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Como um grupo está levando técnicas indígenas até as periferias de SP

A permacultura está baseada em: cuidar da terra, das pessoas, e promover a partilha justa - Divulgação
A permacultura está baseada em: cuidar da terra, das pessoas, e promover a partilha justa Imagem: Divulgação

Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP)

31/10/2022 06h00

Uma rede que leva os conhecimentos agrícolas indígenas para as periferias. Esta é a base da Permaperifa, que desde 2015 leva permacultura e conhecimentos de manejo indígenas para as quebradas da cidade de São Paulo.

Tudo começou quando os coletivos Artihorta, Horta di Gueto, Coletivo Eparreh e Megê se reuniram na Comunidade Cultural Quilombaque, no bairro de Perus, e decidiram criar uma rede de articulação que promovesse a permacultura nas bordas da capital. Sete anos depois, já são 22 coletivos e outras organizações, reunindo cerca de 200 pessoas e mais de 20 encontros.

Segundo o bioconstutor Diogo Megê, 32, um dos cofundadores da rede, os encontros acontecem a cada dois meses, sempre em alguma horta, comunidade ou centro social que esteja promovendo a permacultura nas margens da cidade.

Consideramos que tudo que tenha uma ação voltada ao bem da comunidade, que promova união, motivação e cuidado coletivo, incluindo levantar as bandeiras das minorias, é uma ação de permacultura Diogo Megê .

Mas o que é permacultura?

O termo permacultura descende de um termo da língua inglesa, Permanent Culture (Cultura Permanente) e foi desenvolvido pelo biólogo australiano Bill Mollison no anos de 1980. Assustado com a devastação ambiental, Mollison passou a estudar formas de ocupação da terra e as relações que os Povos Aborígenes mantinham com as plantas, animais e fontes de água.

A partir disso, propôs uma sistematização do manejo da terra e da ocupação humana baseado em três princípios: cuidar da terra, das pessoas, e promover a partilha justa. Paralelamente, sugeriu 12 preceitos de design, entre eles captar e armazenar energias renováveis, não desperdiçar, valorizar os elementos marginais e a diversidade, e apostar em soluções progressivas, pequenas e lentas.

A Rede Permaperifa entende que levar esses conhecimentos até a periferia é uma forma de encontro entre a ancestralidade e a contemporaneidade. "O objetivo da nossa rede é ampliar o número de pessoas que conhecem e praticam esses saberes, independentemente se eles vêm da Austrália, os exemplos do Brasil, da Argentina ou da África. A permacultura que a gente pratica na periferia é uma união disso tudo", completa Diogo.

Como são os mutirões

Permaperifa - Divulgação - Divulgação
A Rede Permaperifa promove, na periferia, um encontro entre a ancestralidade e a contemporaneidade
Imagem: Divulgação

Os encontros da rede são bimestrais, acontecem sempre em alguma comunidade da periferia de São Paulo e costumam receber 60 a 100 pessoas. De acordo com o educador social Alê Monteiro, 44, vinculado ao Núcleo de Permacultura do Cita e ao Coletivos Esparreh Educação Ambiental, cada ação da rede costuma impactar diretamente 300 pessoas da comunidade.

Este o foi o roteiro seguido no encontro do Permaperifa na EMEI Chácara Sonho Azul, na Vila Calu, Zona Sul da capital paulista. Foi a primeira intervenção da rede num equipamento público, e um dos últimos encontros antes da pandemia de covid-19

"Foi muito impressionante", relata a coordenadora Silvia Tavares. "As crianças participaram de uma oficina com tintas de terra e puderam pintar o muro da horta da escola utilizando essa técnica. Os integrantes da Rede trouxeram dicas muito preciosas, materiais que, de fato, melhoraram muito o espaço da horta. Houve também um mutirão de plantio e, ao cair da tarde, uma assembleia."

Além do mutirão, a rede organizou uma caminhada com professores e gestores da rede de educação para falar da importância daquele território no projeto político-pedagógico da EMEI. Outra caminhada foi feita com crianças e suas famílias, para promover intervenções que destacassem o rio que corre por baixo do prédio da escola. "Pintamos bueiros indicando que o rio passava ali, pintamos o traçado do rio nas ruas e alguns moradores abriram suas casas para mostrar bicas e olhos d'água para as crianças", recorda Silvia.

Permaperifa - Divulgação - Divulgação
"Áreas verdes trazem à tona a consciência de continuidade entre as existências das pessoas e da biodiversidade", diz educador
Imagem: Divulgação

O legado da atividade perdurou: a horta agroflorestal foi organizada e enriquecida com feijão guandu, pés de araçá, goiaba, limão, canteiros de ervas, além de plantas floríferas que alimentam a pequena colmeia de abelhas jataí que já existia no muro.

"Dois anos depois, a horta agroflorestal da EMEI foi incluída no roteiro Sampa + Rural para fortalecer e sedimentar o trabalho com horta e permacultura na comunidade, que fica em área de mananciais e sofre com a especulação imobiliária e descarte de lixo", explica Silvia.

Para Alê Monteiro, deixar uma estrutura mínima, que pode ser autogerida e melhorada pela comunidade é um dos maiores benefícios das atividades da Rede. Com as novas hortas, é possível produzir alimentos saudáveis de maneira permanente e aproximar os vizinhos, comércios e instituições por meio de um projeto comum, que beneficia a todos.

Para saber onde e quando será o próximo encontro da Permaperifa, acesse o perfil do projeto no Instagram ou no Facebook.