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Papo Preto #104: como o humor atrapalha condenações por crimes de racismo

De Ecoa, em São Paulo

12/11/2022 06h00

O Observatório da Discriminação Racial no Futebol de 2021 revelou que, de 2016 a 2019, os casos de racismo contra jogadores negros aumentaram ano após ano. Esse número só caiu em 2020 porque na pandemia de covid-19 os estádios não receberam torcida. Em 2021, no entanto, voltou a crescer. Quando um caso desses acontece sempre acaba em polêmica porque alguns consideram as manifestações em estádios como brincadeiras, o que relativiza o racismo.

A esse fenômeno Adilson Moreira dá o nome de 'racismo recreativo'. Ele é especialista em Direito Antidiscriminatório, autor de um livro com esse nome, da coleção Feminismos Plurais, e neste episódio de Papo Preto explica o termo em mais um programa da série Dicionário Preto.

Moreira diz que o que acontece no campo de futebol é o mesmo que ocorre nos programas de humor. "O que eu chamo de racismo recreativo é um tipo de política presente no Brasil e em vários outros países que opera por meio do uso estratégico do humor racista", diz ele a partir de 04:34 do arquivo acima.

"O humor racista permite que pessoas brancas e instituições controladas por pessoas brancas expressem desprezo, condescendência e ódio por pessoas não brancas, mas permite também que elas mantenham uma imagem social positiva, porque acredita-se que todo e qualquer tipo de humor é benigno inclusive o humor racismo", continua.

O especialista diz que jogadores negros são sempre vítimas de bananas porque isso não é só uma forma de ofender esses jogadores ou criar tensão emocional e também não ocorre, em hipótese alguma, apenas pelo fato de estarem em um ambiente de recreação. "É uma forma de se afirmar superioridade. Esse ato de jogar banana significa 'eu, branco, estou me afirmando como ser humano. Você, negro, não é humano e não deveria estar nesse espaço' (a partir de 21:51 do arquivo acima).

Papo Preto é um podcast produzido pelo Alma Preta, uma agência de jornalismo com temáticas sociais, em parceria com o UOL Plural, um projeto colaborativo entre o UOL, coletivos e veículos independentes. Novos episódios vão ao ar todas as quartas-feiras.

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