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'Muitas vagas, poucos candidatos': ela tira pessoas do crime com empregos

Edilaine já ajudou empregar 117 egressos do sistema prisional - Arquivo Pessoal
Edilaine já ajudou empregar 117 egressos do sistema prisional Imagem: Arquivo Pessoal

Giacomo Vicenzo

De Ecoa, em São Paulo (SP)

26/10/2022 06h00

"Te chamarão para sempre de ex-presidiário", já cantava Mano Brown na música "Homem na Estrada", de 1993. Quase 20 anos depois, em 2021, a professora universitária Edilaine Carvalho, 47, observou um fenômeno: faltava mão de obra para vagas operacionais, no mercado, mas sobravam pessoas que não conseguiam adentrar no mercado de trabalho por serem egressas do sistema prisional.

Pensando nisso, Edilaine criou o projeto "Vida que segue", que tem como objetivo preencher as vagas 'deixadas de lado' por outros candidatos nos processos de seleção, ao mesmo tempo que afasta egressos da chance de reincidir no crime por meio do trabalho.

Envolvida com outros projetos de empregabilidade para o público geral na região do Jaraguá, zona norte de São Paulo, a educadora encontrou essa lacuna ao perceber que alguns cargos nunca eram preenchidos por candidatos que faziam parte dessas ações, e as empresas sofriam uma deficiência de mão de obra.

Tenho outros dois projetos de empregabilidade e percebi que estava com muitas vagas e poucos candidatos. Então, vi uma oportunidade de ajudar as empresas a conseguirem a mão de obra e ajudar quem está em busca de uma oportunidade Edilaine Carvalho.

Barreiras

A professora também mantém projetos de empregabilidade ao público geral. - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A professora também mantém projetos de empregabilidade ao público geral.
Imagem: Arquivo Pessoal

Entre as barreiras encontradas pelos egressos do sistema prisional estão a falta de documentos, de capacitação, as multas judiciais e o preconceito de alguns empregadores.

"Pela atuação nesses outros projetos, percebi que precisava criar algo específico para os egressos do sistema prisional, pois muitas empresas recusavam o candidato mesmo que esse estivesse no perfil da vaga", diz a professora.

Carvalho em parceria com algumas empresas que abraçaram a sua causa traz os contratantes para dentro da comunidade em que a sede do seu projeto atua e auxilia não apenas na conexão entre empregadores e contratados, mas também no preparo de currículos e para as entrevistas de emprego.

"Trago as empresas para dentro das comunidades, dessa forma conhecem melhor a realidade das pessoas e as pessoas não gastam com condução", conta.

Rede de empresas ajuda vencer o preconceito

Ao todo, Carvalho que divulga seu trabalho apenas pelas suas próprias redes sociais, conseguiu uma parceria com 32 empresas, mas são nove delas que aceitam com maior facilidade candidatos que são egressos do sistema prisional.

"Normalmente as empresas preferem não aparecer por temerem que outros funcionários se sintam inseguros ao trabalharem ao lado de ex-detentos. A maior parte das organizações é do ramo de centros de distribuição de alimentos, atacadistas, transportadoras e empresas de alimentos de forma geral", afirma a idealizadora do projeto.

Além das vagas em São Paulo, Carvalho também foi procurada por uma empresa da cidade de Extrema, Minas Gerais, que buscava preencher cargos em aberto.

"Eles estavam com dificuldade para achar candidatos para algumas vagas da área de logística, e aceitaram apoiar o projeto. Quando contratados, os novos funcionários contam com um ônibus que os transporta até o local de trabalho ou tem a hospedagem custeada totalmente pela empresa", conta Carvalho.

Um caminho para além do crime

O projeto 'Vida que Segue' também auxilia no encaminhamento para órgãos públicos que trabalham com o tratamento de dependência química. Além disso, parcerias fechadas por Carvalho oferecem cursos que trabalham postura, vocabulário e vestimenta para as entrevistas de emprego e após a contratação.

"Fazemos uma preparação para entrevista e também temos cursos por áreas, como vendas, repositor, operador de caixa e telemarketing", diz.

Até o momento, 117 pessoas já foram empregadas após passarem pelo projeto, que de acordo com Carvalho, é essencial para trazer uma segunda chance.

"Essa é uma segunda chance para recomeçar, resgatar a autoestima e dignidade. É comum ouvir deles que estão muito felizes com o pagamento recebido, que normalmente é bem menor do que quando roubavam ou traficavam, mas entendem que aquele salário representa a mudança que conquistaram em suas vidas", conta Carvalho.