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Com influência mundial, brasileira cria detergente que tirou óleo de praias

Retrato de Leonie Asfora Sarubbo, uma das cientistas mais influentes do mundo.Dentre suas pesquisas, está um biodetergente que ela desenvolveu e que foi usado na remoção dos óleos que vazaram de um navio grego e atingiram as praias do Nordeste, em agosto de 2019 - Ricardo Labastier/UOL
Retrato de Leonie Asfora Sarubbo, uma das cientistas mais influentes do mundo.Dentre suas pesquisas, está um biodetergente que ela desenvolveu e que foi usado na remoção dos óleos que vazaram de um navio grego e atingiram as praias do Nordeste, em agosto de 2019 Imagem: Ricardo Labastier/UOL

Adriana Amâncio

colaboração para Ecoa, do Recife (PE)

12/01/2023 06h00

A cientista pernambucana, Leonie Sarubbo está entre os 2% dos pesquisadores mais influentes do mundo. A façanha foi medida pelo Índice World Scientist and University Rankings 2023 - Ads Cientific Index, que avalia o desempenho e o valor agregado à produção científica.

Na prática, isso quer dizer que a pesquisadora, que atua, há mais de 20 anos, na área de química, é uma das cientistas mais citadas em produções acadêmicas. Só para ter uma ideia, imagine uma seleção com os maiores craques da bola, porém, na área de produção científica. A pernambucana está neste seleto grupo.

Nascida em Boa Viagem, zona sul do Recife, a cientista, desde o início da carreira, transitou por diversos ambientes da engenharia química, da indústria ao meio ambiente.

Nesta última área, desenvolveu uma das suas criações mais relevantes: o biodetergente utilizado na remoção do óleo que atingiu as praias do Nordeste, em 2019.

 Retrato de Leonie Asfora Sarubbo uma das cientistas mais influentes do mundo. Dentre suas pesquisas, está um biodetergente que ela desenvolveu e que foi usado na remoção dos óleos que vazaram de um navio grego e atingiram as praias do Nordeste - Ricardo Labastier/UOL - Ricardo Labastier/UOL
Retrato de Leonie Asfora Sarubbo uma das cientistas mais influentes do mundo. Dentre suas pesquisas, está um biodetergente que ela desenvolveu e que foi usado na remoção dos óleos que vazaram de um navio grego e atingiram as praias do Nordeste
Imagem: Ricardo Labastier/UOL

Um 'detergente' que tira óleo das praias sem afetar a natureza

"Esse produto foi desenvolvido, há seis anos, para atender a um cliente do setor privado, para fazer limpeza de navios. Na emergência do desastre nas praias, ele foi aperfeiçoado para ajudar na limpeza. Mas as etapas de pesquisa básica até a da planta piloto avançaram com recursos do setor privado", explica.

Formado por extratos vegetais e outros compostos naturais, o produto foi utilizado na limpeza de praias como Itapuama, na região Metropolitana do Recife. Um dos atributos da invenção é a capacidade de remover o óleo, sem afetar as espécies que vivem no entorno.

Leonie conta que sempre se identificou com pesquisas em química direcionadas à conservação e restauração ambiental.

Mais tarde, com o derramamento em larga escala que atingiu o Nordeste brasileiro, o produto ganhou notoriedade por ser capaz de sanar um problema que comoveu todo o Brasil.

Leonie Asfora Sarubbo segura sua invenção: o biodetergente que removeu óleo de praias do Nordeste sem afetar o meio ambiente - Ricardo Labastier/UOL - Ricardo Labastier/UOL
Leonie Asfora Sarubbo segura sua invenção: o biodetergente que removeu óleo de praias do Nordeste sem afetar o meio ambiente
Imagem: Ricardo Labastier/UOL

Diante da situação, ela diz que aproveitou a oportunidade para mostrar ao público o poder da ciência de cuidar do meio ambiente.

Para se ter uma ideia, sem investimento público no projeto, os recursos que custearam a ida e o trabalho na praia de Itapuama vieram de pessoas sensibilizadas com a tragédia.

"O resultado nessa praia, que foi uma das atingidas de forma contundente, foi bem proveitoso. Pedras, corais, vegetação foram limpas, sem sofrer dano algum, graças ao poder biodegradável da invenção", diz.

