Famílias transformam fezes de animais em gás para cozinhar no Ceará
Imagina poder cozinhar com a ajuda de fezes de animais? Parece loucura, mas no interior do Ceará isso já é possível.
Prova disso é a agricultora Marcia Maria Monte Silva, 41. Em 2018, a moradora de Sobral teve a vida transformada com a chegada de um biodigestor - equipamento que trata esgoto residencial, possibilitando a transformação de fezes e urinas, por exemplo, em gás ou adubo natural.
A Ecoa, ela conta que tudo era mais difícil antes disso. A família usava gás normal e carvão. Mas o aumento no preço do gás de cozinha e os recursos escassos da família tornavam uma opção difícil.
"O gás logo acabava e o carvão era muito difícil de encontrar. Agora, eu não tenho mais essa preocupação porque só uso meu biodigestor. Todo dia é varrido o chiqueiro dos caprinos e ovinos. É colocado no alimentador um balde e meio de água ou necessário para cobrir o esterco, ali fica de molho. Depois, tudo desce para o biodigestor para produzir gás. E o resto é colocado para fora, que é o que a gente chama aqui de chorume", conta.
Além da família de dona Marcia, outras 915 foram beneficiadas pelo projeto do Cetra (Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador e à Trabalhadora), uma organização sem fins lucrativos que articula ações no semiárido brasileiro.
O projeto tem ensinado as famílias a cozinhar usando gás produzido por esses biodigestores. A novidade sustentável ocorre por meio de uma tecnologia que aproveita a decomposição de fezes de animais para produzir biogás e biofertilizante de alta qualidade.
No processo, bactérias se multiplicam na ausência de oxigênio e produzem vários gases, principalmente o gás metano, que é direcionado por meio de um sistema de cano PVC de 20 mm até o fogão a gás.
A coordenadora geral do projeto, Neila Santos, explica que o trabalho tem como objetivo substituir a utilização do gás de cozinha pelo aproveitamento de esterco de animais.
Neila conta que o Cetra executou o projeto em três territórios do interior do estado do Ceará, nos municípios de Itapipoca, Irauçuba, Trairi, Senador Sá, Sobral, Pacujá, Mucambo, Graça, Coreaú, Quixeramobim, Quixadá e Pedra Branca.
"Essas tecnologias fortalecem e possibilitam o processo de autonomia das famílias, pois conseguem produzir o seu próprio gás, dependendo menos de insumos e produtos externos, conseguindo, inclusive, se livrar da compra de gás. Além do biogás, o biofertilizante fortalece a produção de alimentos com a adubação das plantas nos agroecossistemas familiares", diz.
Antes da instalação dos biodigestores, primeiro é realizado um estudo para identificar famílias dentro das comunidades que participam das ações do Cetra e que estejam dentro do perfil da agricultura familiar.
Em seguida, a assessoria técnica identifica as famílias por meio de critérios básicos para recebimento do biodigestor, sendo o primeiro deles ter criação de animais como porco, gado, caprinos, ovinos e aves.
O Cetra realiza todo processo de implantação mediante apoio de projetos que são aprovados em editais públicos ou de apoios com parceiros internacionais, assim como todo acompanhamento na manutenção, reparos e assessoria técnica.
O biodigestor tem uma tecnologia dividida em três partes: o alimentador, que é um pequeno tanque de cimento; o tanque de fermentação, espaço no qual as bactérias se multiplicam na ausência de oxigênio e produz gases; e a descarga, um cano de PVC que leva o biogás até as cozinhas.
De acordo com a gestora, além da manutenção, o centro realiza processos de formação para que a própria família e comunidades consigam realizar os devidos reparos. Neila ressalta que as famílias precisam se apropriar bem do funcionamento da tecnologia e fazer seu bom uso e manejo adequado.
"A manutenção ocorre primeiro na verificação das mangueiras, se estão boas ou ressecadas. Se tiver presença de água, elas são retiradas pois impedem a passagem do biogás. Outra é no botijão de água, se está em perfeitas condições", explica.
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