Delivery de alimentos gerou 46% a mais de lixo plástico na pandemia
O serviço de delivery de alimentos, principalmente no Brasil, ajudou as pessoas com alguma renda durante a pandemia do novo coronavírus. No entanto, o que seria um escape para a reclusão imposta para evitar a disseminação da doença, inevitavelmente gerou um acréscimo preocupante na quantidade de lixo.
Segundo levantamento encomendado pela ONG Oceana, entidade voltada à conservação marinha, entre 2019 e 2021 o consumo de plástico descartável cresceu 46%, saltando de 17,16 mil toneladas para 25,13 mil toneladas de resíduos poluentes. Ecoa questionou a instituição sobre o que poderia ser feito para reduzir esse impacto negativo e quais empresas estariam trabalhando em soluções. Segundo a Oceana, apenas uma empresa manifestou preocupação no Brasil.
O estudo foi realizado em parceria com a Ex Ante Consultoria Econômica, que desenvolveu a metodologia de mensuração do consumo de plástico no setor do delivery de refeições a partir de bases de dados oficiais, como a do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"Qual o impacto dessa mudança em relação ao consumo de plástico descartável por esse setor? Foi essa a pergunta que motivou o nosso estudo e nos deparamos com um resultado que ajuda a entender o problema. O consumo de plástico descartável no setor de delivery aumentou 46%. É uma quantidade imensa e abarca sacolas, plástico-filme usado para embalar e transportar a comida, canudos, talheres e outros utensílios que seguem junto com os pedidos", disse a Ecoa Lara Iwanicki, gerente de campanhas da ONG.
Mais de 2 toneladas de plástico por hora
Lara aponta que, somente em 2021, esse consumo no setor de delivery atingiu 68 toneladas de plástico a cada dia, o que representa 2,8 toneladas por hora. São itens que não têm circularidade porque não foram projetados para serem reutilizados, retornados, reciclados ou compostados.
"Os aplicativos de delivery, ao insistirem no uso de plástico descartável em suas operações, têm atuado cotidianamente como um elo entre um modelo insustentável de produção de plástico de uso único e o consumidor final. É importante ressaltar que a pandemia agravou o problema, mas ele já existia antes", alertou a gestora.
A ONG defende que a poluição por plástico não é um problema de fim da cadeia. Ela está no modelo de produção. Todos os anos, o Brasil produz cerca de sete milhões de toneladas de plástico, o que faz do país o maior produtor desse material na América Latina.
Desta quantidade, três milhões de toneladas são de plásticos de uso único: embalagens e produtos descartáveis como copos, talheres e sacolas, que rapidamente viram lixo, não têm reciclabilidade e se acumulam no ambiente.
Todos os anos, o Brasil produz cerca de sete milhões de toneladas de plástico, o que faz do país o maior produtor desse material na América Latina ONG Oceana
É preciso repensar a produção
Como solução a esse desafio, Oceana avalia ser urgente a implementação de medidas concretas que repensem a produção de plástico descartável. Atualmente, o setor de delivery ocupa um papel importante no cotidiano de muitas famílias brasileiras e na manutenção de um sistema insustentável de consumo de plástico.
"Por isso que, desde 2020, lançamos um chamado público ao setor. Desenvolvida em parceria entre nós da Oceana e o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), a campanha #DeLivreDePlástico desafia os aplicativos de entrega de comida a se comprometerem com entregas livres de plástico descartável em suas operaçõs", diz Lara Iwanicki.
A Oceana defende a criação de uma lei nacional inspirada em políticas públicas e boas experiências internacionais, visando reduzir a produção de itens de plástico problemáticos e desnecessários e promover a circularidade das embalagens. "Essa já é uma tendência internacional e leis similares já têm se tornado uma realidade em países como Canadá, Chile, Europa, Quênia, Índia e China", disse
Segundo a instituição, uma pesquisa de opinião realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), em 2021, com usuários de delivery, mostra que 72% dos entrevistados gostariam de receber suas refeições sem plástico descartável, e 15% já deixaram de fazer um pedido por se sentirem incomodados com a quantidade de plástico descartável.
iFood apresentou preocupação
Segundo a Oceana, das empresas de delivery por aplicativo que atuam no país, somente o iFood apresentou preocupação com a produção extra de plástico, foi a primeira empresa a aderir à campanha e se movimentou para reduzir o impacto.
Por meio de nota, o aplicativo informou a Ecoa que tem como um de seus pilares zerar a poluição plástica em suas operações até 2025. A meta integra o iFood Regenera, um plano de impacto ambiental positivo da marca.
Para cumprir o objetivo, a empresa tem atuado em três frentes estratégicas: reduzir o envio de itens plásticos; incentivar o uso de embalagens sustentáveis; e investimento em reciclagem.
O iFood destaca que, desde junho de 2021, o aplicativo dá aos clientes a opção de dispensar o envio de garfos, colheres, facas e canudos plásticos ao fazer o pedido. Desde então, ressalta, mais de 200 milhões de pedidos foram entregues sem esses itens plásticos de uso único, evitando a circulação de mais 510 toneladas de plástico.
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