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'Diminui a caça': contra queimadas, indígenas criam Brigadas de Incêndio

Outro problema é o desmatamento ilegal na Terra Indígena, os restos de madeira servem como combustível que, com frequência, geram incêndios. - Pedro Paulo Xerente
Outro problema é o desmatamento ilegal na Terra Indígena, os restos de madeira servem como combustível que, com frequência, geram incêndios. Imagem: Pedro Paulo Xerente

Maria Regina Telles, Monalisa Coelho e Karina Custódio (da Énois)

Colaboração para Ecoa de São Luís (MA) e Palmas (TO)

12/01/2023 06h00

Brigadas de incêndio na Terra Indígena Caru (MA) e na Ilha do Bananal (TO) estão conseguindo evitar queimadas nos estados do Maranhão e de Tocantins. Apesar de 2022 ter sido um ano recorde de queimadas na região da Amazônia Legal, os brigadistas indígenas tem conseguido bons resultados no combate ao fogo.

Capacitada pelo IBAMA, a brigada do Caru atua desde 2018 na TI (Terra Indígena), que é compartilhada pelos povos Guajajara, Awá e Awá-Guajá, no município de Bom Jardim, no Maranhão. Já a brigada da Ilha do Bananal foi criada em 2013.

De acordo com Rosilene Guajajara de Souza, liderança da TI Caru e vice-presidente da Associação Comunitária Irazu, da Aldeia Maçaranduba, de 2015 a 2017, nessa localidade, aconteceram queimadas, em sua maioria criminosas, causadas por madeireiros e caçadores.

Outra TI muito atingida pelos incêndios foi a Arariboia, no Maranhão. "Na época, houve muita mobilização para tentar combater esse grande incêndio e algumas brigadas de outros estados vieram dar esse apoio. Ficamos muito preocupados por conta de parentes que vivem lá, os Awá-Guajá, povo em isolamento voluntário, sem contato nem com nós mesmos indígenas", conta Rosilene Guajajara.

Brigadista indígena na Ilha do Bananal há dez anos, Vantuires Javaé relaciona o aquecimento do clima com o aumento dos incêndios: "A vegetação seca com mais facilidade, por isso os incêndios são maiores."

3 - Acervo Pessoal - Acervo Pessoal
Vantuires Javaé, brigadista indígena na Ilha do Bananal há dez anos
Imagem: Acervo Pessoal

O brigadista explica as consequências do fogo desenfreado para as comunidades Javaé, Karajá e Ãwa: "Queima a vegetação e isso diminui a caça deles, queima a mata ciliar e os rios vão sofrer mais assoreamento".

Além de interferir no modo tradicional de alimentação, Pedro Paulo Xerente, presidente da ABIX Associação dos Brigadistas Xerente, localizada em Tocantins, afirma que as queimadas afetam a saúde dos indígenas.

Os incêndios prejudicam a qualidade do ar e dificultam a respiração, principalmente dos idosos. As casas queimam por consequências dos incêndios. Pedro Paulo Xerente, presidente da ABIX Associação dos Brigadistas Xerente

Ainda segundo Rosilene Guajajara, a Brigada de Incêndio da TI Caru, surgiu em 2016, e é composta por 15 brigadistas indígenas e não indígenas.

É o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) que faz a seleção e capacitação da Brigada. "Eles atuam com prevenção fazendo palestras. Nós andamos fazendo palestras de sensibilização no entorno e produzimos material com fotos, conversando com a população vizinha da TI sobre o fogo. Alguns deles fazem queima de forma errada, eles vão, orientam a forma certa, qual o horário, o risco que ele causa e o grande impacto que nós sofremos com a perda de muitos animais que morrem queimados."

Ranking do fogo

1 - Pedro Paulo Xerente - Pedro Paulo Xerente
A associação de brigadistas xerente (Abix Xerente) combate o fogo nas terras indígenas Xerente e funil desde 2014
Imagem: Pedro Paulo Xerente

O Tocantins ocupou a segunda posição no ranking nacional de desmatamento nos primeiros oito meses de 2022, com relação aos focos de queimadas, ficando atrás somente do Mato Grosso.

Entre as 13 terras indígenas mais desmatadas na Amazônia Legal, três estão no Maranhão. São elas a terra indígena Awá, sexta colocada, seguida por Bacurizinho e Alto Turiaçu, respectivamente em 12º e 13º lugares.

Segundo o Inpe, a Amazônia registrou em agosto de 2022, um recorde histórico de queimadas, 33.116 focos de incêndio. Os números superam 2019, quando houve o chamado "Dia do Fogo", em 10 de agosto. Conforme um estudo publicado pela revista inglesa Nature Ecology & Evolution (2022), "nos últimos anos, a Amazônia brasileira tornou-se altamente vulnerável à grilagem de terras e à especulação, e esses incêndios são o resultado", afirma o estudo.

O que o governos tem a dizer

Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBM/MA), as causas dos incêndios são em sua maioria ação humana, decorrente de desmatamento, limpeza de terreno e preparação para o solo em função do plantio.

No Tocantins, a CBM/TO, conclui que mesmo que não possa dizer em sua totalidade, mais de 99,9% dos incêndios florestais têm causa humana.

Sobre ações específicas no combate ao fogo em áreas quilombolas e indígenas, o CBM/MA se referiu somente a ações de apoio, quando solicitado, justificando que essas áreas são de responsabilidade do Governo Federal, através do IBAMA/Prevfogo e ICMBio

O questionamento sobre quanto foi investido na prevenção, combate e apoio de comunidades atingidas por incêndios, feito ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), à Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão e à Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Tocantins, permaneceu sem resposta. A FUNAI também se manteve em silêncio sobre a proteção dos povos indígenas da Ilha do Bananal (TO) e em relação às medidas determinadas pelo MPF em 2019 para salvaguardar os isolados Ãwa.

*Este conteúdo foi produzido com apoio do programa Jornalismo e Território, da Énois Laboratório de Jornalismo. Para saber mais, acesse www.enoisconteudo.com.br ou siga @enoisconteudo nas redes sociais.