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Origens

As Histórias Que Nos Trouxeram Aqui: um resgate histórico da construção de identidade de pessoas negras


Érika Hilton, Aranha e Anielle Franco falam sobre família: "a base de tudo"

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília (DF)

26/10/2022 04h00

Para a deputada federal eleita Erika Hilton (PSOL-SP), família é a base de tudo. O ex-goleiro Aranha concorda, além de destacar que conhecer a história dos antepassados é fundamental para a formação da identidade de cada indivíduo. Já a bióloga Rosa Andrade e a colunista de Ecoa Anielle Franco lembraram da importância das mulheres na educação dentro de casa. Adotado quando criança, o jornalista Matheus Meirelles diz que a paternidade o levou a ter mais curiosidade sobre as referências de sua família de origem.

Cada um deles relatou sua trajetória em "Origens", evento promovido por Ecoa na última terça-feira (18). Em sua quarta edição, o projeto teve como mote "As histórias que nos trouxeram aqui". A edição deste ano contou com seis painéis em que celebridades e anônimos contaram como buscaram respostas sobre o seu passado ou agiram para transformar, cada qual à sua maneira, seus núcleos familiares. Apresentações de slam conduzido pela poeta e compositora Bell Puã e de stand up liderado pela humorista e apresentadora dos programas Splash Show e Otalab, do UOL, Yas Fiorelo, também fizeram parte da programação.

Erika Hilton: "Pessoas LGBTQIA+ precisam de apoio familiar"

Vereadora por São Paulo (SP) e ativista pela visibilidade de pessoas transgênero, a deputada federal eleita neste ano Érika Hilton diz que, por ter sido criada em um lar com forte presença feminina, foram as mulheres de sua família que contribuíram para sua formação.

"Por isso nos dói tanto quando dizem que pessoas LGBTQIA+ querem destruir a família. Sabemos o quanto nossas famílias foram importantes para nós. Fui criada por lar matriarcal, por mulheres fortes e potentes. Minha avó nordestina e minhas tias, empregadas domésticas, me ensinaram o valor da vida, me impulsionaram a pensar e a aprender quem eu sou", disse.

Em 2020, Érika foi a mulher mais votada para vereadora em todo o Brasil. Na Câmara paulistana, ela preside a Comissão de Direitos Humanos. Em 2015, sua luta contra uma empresa de ônibus que se recusou a imprimir o seu nome social projetou sua carreira.

Esta não é a primeira vez em que Hilton participa de Origens. No início do ano, ela e Gabriel Lodi, seu marido, participaram da terceira temporada do projeto. Os dois realizaram um teste de DNA em que puderam descobrir e refletir sobre as origens genéticas de suas famílias.

Em entrevista na época, os dois concordaram que ancestralidade é menos uma conversa sobre o passado. É o que se faz a partir disso. "Não venho de um continente que saiu devastando as coisas, mas de um lugar invadido, cujo povo foi escravizado, reis e rainhas, destronados, e mulheres, estupradas. Contar isso é fazer a minha futura geração não precisar lidar com os horrores da ausência das nossas histórias", disse Érika.

Aranha: "Saber quão profundas são suas raízes é importante"

O goleiro Aranha. - Arte/UOL - Arte/UOL
O goleiro Aranha.
Imagem: Arte/UOL

O ex-goleiro Aranha foi protagonista de um dos mais conhecidos casos de racismo do esporte brasileiro. Em 2014, o atleta do Santos ouviu diversos gritos e ofensas racistas da torcida do Grêmio durante uma partida em Porto Alegre (RS). Depois disso, o time gaúcho foi excluído Copa do Brasil como punição pelo episódio.

Convidado de Origens, o ex-jogador de futebol diz que família é o primeiro convívio que oferece ensinamentos, segurança e aprendizados sobre relacionamentos interpessoais. "Saber dos antepassados te dá uma sensação maior de pertencimento. Pessoas que não são negras sempre falam sobre suas origens com muito orgulho. A população negra não tem essas referências, principalmente as [pessoas] mais velhas", lamenta.