A virada de chave

Retrato de Leonie Asfora Saruboo uma das cientistas mais influentes do mundo.Dentre suas pesquisas, está um biodetergente que ela desenvolveu e que foi usado na remoção dos óleos que vazaram de um navio grego e atingiram as praias do Nordeste, em agosto de 2019 - Ricardo Labastier/UOL - Ricardo Labastier/UOL
Retrato de Leonie Asfora Saruboo uma das cientistas mais influentes do mundo.Dentre suas pesquisas, está um biodetergente que ela desenvolveu e que foi usado na remoção dos óleos que vazaram de um navio grego e atingiram as praias do Nordeste, em agosto de 2019
Imagem: Ricardo Labastier/UOL

Hoje, atuando como professora da Universidade Católica do Recife (Unicap), onde também se graduou, Leoni disse que a virada de chave na sua carreira científica se deu no momento em que recebeu um convite para ser palestrante âncora na Conferência Internacional de Biossurfactantes, na Alemanha, em 2022, ao lado de Ibrahim M Brant, um dos maiores pesquisadores e incentivadores científicos da área química no mundo.

Para a pesquisadora, que desenvolveu gosto pela educação ainda criança sem imaginar que iria tão longe, essa conquista representa muitos avanços.

"Nada foi planejado, mas eu sabia que estava fazendo algo relevante. A pesquisa é minha paixão, foi ela quem me conduziu a esse momento. Não é fácil fazer pesquisa no Brasil, porque pesquisa precisa de investimento, que é algo escasso nessa área", diz a pesquisadora.

Retrato de Leonie Asfora Saruboo uma das cientistas mais influentes do mundo. - Ricardo Labastier/UOL - Ricardo Labastier/UOL
Retrato de Leonie Asfora Saruboo uma das cientistas mais influentes do mundo.
Imagem: Ricardo Labastier/UOL

Para Leonie, no Brasil, a ciência esbarra em diversos desafios. Um deles, é se aproximar do público, romper o ostracismo das academias e estar mais presente no cotidiano das pessoas.

"Eu vivo como se existissem duas Leonies. Uma, a Leozinha, que vai ao salão de beleza falar de amenidades e sorri, e a outra que realiza pesquisa, que tem uma vida acadêmica", diz.

Foi só com a criação do detergente que as pessoas de seu convívio entenderam do que se tratava o trabalho dela - e como ele pode ajudar muitas outras pessoas, animais e ecossistemas. "Na época, muita gente falava: 'Nossa! Você faz algo muito importante'", relembra.

Um instituto voltado à pesquisa e sem fins lucrativos

Para fazer a pesquisa chegar à ponta, Leonie precisou de uma forcinha do destino. Ao se casar com um pesquisador pode realizar o sonho de desenvolver e criar uma organização para estimular a pesquisa científica e contribuir com o desenvolvimento de outros profissionais.

Assim, surgiu o Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), um espaço de pesquisa privado, sem fins lucrativos. Nos laboratórios do Instituto, a primeira versão do biodetergente ganhou vida, há seis anos.

Diversas outras soluções sustentáveis também são desenvolvidas no espaço, que além de Leonie, conta com outros pesquisadores vindos dos espaços acadêmicos.

O instituto, no entanto, só ganhou vida após seu casamento. Como Leonie diz, ela até tinha o sonho de fazer algo assim, mas não tinha espírito empreendedor. O marido, então, ajudou nisso.

"Agora, vejo que quando a pesquisa ganha o mercado, contribui com o crescimento de outras pessoas. Além disso, o processo científico avança até a escala final da cadeia de produção", avalia.

Leonie Asfora Sarubbo criou o Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), um espaço de pesquisa privado, sem fins lucrativos - Ricardo Labastier/UOL - Ricardo Labastier/UOL
Leonie Asfora Sarubbo criou o Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), um espaço de pesquisa privado, sem fins lucrativos
Imagem: Ricardo Labastier/UOL

Esse caminho intenso de pesquisa científica deixou algumas lições para Leonie. Uma delas é de que o foco e a excelência fizeram com que ela superasse algumas adversidades enfrentadas por ser nordestina e mulher. Mas, independente disso, ela sentencia: "Sempre fui muito focada em fazer o meu trabalho com os meus alunos".

Segundo, o Brasil não tem uma cultura de prevenção, portanto, foi necessário os óleos invadirem as praias para que se pensasse em agir rapidamente.

"Foi preciso viver uma situação dramática, uma tragédia para que o nosso trabalho [de pesquisa científica no meio ambiente] fosse reconhecido. Mas fica a mensagem de que é possível fazer pesquisa para além do laboratório e da publicação, exige dedicação, noites de sono, mas é importante desenvolver algo em prol de alguém", conclui.

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