MTST é premiado na COP27 por cisternas em Guarulhos: 'Economizamos água'
Em Guarulhos, as caixas-d'água distribuídas ao lado dos barracos na ocupação Maria da Penha, que faz parte do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), à primeira vista parecem uma cena comum às construções improvisadas dos mutirões de habitação.
Mas a ideia simples de construir cisternas para captar água da chuva atravessou o Oceano Atlântico e garantiu o prêmio ImaGen Ventures na COP27, no Egito.
A estrutura faz parte do projeto nomeado de "Quebrada Agroecológica", feito por jovens do MTST, que leva água para atividades dos moradores, como irrigar hortas e em faxinas. São mais de 2 mil famílias beneficiadas na região, com perfil diverso.
"Uma ocupação não tem perfil único, mas há mulheres que vão para ocupação depois de sofrerem violência doméstica, pessoas que não conseguiram pagar o aluguel e pessoas em situação de rua. As cisternas resolvem esse problema [de falta de água] e evita que gastem comprando garrafões de água com o pouco dinheiro que têm", conta Larissa Napoli, 24, arquiteta, que integra o setor de arquitetura do MTST.
A jovem faz parte da implementação do projeto na ocupação juntamente com a área de horta do MTST, que ajudou a conceber a ideia e executá-la na prática com os moradores do local.
A moradora Thayna Manenti, 27, que hoje é coordenadora da ocupação, chegou no terreno, assim como muitos outros, depois de enfrentar problemas financeiros e não conseguir mais pagar aluguel. No local, se deparou com outro desafio: a falta d'água na torneira.
"As cisternas trouxeram uma esperança. Agora, conseguimos economizar a água que chega da rua e usamos a água da chuva para tratar a horta e outras atividades. Pois, no local temos escassez de água", diz Manenti.
Apoio da Unicef
Para que o projeto acontecesse, o grupo de jovens que participou da criação das cisternas, inscreveu a proposta em um edital, que obteve o financiamento da Unicef.
"O local sempre sofreu com falta de água, esse problema aumentou juntamente com o adensamento da ocupação e sabendo do edital escolhemos esse projeto que atende a essa demanda, e tivemos o projeto financiado por uma verba da Unicef", conta Napoli.
A ONG Viração Educomunicação, que foi responsável pela elaboração do edital e selecionou seis projetos, que foram buscados na cidade de São Paulo e no litoral.
"A articulação é mediada entre a nossa ONG e a Unicef, e tem foco no enfrentamento às mudanças climáticas. Nosso trabalho foi fazer isso chegar aos jovens que tinham os projetos", conta Natalie Hornos, analista de projetos da Viração Educomunicação.
O valor contemplado no primeiro capital semente que ajudou o início do projeto foi de R$ 2.600, que garantiu que quatro caixas-d'água começassem a ser instaladas em setembro de 2022. "Fizemos essas cisternas com um cano de evasão, que fica no topo da caixa, pensando em passar a água dela para outra quando está cheia. Isso significa que podem ser expandidas facilmente", afirma Napoli.
Projeto do MTST vence entre grupo de 45 países
Indicados para etapa global, o prêmio recebido na COP27 fez com que o projeto dos jovens do MTST concorresse e ganhasse em um grupo com mais de 90 concorrentes de 45 países diferentes.
"Essa é a primeira vez que o Brasil ganha a etapa global desse prêmio. Agora, o projeto terá uma verba maior para a expansão", diz Hornos, responsável pelo edital.
Com a premiação, o valor destinado ao projeto será de R$ 60 mil e irá levar as cisternas para todo Brasil. "Vamos expandir as cisternas para o Brasil todo, e fazer uma cisterna em cada Cozinha Solidária do MTST. A projeção é que 16 mil famílias sejam beneficiadas", conta Napoli.
Para a jovem arquiteta, vencer esse prêmio foi importante, mas também é parte de uma denúncia sobre a crise habitacional no Brasil: "O número de ocupações está aumentando porque o número de pessoas sem-teto aumentou. Esse tipo de ação é uma forma de solidariedade, mas também é uma denúncia", diz.
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