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Mercado financeiro já investiu R$ 42 milhões na agricultura do MST

Uma mesa com uma bandeira do MST cheia de alimentos - MST
Uma mesa com uma bandeira do MST cheia de alimentos Imagem: MST

Giacomo Vicenzo

de Ecoa, em São Paulo (SP)

18/11/2022 06h00

Ao pensar no mercado financeiro, se imagina números e gráficos, ou quando muito o nome dos títulos em alta ou queda na bolsa de valores. Mas desde 2020, é possível investir diretamente em pequenos agricultores e ajudar no financiamento da produção de alimentos orgânicos, como milho e feijão, e em operações que resultam no barateamento deles.

Tudo isso é possível por meio do Finapop (Financiamento Popular da Agricultura Familiar), que faz com que as mãos e enxadas de agricultores de assentamentos da agricultura familiar do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) tenham uma força extra de um braço do mercado financeiro, trazendo lucro e ajudando que esses agricultores tenham uma fonte de financiamento.

Mas o que é o Finapop, afinal?

"A Finapop é uma empresa formada a partir da vontade de um grupo de investidores e de cooperativas produtoras de alimentos, que realizam investimentos de impacto em áreas de Reforma Agrária", conta Ana Terra, engenheira agrônoma e coordenadora do Finapop.

Tudo começou quando um grupo de investidores articulou um CRA (Certificados de recebíveis do agronegócio) para ajudar na instalação de um frigorifico em uma cooperativa do MST.

"Fomos estruturando diferentes modalidades de investimento, atuando em parcerias, como com o Grupo Gaia, para a realização de um CRA, que beneficiou 7 cooperativas", afirma Terra.

Investimentos ajudam na produção de orgânicos e têm retorno em até três anos. - Divulgação/Finapop - Divulgação/Finapop
Investimentos ajudam na produção de orgânicos e têm retorno em até três anos.
Imagem: Divulgação/Finapop

Com o sucesso, o movimento continuou e se expandiu: "Depois, a parceria foi com a CREHNOR, uma cooperativa de crédito que financiou 25 projetos no valor de R$ 50 mil para cooperativas e associações de todo o Brasil, além de outras parcerias, totalizando 59 projetos de investimento em 48 organizações", comenta a coordenadora.

Como o Finapop funciona na prática?

Na prática, o Finapop funciona em três frentes: captando recursos junto a investidores, qualificando projetos junto às cooperativas e realizando o acompanhamento dos investimentos para fortalecer as estratégias de gestão e comercialização das cooperativas.

A ideia é que o financiamento seja rentável a todos os investidores e justo para quem recebe o investimento. "Para os agricultores, o recurso é utilizado para diferentes modalidades, de forma a custear a produção de alimentos agroecológicos, garantir infraestrutura de mecanização e capital de giro para compra de matéria-prima", conta Terra.

O dinheiro investido contribui para produção de alimentos saudáveis. "Há casos como o de uma cooperativa que investiu na implementação de uma biofábrica, reduzindo os custos de produção de feijão e milho orgânicos e reduzindo também o uso de agrotóxicos", explica a coordenadora.

Também há cooperativas que garantem preços mais justos aos produtores na compra de matéria-prima, e garante melhores condições de geração de trabalho e renda. "Por exemplo, comprando a matéria-prima e garantindo estratégias de fornecimento ao Programa Nacional de Alimentação Escolar", diz Terra.

O investimento mínimo é de R$ 100 e ajuda na produção de alimentos orgânicos do MST. - Divulgação/Finapop - Divulgação/Finapop
O investimento mínimo é de R$ 100 e ajuda na produção de alimentos orgânicos do MST.
Imagem: Divulgação/Finapop

Quem pode investir no Finapop e qual a garantia?

Os investimentos, que vão dos números no mercado a terra vermelha do campo, já somam R$ 42 milhões e é possível investir em linhas diferentes, como na CAPEX, ou investimento produtivo, que são recursos direcionados para apoiar estruturas agroindustriais. As opções de investimento começam em R$ 100.

"Neste momento, temos por exemplo, um investimento feito pela GAIA para a compra de uma embaladora de grãos a vácuo em uma cooperativa de São Paulo. Neste investimento, a GAIA investe o recurso e a cooperativa dá como garantia seu estoque e as máquinas. Em três anos se devolve o recurso investido", diz Terra.

Outro 'modo' de investimento é na linha de Capital de Giro. "Nesse, os investimentos são destinados às cooperativas que já têm agroindústrias e um processo comercial articulado, recebendo recursos para compra de matéria-prima dos seus associados. Por exemplo, uma cooperativa que trabalha com café, que precisa comprar no momento da safra para industrializar esse café e vendê-lo ao longo do ano", conta Terra.

Para Terra, o Finapop é a oportunidade de gerar impactos positivos com investimentos e recursos que atuam em estratégias de cooperação, na produção de alimentos e em relações mais justas e saudáveis. "O Finapop contribui para que se consolide uma economia pautada na preservação do meio ambiente e na superação das desigualdades sociais, com a produção de alimentos saudáveis protagonizada pelas cooperativas", comenta.

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