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'É de comer?': Ela quer mais plantas 'diferentonas' no prato do brasileiro

A geógrafa influencer defende uma alimentação biodiversa e fim da "cegueira botânica" - Wesllen Braga
A geógrafa influencer defende uma alimentação biodiversa e fim da 'cegueira botânica' Imagem: Wesllen Braga

Lílian Beraldo

Colaboração para Ecoa, em Brasília

15/12/2022 06h00

Ainda quando era criança, foi a avó que apresentou o poder das plantas. Amanda Brasil ainda lembra de ter aprendido com ela, que era grande conhecedora de ervas medicinais, a identificar e colher plantas diversas para usar na cozinha.

"A gente usava taioba, bertalha, beldroega...", relembra. Já adulta, ela se reencontrou com o mundo das plantas não convencionais quando resolveu morar em um sítio no interior do Rio de Janeiro, há seis anos. "Eu achei o máximo poder reutilizar esse conhecimento e poder voltar a consumir plantas que são nutritivas e saborosas."

Dona de um blog de gastronomia à época, Amanda começou a testar receitas usando PANCs, ou seja: Plantas Alimentícias Não Convencionais - termo criado pelos estudiosos Valdely Kinupp e Harri Lorenzi para designar aquelas plantas que podem servir de alimento, mas que, em geral, não são disponibilizadas nas gôndolas dos supermercados.

Apesar de ser um termo relativamente novo (começou a ser mais usado em 2014), as PANCs são conhecidas há muito mais tempo e têm vários adeptos no Brasil e no mundo. Amanda Brasil, 40, é geógrafa, especialista em educação ambiental, gastróloga e uma dessas pessoas que prioriza a alimentação com essas plantas.

PANClândia - Wesllen Braga - Wesllen Braga
Amanda Brasil diz que aprendeu com a sua avó a identificar e coletar plantas não convencionais
Imagem: Wesllen Braga

Apaixonada pelo assunto, ela resolveu dividir o seu conhecimento por meio da internet e criou, em março de 2018, no Instagram, o perfil PANClândia, que tem atualmente 114 mil seguidores.

Para muitos, assim como para ela, plantas como a taioba e a bertalha traziam uma memória afetiva ligada à infância, mas faltava informações de como identificar e encontrar na natureza.

Ciente da curiosidade do público, a geógrafa resolveu criar mais um canal de informação sobre o tema e nasceu assim a PANClândia. No perfil, que ela considera uma espécie de escola virtual, ela compartilha informações de cultivo, coleta, identificação, consumo e benefícios alimentares.

"Tudo isso para dar às pessoas uma maior autonomia alimentar. Eu não preciso mais me alimentar só daquilo que o mercado me oferece. Eu tenho condições de usar a natureza a meu favor", defende.

PANClândia - iStock - iStock
Salada da PANC beldroega é considerada uma comida exótica
Imagem: iStock

Precisamos olhar e saber: isso é um remédio, isso é uma comida, essa flor a gente pode comer, essa flor tem sabor de agrião. Começar a olhar para as plantas e entender que ali tem potencial, que ele tem benefício.

Amanda Brasil, criadora do PANClândia

Prato colorido é sinônimo de alimentação mais nutritiva

Para Amanda, colorir o prato com plantas e flores deixa a alimentação mais agradável para os olhos e mais nutritiva para o corpo. "Essa coisa do colorido, do lúdico no prato é muito atrativa, fica muito bonito. Além disso, a infinidade de nutrientes e vitaminas que você ingere consumindo PANCs diferentes ao longo de um mês é indiscutível", afirma.

Ela diz que o perfil que mantém nas redes sociais tem o intuito de ensinar as pessoas a sair da 'monotonia alimentar' e transformar a alimentação em algo mais biodiverso.

Além das vantagens nutricionais, ela destaca ainda os benefícios para o bolso. "São plantas que geralmente são baratas, porque as pessoas acham que não têm valor, mas elas podem ser de graça se a gente souber identificar na natureza. Pode nascer no quintal."

As PANCs podem ser sementes, frutas e também os famosos 'matinhos' (gramíneas) e variam de região para região. Um exemplo é o jambu, muito comum na região Amazônica, mas considerada PANC no restante do país.

'Será que pode comer?'

PANClândia - Felipe Oliveira - Felipe Oliveira
Perfil de Amanda Brasil no Instagram tem mais de 100 mil seguidores e ensina identificar as PANCs
Imagem: Felipe Oliveira

Amanda afirma que o universo das PANCs é imenso e instigante. " A gente olha para uma planta e a primeira pergunta que vem na cabeça é: será que pode comer? Acaba que a gente vai atrás dessa informação."

Na avaliação da especialista, as PANCs são totalmente acessíveis desde que a pessoa tenha interesse em aprender e saiba usá-las com responsabilidade. "A natureza é a maior despensa que a gente pode ter à nossa disposição", avalia.

Obviamente a gente não vai tirar as plantas de qualquer lugar nem vai dizimar determinados ecossistemas. Precisamos entender que existem outros organismos que precisam daquelas plantas

Amanda Brasil, criadora do PANClândia

Além das informações que divulga pelo Instagram, Amanda também ministra workshops e oficinas em que os participantes vão aprender a identificar e reconhecer as PANCs na natureza, a cultivar esse tipo de planta e, por fim, a entender a melhor forma de aproveitamento na culinária.

"A gente faz essas oficinas utilizando todo o aparato sensorial. Observamos a planta como um todo, desde o formato da folha e a posição do galho até o local em que ela nasce. Também usamos o tato e sentimos o cheiro. Só podemos provar se tivermos certeza. Essa é a advertência que fazemos: não tem certeza se é uma planta comestível, não coma."

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