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'Negro deveria votar em negro', defendia Pelé como ministro em 1995

Pelé usando camisa em defesa das Diretas Já - Ronaldo Kotscho/Reprodução do Instagram
Pelé usando camisa em defesa das Diretas Já Imagem: Ronaldo Kotscho/Reprodução do Instagram

De Ecoa, em São Paulo (SP)

29/12/2022 19h12

No dia 15 de novembro de 1995, Edson Arantes, o Pelé, recebeu organizadores de uma marcha contra o racismo em Brasília. Na ocasião, ele era ministro extraordinário dos esportes e defendeu mais participação dos negros na política brasileira. No mesmo dia, as falas geraram defesas e ameaças entre congressistas.

O ministro foi duro. "O sinônimo de político no Brasil é de corrupto e o negro não carrega essa marca", disse, depois da reunião, para emissoras de televisão depois da reunião.

"De uma maneira geral, o negro também deveria votar no negro. No Brasil, um país mulato como dizem, você vê que os negros não tem uma boa representatividade no Congresso", disse dias depois.

O que Pelé defendia na política?

  • Mais negros eleitos;
  • Que negros votassem mais em negros;
  • Melhora de vida da população negra por meio da política

Pelé havia aceitado convite do então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) para o ministério quando a memória da seleção brasileira tetracampeã era fresca na memória dos brasileiros. Em 1994, ele comentou a Copa do Mundo pela televisão.

No ministério, o objetivo de Pelé, além do esporte, era incluir mais negros na política.

"Se o negro quer que se tenha uma melhora na sua posição social e uma melhora no Brasil de uma maneira, temos de botar gente no Congresso para defender a nossa raça"

A reunião em Brasília era parte de um convite a Pelé e FHC para participar da marcha em memória aos três séculos da morte de Zumbi dos Palmares, no dia 20 de novembro.

Anos antes, o jogador também participou do movimento que pedia eleições diretas no Brasil.

Pelé com a camisa da campanha das Diretas Já pela redemocratização - Ronaldo Kotscho/ Editora Abril - Ronaldo Kotscho/ Editora Abril
Pelé com a camisa da campanha das Diretas Já pela redemocratização
Imagem: Ronaldo Kotscho/ Editora Abril

A fala causou atrito entre o executivo e o congresso, que começavam a criar laços no primeiro ano de mandato.

O então deputado federal Luís Eduardo Magalhães disse que causaria "uma guerra" contra a fala de Pelé sobre a imagem de corrupção em Brasília.

Professores da USP, Unicamp, atores e políticos defenderam Pelé. Entre eles, Abdias Nascimento, uma das maiores lideranças históricas do movimento negro brasileiro.

Então senador, Abdias propunha políticas afirmativas raciais desde os anos 80, quando era deputado federal.

Nos anos 2000, as ideias dele serviram como base para as cotas raciais em universidades.

A repercussão

Pelé manteve o que disse nos dias seguintes, mas se encontrou com deputados para explicar a declaração. FHC disse satisfeito com as falas. O trabalho do ministro dos esportes continuou até o fim do primeiro mandato do presidente, em 1998.

Como ministro, Pelé foi conhecido pela criação de regras para clubes, contratos entre atletas e a criação de um regulamento antidoping que formaram a chamada "Lei Pelé".

Nas eleições de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral afirma que 50,27% dos candidatos a cargos estaduais e federais se declararam negros, um aumento em 8,64% em relação a 2018. Apesar disso, apenas 32% entre todos os eleitos, eram negros.

O maior jogador de todos os tempos morreu nesta quinta (29) após um câncer de cólon. Ele estava sob cuidados paliativos.

Coincidentemente, Ana Moser foi anunciada como a nova ministra dos esportes. "Nosso maior atleta, nosso maior embaixador. Espero que a gente possa ser capaz de honrar tamanho legado", disse a ex-atleta.