem Mãozona. Nenhuma dessas figuras, no entanto, é vilão maior para o bioma do que o desmatamento e as queimadas que assolam a região.
Além disso, Gaigher narra a história política, étnica e social da maior planície alagada no mundo. Mas, quando chegou ali, era uma forasteira.
"Eu queria ir justamente para o lugar onde nunca tinha ido", diz a Ecoa. Capixaba, Gaigher é de Cachoeiro do Itapemirim , cidade natal do cantor Roberto Carlos, e foi convidada a viver em Campo Grande (MS) e retratar o Pantanal para a afiliada da rede Globo, a TV Morena. "Ai, eu me apaixonei".
O lado humano do Pantanal
A história das pessoas foi a carta na manga de Gaigher para sensibilizar os brasileiros distantes do Pantanal. Nos telejornais, apresentou lendas como as do Mãozão, uma espécie de lobisomem pantaneiro, ou a do Velho do Rio, retratado na novela global.
Não à toa, a jornalista foi consultora da nova versão da novela, exibida neste ano. Esteve junto com o lendário violeiro Almir Sater e atores como Juliana Paes, Jesuíta Barbosa e Marcos Palmeira. E, claro, Gaigher conta os desafios reais do bioma. Inclusive, os casos bem-sucedidos de preservação de espécies como a arara-azul.
"Quem mora nos grandes centros precisa de envolvimento: entender o que está acontecendo e se posicionar para cuidar do que é nosso", diz. Depois, defende mais fiscalização e uma campanha pública e privada para reflorestar o que foi perdido nos grandes incêndios — e, assim, manter a exuberância vista na televisão.
Está tudo conectado
O trabalho da repórter foi além de Mato Grosso do Sul. Gaigher viajou para a floresta amazônica, conheceu o cerrado e ligou as pontas de um Brasil que, para ela, resumia-se à Mata Atlântica do Espírito Santo e do Rio de Janeiro.
As notícias que trazia, no entanto, nem sempre eram boas.
"Existem lugares no cerrado que conheci e não existem mais. Hoje são lavouras ou estradas", diz. Tudo na natureza é conectado: o desmatamento na Amazônia diminui o volume de chuvas que percorrem todo o país. No cerrado, com menos água caindo do céu, as árvores sentem dificuldades para sobreviver. As longas raízes da vegetação do cerrado estão conectadas à formação dos rios pantaneiros.
Em 2020, a conta chegou. Quase 30% do Pantanal pegou fogo. Os rios do bioma formam uma fortaleza natural contra grandes incêndios. Sem eles, as chamas avançaram com facilidade pela planície, levando tudo que vinha no caminho. "Ainda há uma dificuldade no Brasil de enxergar nossos biomas como interdependentes", diz.
"Já passou da hora de nós, brasileiros, não só do Pantanal, cobrar nossos gestores. Precisamos cobrar uma postura do Brasil diante do mundo, pois temos uma das maiores biodiversidades", diz. "O brasileiro precisa parar de falar que nós somos o celeiro do mundo. Se a gente pensar só em celeiros, nossos netos vão herdar um celeiro vazio".
"Diário de uma repórter no Pantanal" pode ser comprado na loja do Documenta Pantanal.
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