Como um grupo está levando técnicas indígenas até as periferias de SP
Uma rede que leva os conhecimentos agrícolas indígenas para as periferias. Esta é a base da Permaperifa, que desde 2015 leva permacultura e conhecimentos de manejo indígenas para as quebradas da cidade de São Paulo.
Tudo começou quando os coletivos Artihorta, Horta di Gueto, Coletivo Eparreh e Megê se reuniram na Comunidade Cultural Quilombaque, no bairro de Perus, e decidiram criar uma rede de articulação que promovesse a permacultura nas bordas da capital. Sete anos depois, já são 22 coletivos e outras organizações, reunindo cerca de 200 pessoas e mais de 20 encontros.
Segundo o bioconstutor Diogo Megê, 32, um dos cofundadores da rede, os encontros acontecem a cada dois meses, sempre em alguma horta, comunidade ou centro social que esteja promovendo a permacultura nas margens da cidade.
Consideramos que tudo que tenha uma ação voltada ao bem da comunidade, que promova união, motivação e cuidado coletivo, incluindo levantar as bandeiras das minorias, é uma ação de permacultura Diogo Megê .
Mas o que é permacultura?
O termo permacultura descende de um termo da língua inglesa, Permanent Culture (Cultura Permanente) e foi desenvolvido pelo biólogo australiano Bill Mollison no anos de 1980. Assustado com a devastação ambiental, Mollison passou a estudar formas de ocupação da terra e as relações que os Povos Aborígenes mantinham com as plantas, animais e fontes de água.
A partir disso, propôs uma sistematização do manejo da terra e da ocupação humana baseado em três princípios: cuidar da terra, das pessoas, e promover a partilha justa. Paralelamente, sugeriu 12 preceitos de design, entre eles captar e armazenar energias renováveis, não desperdiçar, valorizar os elementos marginais e a diversidade, e apostar em soluções progressivas, pequenas e lentas.
A Rede Permaperifa entende que levar esses conhecimentos até a periferia é uma forma de encontro entre a ancestralidade e a contemporaneidade. "O objetivo da nossa rede é ampliar o número de pessoas que conhecem e praticam esses saberes, independentemente se eles vêm da Austrália, os exemplos do Brasil, da Argentina ou da África. A permacultura que a gente pratica na periferia é uma união disso tudo", completa Diogo.
Como são os mutirões
Os encontros da rede são bimestrais, acontecem sempre em alguma comunidade da periferia de São Paulo e costumam receber 60 a 100 pessoas. De acordo com o educador social Alê Monteiro, 44, vinculado ao Núcleo de Permacultura do Cita e ao Coletivos Esparreh Educação Ambiental, cada ação da rede costuma impactar diretamente 300 pessoas da comunidade.
Este o foi o roteiro seguido no encontro do Permaperifa na EMEI Chácara Sonho Azul, na Vila Calu, Zona Sul da capital paulista. Foi a primeira intervenção da rede num equipamento público, e um dos últimos encontros antes da pandemia de covid-19
"Foi muito impressionante", relata a coordenadora Silvia Tavares. "As crianças participaram de uma oficina com tintas de terra e puderam pintar o muro da horta da escola utilizando essa técnica. Os integrantes da Rede trouxeram dicas muito preciosas, materiais que, de fato, melhoraram muito o espaço da horta. Houve também um mutirão de plantio e, ao cair da tarde, uma assembleia."
Além do mutirão, a rede organizou uma caminhada com professores e gestores da rede de educação para falar da importância daquele território no projeto político-pedagógico da EMEI. Outra caminhada foi feita com crianças e suas famílias, para promover intervenções que destacassem o rio que corre por baixo do prédio da escola. "Pintamos bueiros indicando que o rio passava ali, pintamos o traçado do rio nas ruas e alguns moradores abriram suas casas para mostrar bicas e olhos d'água para as crianças", recorda Silvia.
O legado da atividade perdurou: a horta agroflorestal foi organizada e enriquecida com feijão guandu, pés de araçá, goiaba, limão, canteiros de ervas, além de plantas floríferas que alimentam a pequena colmeia de abelhas jataí que já existia no muro.
"Dois anos depois, a horta agroflorestal da EMEI foi incluída no roteiro Sampa + Rural para fortalecer e sedimentar o trabalho com horta e permacultura na comunidade, que fica em área de mananciais e sofre com a especulação imobiliária e descarte de lixo", explica Silvia.
Para Alê Monteiro, deixar uma estrutura mínima, que pode ser autogerida e melhorada pela comunidade é um dos maiores benefícios das atividades da Rede. Com as novas hortas, é possível produzir alimentos saudáveis de maneira permanente e aproximar os vizinhos, comércios e instituições por meio de um projeto comum, que beneficia a todos.
Para saber onde e quando será o próximo encontro da Permaperifa, acesse o perfil do projeto no Instagram ou no Facebook.
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