Após coma do filho, lenda do boxe abriu academia embaixo de viaduto
O boxeador Nilson Garrido fez história sob viadutos de São Paulo e mudou o destino de pessoas sem esperança, que estavam excluídas da sociedade. Em 2006, ele começou a dar aulas de boxe embaixo de um viaduto no Bixiga, no centro da cidade.
Uma geladeira antiga ou a porta de um veículo abandonado eram sacos de pancada e pedras e pneus de caminhão eram usados como peso. Os primeiros alunos da academia tinham problemas familiares, eram egressos do sistema prisional, dependentes químicos, em situação de rua ou moradores albergues. Cada um à sua maneira, tentava reorganizar a vida na metrópole paulista.
Nilson também viveu em situação de rua. Foi catador de materiais recicláveis e feirante. Nos anos 1980, foi pugilista e, após se aposentar, treinou o próprio filho, Fábio Garrido.
Em 2004, Fábio entrou em coma após ser nocauteado por Mário Soares "Marinho". Ele era treinado por Garrido na academia improvisada que, dois anos após o incidente, foi tornado no projeto social Cora Garrido, em parceria com sua companheira Cora Batista.
As aulas eram gratuitas e sustentadas com doações. Entre os atletas, estava Fernando Menoncello "Bolacha", hoje professor de boxe mas que vivia em um albergue em consequência da dependência química. "Ele me chamava de Rocky Balboa", disse Bolacha para Ecoa, em referência ao clássico personagem boxeador interpretado por Sylvester Stallone. Inspirado em Garrido, abriu a própria academia.
Projeto virou academia moderna
O viaduto foi revitalizado e o projeto ampliado para mais duas unidades na zona leste. Além dos exercícios, muitos recebiam aulas de alfabetização durante os treinos.
Em 2014, Garrido foi visitado pelo lutador de MMA Anderson Silva e patrocinado pela rede de academias Smart Fit com R$ 700 mil para renovação dos equipamentos que modernizaram o local. Em 2014, mais de 500 pessoas frequentavam a academia de Garrido diariamente.
Nascido em Olinda, chegou em São Paulo quando criança, onde tornou-se pugilista. Durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, carregou a tocha olímpica colocada à venda para sustentar a iniciativa social.
"Eu percebi que não só treinávamos com material reciclado. Percebi que nós também tentávamos reciclar a gente que aqui chegava", disse em uma entrevista.
Garrido morreu no dia 26 de junho de 2022 após complicações de uma cirurgia estomacal. O projeto continua.
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