Ele aponta o período da escravidão como a razão para o não-pertencimento ou desconhecimento de pessoas negras sobre seu passado. "Conhecer a própria origem e saber quão profundas são suas raízes é importante. Se é importante para todas as outras pessoas que não são negras, por que para a gente não seria importante?", questiona.

"Acho que a população negra, de maneira geral, não fala do passado porque soa meio que vergonhoso. É uma página que não se toca muito. Meu avô tem 98 anos, nunca falou nada e deve ter nascido trinta e poucos anos depois da escravidão. O pai dele deve ter nascido liberto, mas a gente não sabe dali para trás", disse o ex-goleiro, durante a sua participação na primeira edição de Origens, em 2021.

Anielle Franco: "Sou grata às mulheres que vieram antes"

A professora Anielle Franco, colunista de Ecoa e diretora-executiva do Instituto Marielle Franco, destaca a importância feminina em sua criação. "Sou grata por todas as mulheres que vieram antes de mim na minha família. Por tudo que aprendi com elas, toda a resistência, força e legado. A família, para mim, é tudo. Significa o espaço de onde eu vim e o caminho que eu quero apontar no meu futuro", diz.

Anielle Franco é mestra em jornalismo e inglês pela Universidade da Flórida (EUA) e irmã de Marielle Franco, vereadora assassinada em 2018 durante um atentado que vitimou também o seu motorista, Anderson Gomes.

Rosa Andrade: "Minha mãe não tinha referência sobre seus pais"

A bióloga Rosa Andrade conta que foi durante a faculdade de biologia, quando já era ativista do movimento negro, que decidiu que seu segmento nos estudos seria sobre "cor, gente e genética".

"Mesmo antes de toda a tecnologia que há hoje, nas minhas aulas eu já percebia que os alunos queriam sempre saber do futuro, do tom de pele e cor dos olhos do filhos. É de extrema importância que as pessoas negras, principalmente, possam saber por onde caminharam seus gêneros", diz.

Durante a sua participação em Origens, Rosa falou sobre a influência na sua vida da matriarca, uma empregada doméstica mineira de quem ela tem muito orgulho.

"Quando minha mãe ficou grávida, a família para quem ela trabalhava resolveu que, como eu nasceria lá, eu teria uma boa educação. Elas tinham noção imensa de que a educação seria capaz de quebrar com estigma e preconceito. Minha mãe não tinha nenhuma referência em relação a seus pais, que morreram quando ela era muito pequena, nem em relação a irmãos".

Matheus Meirelles: "Serei pai. Fiquei curioso sobre minha genética"

Adotado com meses de vida, o jornalista Matheus Meirelles, da CNN Brasil, diz que não tem referências de seus antepassados e que a vontade de resgatar o passado se tornou mais forte depois de uma descoberta que irá mudar a sua vida para sempre.

"Descobri que serei pai. Isso despertou em mim a curiosidade sobre o que minha filha poderá herdar de mim... Quero saber o que de legal eu carrego na minha carga genética e que eu posso passa para ela", conta.

No Dia dos Pais, em agosto deste ano, o repórter ganhou de presente da noiva um teste de ancestralidade, e ele pode dar início na saga de responder algumas questões se curiosidades sobre o passado.

"Espero ter muitas histórias bacanas para contar a partir desses resultados... De entender melhor a minha história, que também será a história da minha filha".

Quarta temporada

Promovido por Ecoa, Origens está em sua quarta temporada. O evento deste ano teve como mote "As histórias que nos trouxeram aqui", e aconteceu ao longo desta terça-feira (18), com transmissão online nas plataformas do UOL.

Ao todo, foram seis painéis em que pessoas, entre celebridades e ilustres anônimos, contaram como buscaram respostas sobre o seu passado ou agiram para transformar, cada qual à sua maneira, seus núcleos familiares.

Os intervalos de cada painel contou com presentações de slam conduzido pela poeta e compositora Bell Puã e de stand up liderado pela humorista e apresentadora dos programas Splash Show e Otalab, do UOL, Yas Fiorelo. A apresentação e mediação dos encontros foi feita pela jornalista Semayat Oliveira.