Cervejaria declara 'antipatrocínio' à Copa e promete doar para ativistas
Na véspera da Copa 2022, o Qatar proibiu a venda de cerveja no entorno de estádios e gerou uma crise na Fifa (e na Budweiser, claro, marca de cerveja que é patrocinadora oficial da Copa do Mundo do Qatar). Quem não se surpreendeu com a notícia foi BrewDog, cervejaria escocesa, que decidiu ser a "antipatrocinadora" oficial da Copa.
Com uma expectativa de ser assistida por cinco bilhões de pessoas, segundo o presidente da Fifa Gianni Infantino, a Copa atrai grandes empresas dispostas a investir fortunas para ser uma das patrocinadoras do evento e expor sua marca ao mundo. Este ano -- além da Budweiser -- Adidas, Coca-Cola, Hyundai e Qatar Airways estão entre algumas das parceiras oficiais do evento.
Famosa por suas cervejas artesanais e hipsters, a empresa do CEO e cofundador James Watt anunciou que estava iniciando um protesto contra a Copa 2022. Os motivos não faltam, segundo a BrewDog: representantes do Qatar subornaram membros da Fifa para garantir o país como sede do torneio; o país árabe tem leis contra homossexuais; e também violou uma série de direitos humanos, pois, durante a construção dos estádios e outras obras de infraestrutura, desde 2010, 6.500 trabalhadores imigrantes morreram por conta das péssimas condições de trabalho.
A marca espalhou diversos outdoors pelo Reino Unido, reforçando que estava protestando contra a "corrupção, abuso e morte" associados ao evento. Um dos outdoors dizia "Primeiro a Rússia, agora o Qatar, não posso esperar pela Coreia do Norte", ironizando o fato de Rússia e Qatar serem países acusados de homofobia, autoritarismo e corrupção.
A BrewDog também criou três novas cervejas, batizadas de Lost Lager. Ela promete que a venda dessas cervejas no Reino Unido será doada para instituições que combatem abusos aos direitos humanos no Qatar. A campanha foi criada pela agência Saatchi & Saatchi de Londres.
Em sua página no LinkedIn, Watt disse que "o futebol foi arrastado para a lama antes mesmo de uma única bola ser chutada". Ele completou: "Futebol deveria ser para todos. Mas, no Qatar, a homossexualidade é ilegal, a flagelação é uma forma aceita de punição e é OK que 6.500 trabalhadores morram na construção dos estádios".
Questionado por que a BrewDog ainda promoveria "fanzones" em seus pubs e outros estabelecimentos para os fãs assistirem aos jogos, ele respondeu que a marca não queria impedir que ninguém acompanhasse o evento e que, quanto mais futebol eles mostrassem, mais as cervejas criadas para a ação de protesto seriam vendidas e, logo, mais dinheiro iria para as instituições de caridade.
A BrewDog é famosa por chamar a atenção com ações que dividem a opinião dos consumidores. Em 2014, em protesto contra as Olimpíadas de Inverno de Sochi, na Rússia, a marca criou uma cerveja chamada "Not For Gays", criticando as leis anti-LGBTQ+ do país. E a própria empresa não está livre de críticas. Em 2021, no Twitter, ex-funcionários denunciaram as condições de trabalho na companhia, dizendo que o ambiente de trabalho era "tóxico" e que a empresa havia cortado investimentos e benefícios de saúde e segurança.
Acusações
Muitas denúncias sobre as mortes de trabalhadores no Qatar em obras envolvendo a Copa do Mundo surgiram na última década. A última veio do grupo de direitos humanos Equidem, que em novembro divulgou a morte de 6.500 trabalhadores imigrantes — a maioria de países do subcontinente indiano, como Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka — e condições como práticas ilegais de recrutamento, salários não pagos, assédio verbal, abuso físico e xenofobia. Os trabalhadores eram expostos ao calor excessivo do deserto em longas jornadas de trabalho e com segurança precária. Há, também, relatos de passaportes retidos.
Já a organização Human Rights Watch (HRW) denuncia a perseguição a membros da comunidade LGBTQ+ no Qatar, cujas leis proíbem a homossexualidade. O documento da HRW relata seis casos de graves e repetidas agressões, além de cinco casos de assédio sexual de pessoas em custódia policial entre 2019 e 2022.
Quanto ao escândalo de corrupção envolvendo a Fifa, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em 2020, acusou formalmente por lavagem de dinheiro diversos agentes envolvidos na eleição do Qatar. Segundo o órgão, tanto a Copa da Rússia, em 2018, quanto a Copa de agora foram conquistadas através de um esquema de compra de votos. Inclusive, o brasileiro Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, é citado como um dos que recebeu dinheiro para escolher o Qatar como sede do evento.
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